O laudo médico feito na menina de 2 anos que teria sido supostamente estuprada por um casal de vizinhos na cidade de Eldorado do Sul, a cerca de 50 quilômetros de Porto Alegre, não confirmou abuso sexual contra a criança. O caso provocou uma noite de terror e revolta no bairro da Invasão do Delta, na madrugada de quarta-feira, quando ocorreram tentativas de linchamento, saques e incêndio na residência dos suspeitos.
“Como o laudo médico deu negativo o casal acabou não sendo autuado em flagrante. Esse fato terá que ser apurado mediante um inquérito policial para que possamos coletar novos indícios visando o esclarecimento do fato”, afirmou o delegado Alencar Carraro, responsável pelas investigações.
A criança é filha de traficantes, sendo que o pai é considerado um dos líderes da venda de drogas na região, responde inclusive por três homicídios, mas está preso. Segundo a polícia, a confusão começou depois que testemunhas relataram o suposto estupro da criança depois que ela voltou da casa dos vizinhos. Ela estava molhada, como se tivesse tomado banho, e o que foi dito por ela foi entendido como um relato de abuso sexual.
Isso provocou a onda de violência no bairro. Populares e comparsas do pai da criança tentaram linchar o casal de vizinhos, que escapou por pouco. A casa foi incendiada e saqueada. Pelo menos outras três pessoas ficaram feridas na confusão. O Batalhão de Operações Especiais (BOE) da Brigada Militar (PM local) teve que ser acionado para conter a revolta popular.
Em virtude das agressões, o casal de suspeitos só pode comparecer à polícia no final da manhã de ontem. Em depoimento, eles negaram os abusos, disseram que vendem sacolés e esse teria sido o motivo que levou a criança a ir à sua casa. “Eles disseram que não aconteceu nada, ela disse que vendia sacolés, que conhece a família, e que não entendeu bem a situação”, conta o delegado. A suspeita possui passagens e prisões por envolvimento com tráfico de drogas.
A polícia abriu ainda outros dois inquéritos para investigar agressões a vizinhos realizadas por “justiceiros”, e para identificar e indiciar os autores do furto e da depredação na casa dos suspeitos.
Por motivos de segurança, a polícia recomendou que os dois não voltem para a casa para evitar novas tentativas de linchamento.