Presos que sobreviveram ao evento mais sangrento de 2013 no complexo penitenciário de Pedrinhas, em São Luís, acusaram uma unidade das forças de segurança do Maranhão de ter promovido um massacre no presídio.
No dia 9 de outubro, o Grupo de Escolta e Operações Penitenciárias (Geop), unidade de elite subordinada à Secretaria de Justiça e da Administração Penitenciária maranhense, entrou na Casa de Detenção de Pedrinhas para conter um motim, iniciado após a descoberta de um túnel. Ao fim da intervenção, dez presos estavam mortos, um sexto de todos os 60 óbitos registrados em Pedrinhas em 2013.
Em depoimentos após a rebelião para a Defensoria Pública estadual e organizações que monitoram o sistema carcerário local, presos relataram que os agentes do Geop "entraram para matar" e atiraram até no detento escolhido para representá-los numa negociação, provocando sua morte.
Já o governo maranhense disse à BBC Brasil que as mortes ocorreram "durante uma briga entre facções" e que relatos de abusos "estão sendo investigados".
'Operação Carandiru'
Com base nos depoimentos colhidos, a Defensoria maranhense e outras sete entidades assinaram em 2 de dezembro um documento em que cobram o governo do Estado a esclarecer as mortes. Elas dizem, contudo, que jamais receberam qualquer resposta.
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No documento, os presos relatam que, antes de entrar no presídio no dia da rebelião, os agentes avisaram aos gritos que executariam a "Operação Carandiru", em referência à invasão policial na antiga Casa de Detenção de São Paulo, em 1992, quando 111 detentos foram mortos.
Momentos antes da invasão, os presos contam que selecionaram um representante "neutro" para negociar com a Geop: Idenilson Gaspar Viegas da Silva, conhecido na prisão como "irmão Idenilson". Ele teria sido escolhido por ser evangélico e não integrar qualquer facção criminosa.
Segundo os relatos, o detento foi incumbido de levar um celular até os agentes para que pudessem dialogar com os amotinados. No entanto, de acordo com os depoimentos, "quando o referido senhor se dirigia aos agentes, foi atingido mortalmente por integrantes do Geop".
Os detentos afirmaram ainda que os agentes se posicionaram nas guaritas em volta do presídio, de onde os alvejavam a distância. Além de Idenilson, que tinha 35 anos, morreram naquele dia outros nove presos: Carlos Eduardo Oliveira, 23, Cosme Damião Sousa, 53, Daniel Fonseca Rodrigues, 23, Dorgival Nogueira Alves, 38, Fábio Silva Lima, 30, Natanael de Sousa do Espírito Santo, 30, Ubiraci Pereira Aranha, 22, Uvanir Duarte de Farias, 64, e Gilson de Jesus Pinheiro, 24.
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Os relatos não detalham, porém, quais deles teriam sido mortos pelos agentes.
Na visita após a rebelião, a Defensoria encontrou "vários detentos convalescendo de ferimentos de armas de fogo - baleados, barriga aberta, perna quebrada, tiro no olho". Segundo os relatos, os feridos eram mais de 30, que, sem assistência médica e remédios, foram deixados na quadra "sob o sol escaldante".
À época, forças maranhenses disseram ter achado duas armas de fogo entre os presos durante a rebelião.
Pedido de socorro
A BBC Brasil localizou a família de Dorgival Nogueira Alves, um dos presos que morreram no motim. Jéssica Tavares Alves, de 18 anos, diz que seu pai foi morto com um único tiro na cabeça. Segundo ela, entre os presos, conta-se que Alves corria para apagar um incêndio quando foi atingido por um agente.
Caído, ele ainda teria clamado por socorro. "Ele disse pro colega dele: 'me ajuda, eu não posso morrer, que eu tenho cinco filhos pra criar'", diz a filha. Não houve tempo para atendê-lo. "Depois tiraram o corpo dele para os presos não pisarem na correria e puseram no meio dos outros mortos."
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Os parentes de Alves cobram uma punição para o agente que o teria alvejado. Lúcia Maria Correia Tavares, ex-companheira de Alves e mãe de quatro dos cinco filhos dele, espera ainda que a família seja indenizada pela morte. "Ninguém vai ser feliz com nenhum dinheiro e isso não vai trazer ele de volta, mas é uma obrigação mínima do Estado".
O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil no Maranhão, Mário Macieira, diz que as 171 mortes ocorridas em Pedrinhas desde 2008, sobretudo as ocorridas em rebeliões, nunca foram elucidadas, e que nenhum inquérito jamais chegou ao fim. Além de investigar as mortes, a OAB pressiona o Estado a apurar denúncias de tortura em Pedrinhas.
Macieira diz que a Ordem considera apoiar uma petição que as ONGs Conectas, Justiça Global e Sociedade Maranhense de Direitos Humanos fizeram à Procuradoria Geral da República para federalizar a investigação dos crimes no complexo penitenciário.
