O Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados do Rio Grande do Sul (Sindlat) divulgou nesta quinta-feira nota apoiando as investigações do Ministério Público do Estado e do Ministério da Agricultura para coibir fraudes. A entidade condenou a adulteração de leite, prática criminosa atribuída às empresas Pavlat e Hollmann, cujos donos foram presos nesta manhã, durante a quinta fase da Operação Leite Compen$ado. As duas companhias são associadas ao sindicato.
"O Sindilat condena, com veemência, todo e qualquer tipo de desvio de qualidade no processo de elaboração de alimentos lácteos colocados à disposição dos consumidores. O sindicato apoia investigações criteriosas de órgãos públicos envolvidos na questão, como Ministério Público e Ministério da Agricultura, que buscam coibir fraudes. E, evidentemente, confia nas decisões da Justiça", informou a nota.
Segundo o Ministério Público do Estado (MPE), conversas telefônicas interceptadas com autorização judicial provam que os responsáveis da Pavlat e da Hollmann sabiam que os produtos colocados à venda estavam fora dos padrões sanitários, com problemas decorrentes do manuseio ruim e das más condições de transporte e fabricação. Além disso, os funcionários eram orientados por superiores a adulterar o leite adquirido de produtores rurais gaúchos. Segundo o MPE, os dois empresários e o executivo da Hollmann presos ordenavam a subordinados que corrigissem a acidez do leite cru prestes a estragar, adicionando diversos produtos, como soda cáustica, bicarbonato de sódio, água oxigenada e citrato, entre outros.
Amostras do produto inspecionado apontam a presença de água e de leite azedo. O volume das substâncias citadas comprado pelas duas empresas também chamou a atenção dos promotores.
Em entrevista à Agência Brasil, o promotor Alcindo Luz Bastos da Silva Filho, da Vara Especializada de Defesa do Consumidor, destacou que a ação criminosa de poucas empresas prejudica toda a cadeia produtora de leite do estado, composta por cerca de 120 mil produtores de leite e 200 indústrias de laticínios. Para ele, as maiores fábricas gaúchas têm papel importante no combate às fraudes. "O leite cru não pode ser comercializado. Portanto, se essas indústrias adotarem todas as medidas para impedir esse tipo de prática, de nada vai adiantar o leite ser adulterado durante as fases de produção, transporte ou resfriamento", declarou.
O próprio Sindlat reconhece a necessidade de aperfeiçoamentos nos sistemas de controle de toda a cadeia produtiva. Recentemente, a entidade apresentou ao Ministério da Agricultura uma proposta para adequar a legislação, aprimorar a sistemática de análise da matéria-prima e garantir um melhor produto. "Alguns pontos que aprimorarão muito os processos de qualidade são a coleta de leite cru com contraprova, revisão dos padrões de ESD (Extrato Seco Desengordurado), revisão de metodologias oficiais para maior equivalência entre resultados de laboratórios oficiais e credenciados, validação dos kits rápidos para análises de resíduos de antibióticos e a possibilidade de descredenciamento de produtores e transportadores que comprovadamente promoverem fraude", defende a entidade.
Essa quinta fase da Operação Leite Compen$ado foi deflagrada simultaneamente em dez cidades do Vale do Taquari e do Vale do Sinos. Além de Paverama, sede da Pavlat, e de Imigrante, onde está sediada a Hollmann, mandados de busca e apreensão e de prisão estão sendo cumpridos em Teutônia, Arroio do Meio, Encantado, Venâncio Aires, Marques de Souza, Travesseiro, Novo Hamburgo e Cruzeiro do Sul. Hoje, o promotor Alcindo Luz Bastos da Silva Filho informou que só a Pavlat e a Hollmann comercializaram cerca de um milhão de litros de leite adulterado ou fora dos padrões sanitários desde janeiro de 2013, quando começaram as investigações que culminaram na deflagração, nesta quinta-feira, da quinta fase da Operação Leite Compen$ado.
A primeira fase da operação foi ocorreu há exatamente um ano, em 8 de maio de 2013. Na ocasião, o Sindlat e o Conselho Paritário Produtores/Indústria do Leite (Conseleite-RS) informaram confiar no trabalho dos orgãos federais e estaduais responsáveis por "enquadrar os poucos que causaram prejuízos reais e de imagem aos muitos que labutam nessa atividade, uma das que hoje mais bem remuneram e fixam o homem no campo". As duas entidades também destacaram que a indústria gaúcha é rigorosa na avaliação da matéria-prima recebida, que é submetida a 22 tipos de testes, inclusive o realizado para detectar a adição externa de ureia no leite e que o volume de leite adulterado era ínfimo se comparado ao total produzido pelo setor.
A Agência Brasil tentou ouvir os representantes da Hollmann, mas não conseguiu contato. A assessoria da Pavlat informou que divulgará uma nota sobre o assunto, mas não tinha enviado nenhuma resposta até o momento.