Em depoimento nesta quarta-feira na Audiência de Instrução e Julgamento do caso Amarildo, o major Edson Raimundo dos Santos, que era comandante da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Rocinha na época do desaparecimento do ajudante de pedreiro, manteve a versão de que apenas verificou a documentação dele no dia 14 de julho do ano passado e o dispensou, por não ter nenhum registro ou mandado contra ele.
O major é o primeiro réu no processo a prestar depoimento diante da juíza Daniella Alvarez, da 35ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJ-RJ). Ele disse que Amarildo compareceu à UPP naquela noite, levado pelo soldado Douglas Roberto Vital Machado, e em seguida o ajudante de pedreiro teria se encaminhado para a escadaria que tem próximo à base da UPP.
"Lembro de ter recebido das mãos do Amarildo uma carteira de trabalho e vários contracheques, era um calhamaço de papel, o que não é comum, normalmente as pessoas só entregam a identidade. Falei com ele, chequei os documentos com a lista de mandatos que eu tinha, disse para o Vital liberar porque não tinha nada contra ele. Vi o Amarildo pegando o caminho e indo na direção do muro que vai dar na escada que desce para a Adioneia. Não dá para ver se ele desceu a escada, porque o local é escuro. Ele estava de bermuda, chinelo e sem camisa".
Santos disse que não conhecia Amarildo, mas havia tido contato anterior ao caso com a esposa dele, Elisabete Gomes da Silva, e quatro filhos dele. Segundo o major, Elisabete passava informações sobre traficantes para a polícia e também pegava doações de comida na UPP.
No interrogatório, que começou por volta de 16h e não havia terminado até as 19h30, Santos disse como chegou ao comando da UPP da Rocinha, falou do mapeamento que fez na comunidade e os preparativos e ações da Operação Paz Armada, que estava em andamento na semana do desaparecimento de Amarildo de Souza. Também disse que não teve um bom relacionamento com o delegado Rivaldo Barbosa, diretor da Divisão Homicídios, que comandou o processo no início.
"Nós pegamos a filmagem da câmera da Adioneia e entreguei para o doutor Rivaldo, mas ele não deu atenção e depois me perguntou sobre a filmagem. Passei outras informações para o doutor Rivaldo, mas ele não deu importância, então eu não tinha mais confiança de mandar ninguém que tinha uma informação nova para a delegacia."
O major disse também que repassou para Barbosa as filmagens das 80 câmeras da Rocinha no período solicitado. Também hoje foram ouvidas as três últimas testemunhas de defesa: um técnico que fez o concerto das câmeras que haviam parado de funcionar no dia 14 de manhã, dia do desaparecimento, um domingo, motivo pelo qual o concerto não teria ocorrido imediatamente, e duas pessoas que tiveram contato profissional com Douglas Roberto Vital Machado antes dele entrar para a Polícia Militar.
Na última quarta-feira, depuseram 13 testemunhas de defesa. Ainda faltam ser interrogados os 24 acusados no processo, além do major Edson Santos. Eles são acusados de tortura, ocultação de cadáver, formação de quadrilha e fraude processual, além de participação por não impedir a ação.