Médico condenado por feminicídio é preso após denúncias de abuso sexual em hospital de Goiânia

Ao menos duas pacientes já denunciaram médico, que foi preso nesta sexta-feira, 14

14 mar 2025 - 17h58
(atualizado às 17h58)
Resumo
O médico Alfredo Carlos Dias Mattos Junior, acusado de abusos sexuais e com histórico de feminicídio, foi preso em Goiânia (GO) após denúncia de pacientes.
Justiça determina que médico regresse ao regime fechado após denúncias de abuso sexual por parte de pacientes
Justiça determina que médico regresse ao regime fechado após denúncias de abuso sexual por parte de pacientes
Foto: Reprodução

O médico Alfredo Carlos Dias Mattos Junior, de 55 anos, foi preso na manhã desta sexta-feira, 14, em Goiânia (GO). Ele havia sido denunciado por pelo menos duas pacientes por abuso sexual cometido dentro de um hospital da capital.

O profissional de saúde, que já utilizava tornozeleira eletrônica devido às acusações, cumpria pena em regime aberto pelo feminicídio da própria esposa. Agora, a Justiça determinou o retorno dele ao regime fechado.

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Conforme apurado pelo Terra, a prisão foi decretada na quinta-feira, 13, e cumprida nesta manhã pela equipe de inteligência do Ministério Público de Goiás (MP-GO), com apoio da Polícia Militar.

Justiça determina que médico regresse ao regime fechado após denúncias de abuso sexual por parte de pacientes
Foto: Reprodução

Denúncias de abuso sexual

Ao menos duas pacientes relataram terem sido vítimas de abuso sexual praticado por Alfredo Carlos durante atendimentos médicos. Uma delas contou que, em abril de 2022, estava internada no Hospital Ruy Azeredo, acompanhada da irmã, após passar por uma cirurgia de emergência para retirada do apêndice.

Por volta das 11h, quando a irmã havia saído para ir ao banheiro, o médico, responsável pela cirurgia, entrou no quarto onde ela se recuperava. Segundo o depoimento da paciente, ele realizou um exame com toque vaginal sem explicação prévia e, logo em seguida, deixou o local.

Cerca de 45 dias depois, durante o retorno de acompanhamento, a paciente questionou o médico sobre a necessidade do exame íntimo. Alfredo alegou que o procedimento seria para verificar possíveis sangramentos decorrentes da cirurgia. No entanto, a mulher afirma que só percebeu o caráter inadequado do ato após assistir a uma reportagem da TV Anhanguera, afiliada da Globo, que denunciava casos semelhantes envolvendo o mesmo profissional.

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Justiça determina que médico regresse ao regime fechado após denúncias de abuso sexual por parte de pacientes
Foto: Reprodução

A paciente, que atualmente trabalha em uma clínica de endoscopia, relatou ainda que outros profissionais da área esclareceram que não existe nenhum procedimento técnico que justifique o exame realizado por Alfredo naquele contexto.

Caso envolvendo uma adolescente

Outra denúncia foi registrada por uma adolescente de 17 anos, que procurou atendimento com o médico em março de 2023, no Hospital Ruy Azeredo. A jovem, acompanhada pela mãe, havia agendado consulta na especialidade de cirurgia gástrica devido a dores estomacais. Alfredo era o único médico disponível no plano de saúde da paciente naquele momento.

Após a consulta, o médico solicitou exames de endoscopia e ultrassom endovaginal. No dia 6 de abril, também acompanhada pela mãe, a adolescente retornou com os resultados. Segundo ela, Alfredo afirmou que a endoscopia estava normal, mas que a ultrassonografia mostrava uma “anteversão do útero”, o que, segundo ele, explicaria as dores. Ele sugeriu um procedimento imediato no consultório para “reposicionar” o útero.

Ainda de acordo com o depoimento, o médico pediu que a adolescente retirasse a blusa, abaixasse a calça e se deitasse na maca, colocando-a em posição ginecológica. O MP-GO relatou que Alfredo primeiro alegou que ensinaria a jovem a realizar o autoexame das mamas e acariciou seus seios. Em seguida, colocou uma luva e introduziu os dedos na vagina da paciente, manipulando o órgão genital por cerca de um minuto e meio, sob a justificativa de estar “colocando o útero no lugar”.

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A adolescente relatou sentir dor durante o procedimento, momento em que a mãe pediu que o médico parasse. Alfredo então retirou os dedos e afirmou que havia terminado a suposta manobra. Ele chegou a sugerir que poderia realizar o mesmo procedimento na mãe da paciente, o que foi recusado. Além disso, o médico teria feito comentários sobre práticas de masturbação, causando constrangimento às duas.

Após o ocorrido, a adolescente consultou um ginecologista, que afirmou que o procedimento realizado não tem respaldo médico. Diante dessa orientação, mãe e filha registraram um boletim de ocorrência.

Procurado pelo Terra, o Hospital Ruy Azeredo informou que Alfredo Carlos Dias Mattos Junior não integra mais o corpo clínico da unidade. De acordo com a instituição, o profissional não possui qualquer vínculo com o hospital desde 18 de fevereiro de 2025.

Condenação por feminicídio

Alfredo Carlos Dias Mattos Junior foi condenado, em 2011, a 14 anos de prisão pelo assassinato de sua ex-esposa, Magda Maria Braga de Mattos. O crime ocorreu em 1999, em um hospital de Nova Lima (MG), durante o processo de divórcio do casal.

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Segundo as investigações, Alfredo, inconformado com a possibilidade de Magda estar se relacionando com outro homem, dopou a mãe dela com um suco e, em seguida, adicionou álcool ao soro que Magda recebia. A substância interagiu com os medicamentos administrados à paciente, levando-a à morte.

Defesa do médico

Em nota, o advogado Roberto Serra da Silva Maia, que representa o médico, afirmou que a “decisão que determinou a regressão cautelar de Alfredo Carlos Dias Mattos Junior ao regime fechado configura uma grave afronta aos princípios fundamentais do Direito Penal e da Execução Penal. A medida, adotada de forma precipitada e desproporcional, ignora a presunção de inocência e impõe uma punição antecipada, sem que haja condenação definitiva pelo novo fato que lhe foi imputado”.

Segundo o advogado, Alfredo cumpria quase 80% da pena de forma regular por um fato ocorrido em 1999, encontrando-se atualmente no regime aberto e teve sua prisão decretada “apenas com base em uma denúncia recente ainda em fase inicial, sem que tenha sido oportunizado o devido contraditório e a ampla defesa antes da regressão de regime. Tal decisão viola o princípio da proporcionalidade e desconsidera o entendimento consolidado dos tribunais superiores, segundo o qual a regressão cautelar deve ser utilizada com extrema cautela, sob pena de se converter em uma sanção antecipada, o que é vedado pelo ordenamento jurídico.”

A defesa afirma ainda que adotará todas as providências cabíveis para reverter essa decisão.

Fonte: Redação Terra
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