A Polícia Federal apura se integrantes das Forças Especiais do Exército, conhecidos como "kids pretos", utilizaram suas habilidades táticas em ações para incitar uma tentativa de golpe de Estado. Segundo as investigações, o grupo também teria elaborado um plano para assassinar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
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Formados em um dos treinamentos mais rigorosos das Forças Armadas, os "kids pretos" são especialistas em infiltração, operações camufladas e contraterrorismo. Relatórios da PF indicam que membros dessa tropa de elite desempenharam um papel estratégico nos atos antidemocráticos que eclodiram após a derrota de Jair Bolsonaro nas eleições de 2022, servindo como articuladores e facilitadores financeiros para os ataques.
Durante os ataques de 8 de janeiro, câmeras de segurança flagraram manifestantes usando balaclavas e demonstrando desenvoltura nas invasões — características que chamaram a atenção das autoridades por remeterem ao treinamento das Forças Especiais.
Entre as ações executadas, foram relatadas instruções para furar bloqueios da Polícia Militar, utilização de gradis como escadas para acessar o Congresso Nacional e o uso de mangueiras para minimizar os efeitos de bombas de gás. Fragmentos de granadas de gás lacrimogêneo, exclusivas de treinamentos militares, foram encontrados e associados ao grupo.
Quem são os “kids pretos”?
O apelido “kids pretos” surgiu devido ao gorro preto utilizado por essa tropa de elite. O nome também remete a operações históricas conduzidas por militares no Araguaia. Esse seleto grupo é treinado no Curso de Operações Especiais do Exército Brasileiro, que envolve testes extremos, como exposição ao gás lacrimogêneo sem máscara, privação de sono e alimentação e intensas atividades físicas.
Após essa etapa, os militares passam por um treinamento estratégico de cinco meses, que inclui infiltrações simuladas em território hostil. "Fazemos adaptação em todos os ambientes. É uma tropa altamente preparada", explicou o coronel da reserva Roberto Criscuoli, ex-subcomandante do Batalhão de Forças Especiais ao jornal O Globo.
Ligação com os atos golpistas
De acordo com a decisão do ministro Alexandre de Moraes, que autorizou operações contra Bolsonaro e seus aliados, houve reuniões específicas com o objetivo de cooptar militares das Forças Especiais para integrar os atos antidemocráticos. Esses profissionais seriam responsáveis por fornecer suporte tático e operacional aos golpistas.
Mensagens interceptadas pela PF apontam que os “kids pretos” possuem capacidade para treinar e comandar até 1.500 homens em operações de alta complexidade. Ainda segundo as investigações, a presença de militares do grupo nas reuniões de planejamento teria sido crucial para viabilizar as ações.
Investigação
O contingente dos “kids pretos” é estimado em cerca de 550 militares no país, distribuídos principalmente entre o 1º Batalhão de Forças Especiais, em Goiânia, e a 3ª Companhia de Forças Especiais, em Manaus. Apesar do efetivo reduzido, o grupo já atuou em missões internacionais, como no Haiti, e em eventos nacionais de grande porte, como a Copa do Mundo, desempenhando funções de contraterrorismo.
A investigação segue analisando a extensão da participação dos “kids pretos” nos atos de 8 de janeiro e nos planos de atentados contra lideranças políticas. "Os indícios apontam para um nível de organização que exige atenção redobrada, dado o nível de preparo e autonomia dessas tropas", ressaltou Piero Leirner, especialista em inteligência militar ao Globo.