Onda de violência gera mortes dentro e fora de presídio no MA
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3 de janeiro - Cinco pessoas foram vítimas de tentativa de homicídio e o sargento reformado da PM Antônio César Serejo, morto, durante onde de ataques ordenadas por detentos do Presídio de Pedrinhas, em São Luís
Foto: Clodoaldo Corrêa
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3 de janeiro - Na mesma noite, quatro coletivos foram incendiados. Uma menina de 6 anos acabou morrendo em decorrência das queimaduras. Sua mãe e sua irmã, de 1 ano, também ficaram feridas, além de um homem. O bisavô da vítima fatal morreu de infarto ao saber do atentado
Foto: Clodoaldo Corrêa
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9 de janeiro - A ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, participa de reunião extraordinária do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, para debater a situação no Complexo Penitenciário de Pedrinhas, e as violações dos direitos humanos cometidas contra presos
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom
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9 de janeiro - Pedrinhas foi um dos alvos de investigação da CPI do Sistema Carcerário, em 2008, quando foi listado entre os 10 piores presídios do País
Foto: Clayton Montelles / Governo do Maranhão
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9 de janeiro - Após reunião com a cúpula da Segurança do Maranhão e com a governadora Roseana Sarney, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, anunciou medidas conjuntas para o enfrentamento ao crime e a melhoria do sistema penitenciário do Estado
Foto: Geraldo Furtado / Governo do Maranhão
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10 de janeiro - Muitas faixas contra a governadora Roseana Sarney (PMDB) foram pintadas pelos manifestantes
Foto: Clodoaldo Corrêa
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10 de janeiro - No começo, apenas um pequeno grupo pintava os cartazes e fazia barulho em cima de um carro de som
Foto: Clodoaldo Corrêa
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10 de janeiro - Desde as 16h, um pequeno grupo começou a organizar a manifestação em frente à biblioteca pública Benedito Leite
Foto: Clodoaldo Corrêa
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10 de janeiro - Uma forte barreira policial conteve a manifestação e como é de praxe durante manifestações, todas as entradas da praça foram cercadas com gradeado e os manifestantes não conseguiram se aproximar da frente do palácio
Foto: Clodoaldo Corrêa
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10 de janeiro - O movimento saiu da praça Deodoro, no centro da cidade, até a praça Dom Pedro II, onde fica o Palácio dos Leões, sede do poder Executivo estadual
Foto: Clodoaldo Corrêa
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10 de janeiro - Cerca de 500 pessoas foram às ruas da capital maranhense nesta sexta-feira para cobrar do poder público melhoria no sistema de segurança e na prestação de serviços
Foto: Clodoaldo Corrêa
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5 de janeiro - Dez pessoas foram presas até a tarde do domingo suspeitas de envolvimento com os ataques a coletivos e delegacias na cidade de São Luís
Foto: Clodoaldo Corrêa
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4 de janeiro - Viatura baleada em delegacia que foi alvo de atentado
Foto: Clodoaldo Corrêa
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15 de janeiro - Governadora Roseana Sarney recebe apoio logístico da secretária responsável pela administração penitenciária do Paraná
Foto: Janaína Garcia
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16 de janeiro - Segundo funcionários do presídio, a rebelião estaria ocorrendo Centro de Custódia de Presos de Justiça (CCPJ), uma das oito unidades prisionais do complexo
Foto: Janaina Garcia
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16 de janeiro - Do lado de fora de Pedrinhas, as mulheres de dois detentos afirmaram ao Terra que ouviram, por volta das 13h30, barulhos de tiros e bombas
Foto: Janaina Garcia
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16 de janeiro - Agentes da Força Nacional e homens da Tropa de Choque da PM do Maranhão entraram pouco antes das 14h desta quinta-feira em uma das unidades do Complexo Penitenciário de Pedrinhas para conter um princípio de rebelião
Foto: Janaina Garcia
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16 de janeiro - Para o pai de Ana Clara, a filha não será a última vítima da violência no Estado
Foto: Janaina Garcia
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16 de janeiro - Grupo protestou contra a escalada da violência em todo o Maranhão
Foto: Janaina Garcia
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16 de janeiro - O filho de Josaíldes foi baleado e morto em uma escola da Grande São Luís
Foto: Janaina Garcia
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17 de janeiro - A secretária de Administração Penitenciária do Paraná, Maria Tereza Uille Gomes, fala na sede do governo do Maranhão, em São Luís, sobre um software que o governo paranaense cedeu ao Estado para gerenciar a situação dos presos maranhenses
Foto: Janaina Garcia
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17 de janeiro - Sebastião Uchôa conversou com o Terra nesta sexta-feira
Foto: Janaina Garcia
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17 de janeiro - "Não é resto de comida, não: é comida que os presos não querem", faz questão de observar dona Geni
Foto: Janaina Garcia
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20 de janeiro - Comboio de viaturas para transferência de presos do Complexo Penitenciário de Pedrinhas
Foto: Handson Chagas / Sejap
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20 de janeiro - Identidade, quantidade e destino de presos transferidos não foram confirmados pelo governo do Maranhão por "questão de segurança"
Foto: Handson Chagas / Sejap
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20 de janeiro - Nesta segunda, o Maranhão iniciou a transferência de presos de Pedrinhas para presídios federais de segurança máxima
Foto: Handson Chagas / Sejap
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