Um homem se identificando como representante dos detentos do Presídio Ferrugem, em Sinop (MT), que assumiram a autoria dos incêndios a seis ônibus coletivos na noite de domingo em represália ao sistema de revista na unidade prisional, ligou para a TV Capital, afiliada da Rede Record, na cidade, e ameaçou ao vivo, durante o programa Cidade Alerta, viabilizar outros atentados se o sistema de revista não mudar em 24 horas. Ele afirmou que vão incendiar outros ônibus e alertou ainda que podem ocorrer mortes.
Desde 31 de julho, estão proibidas as revistas nos presídios de Mato Grosso, mas a direção do Ferrugem estabeleceu outra regra: já que os visitantes não devem ser revistados, quem está passando por isso, na saída da cela para se encontrar com familiares, e na volta, são os detentos.
O repórter do Cidade Alerta, Geovane Barros da Silva, disse que o rapaz informou sobre as novas ameaças por volta do meio-dia, “como se estivesse participando de um programa de auditório, com a voz tranquila, durante uns 20 minutos no ar”.
Os detentos soltaram um manifesto denunciando que são mal tratados no presídio e que, por isso, se tiverem que matar para serem ouvidos em suas reivindicações, os agentes prisionais e os familiares deles serão os alvos preferenciais. “Seremos implacáveis”, diz trecho do manifesto.
Em outro trecho do manifesto, pedem a presença de um representante dos Direitos Humanos para intermediar as negociações. “Nós só queremos nossos direitos e nada mais.”
O sociólogo Inácio Werner, da coordenação do Fórum de Direitos Humanos e da Terra Mato Grosso (FDHT-MT), disse que estão se informando sobre o assunto e nessa terça-feira haverá reunião do Conselho Estadual de Direitos Humanos. “O assunto deve estar em pauta. Vamos verificar o que podemos fazer".
Diante das ameaças, a Sejudh decidiu definir, como tentativa de apaziguar os ânimos, dia certo e locais separados para visitas familiares e encontros íntimos. Em nota pública, a Secretaria informa que a decisão foi implementada com o conhecimento dos representantes do Poder Judiciário e Ministério Público, para “garantir dignidade aos visitantes dos recuperandos”. A nota diz ainda que “a medida também evita a exposição e acesso de crianças e outras pessoas vulneráveis ao local destinado exclusivamente para a visita íntima”.
Ainda diante dos fatos, a direção da unidade informou que entre domingo e segunda-feira houve resistência por parte dos recuperandos no interior do presídio e por isso foi necessário acionar as Polícias Civil, Militar e Federal, para a realização de uma revista geral “com intuito de apontar indícios de comprovação dos delitos”. A nota pública esclarece que “na operação foram encontrados diversos aparelhos telefônicos móveis, já devidamente entregues às forças policiais, que dão prosseguimento às investigações”.
A Sejudh explica que a revista vexatória é proibida, mas isso não quer dizer facilitar a entrada de produtos proibidos como roupas, porque no Ferrugem os internos usam uniforme. Eles também não podem, por exemplo, receber mais de 10 quilos em alimentos ou ter mais de uma TV por cela.
O superintendente de cadeiras da Sejudh, Altair Camilo, foi ontem para Sinop, tentar fazer a interlocução com os presos, para evitar novos incêndios a ônibus e as possíveis mortes anunciadas.