O carvoeiro Claudinei Rosa, de 25 anos, matou a mulher, Graziele Raiane da Silva Bezerra, 20, em uma sessão de espancamento, na quarta-feira à noite, e fugiu de bicicleta. Violência doméstica, parecida com a que terminou em morte, era comum na casa do casal, no bairro Nova Fronteira, periferia de Várzea Grande (MT).
Os familiares desconfiavam dos hematomas e vizinhos ouviam, com frequência, o barulho dos golpes. A mulher nunca havia registrado boletim de ocorrência contra o agressor, que ainda está foragido.
De acordo com o laudo da necropsia, Graziele morreu principalmente devido a pancadas mais fortes na cabeça e no fígado, o que causou, em termos técnicos, “laceração hepática”. Além das lesões atuais, os peritos encontraram também marcas antigas pelo corpo da moça.
Uma testemunha ocular do crime, L.M..O, 25 anos, que prestou depoimento nesta quinta-feira na Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Cuiabá, contou que minutos antes do assassinato, a janela e a porta da casa do casal estavam abertas e ele viu o marido “encurralando a mulher contra a parede e a agredindo com socos”. Ela afirma que não chamou a polícia porque eram comuns cenas assim entre eles.
O primo do marido da vítima, de 37 anos, que morava com o casal, confirmou as frequentes agressões. “Quando um ferimento estava cicatrizando, ele a agredia novamente e abria outro”.
O crime
Por volta das 23h dessa quarta-feira, quando o primo, que é pedreiro, chegou em casa de volta do trabalho, encontrou o corpo da moça na cama, envolto em um lençol, amarrado com alguns nós. Conforme investigações policiais, Claudinei pediu que ele o ajudasse a jogar o corpo da mulher em um matagal próximo. À polícia, o pedreiro contou que não aceitou fazer isso e então Claudinei pegou a bicicleta dele e fugiu.
Ele seguiu até a casa da irmã, C.R.S, de 30 anos: “ele batia demais na mulher mesmo”, disse ela. A irmã do agressor contou que Graziele “atormentava” o marido e ele, que é muito violento, reagia com brutalidade. Isso era uma rotina: “ele já tentou colocar fogo em Graziele e a agredia de diversas maneiras”. Ela disse ainda que a vítima já tinha sido mais de uma vez hospitalizada.
Claudinei chegou de bicicleta na casa da irmã, com a calça rasgada, pedindo R$ 20 para ir à casa da mãe. “Dei uma outra calça a ele, mas não o dinheiro porque ele estava muito alterado. Paguei um mototaxi, com medo dele voltar para a casa e agredir mais a mulher. Ele estava muito agitado e estranho, mas jamais imaginei que já tinha matado a Graziele”. A irmã contou que enquanto ele vestia a calça, repetia: “por que eu fiz isso? Por que eu fiz isso?”.
A mãe de Claudinei não deixou que ele entrasse em casa. Alegou para a filha que fez isso porque não aguenta mais ver o filho “aprontando”. O rapaz usa drogas desde a adolescência, assim como o primo dele e a vítima.
Violência doméstica
A delegada Anaíde Barros, da DHPP, que conduz o inquérito do assassinato, diz que as histórias assim se repetem e que agora resta à Polícia fazer investigações para tentar encontrar o agressor. “Já pedimos a prisão dele”, assegura a delegada. Na opinião dela, ele será rapidamente encontrado, porque estava de bicicleta e sem dinheiro.
Para a presidente do Conselho Estadual dos Direitos da Mulher de Mato Grosso, Rosana Barros, que também é defensora pública em Cuiabá, é preciso fazer uma campanha pelo registro de boletim de ocorrência nesses casos. “Geralmente mulheres que morrem nessas condições, dentro de casa, nunca procuraram as autoridades públicas para denunciar o agressor”.
Muitas mulheres, conforme a defensora, têm esperança que o marido, o namorado, o pai ou o irmão ou qualquer outro agressor mude de comportamento, por isso não denunciam.
“As que denunciam têm medida protetiva, conforme estabelece a Lei Maria da Penha, e uma delas é a manutenção de distância”, explica.
No caso da mulher não ter coragem de denunciar, qualquer pessoa que seja próxima pode fazer isso em uma delegacia especializada ou em qualquer outra delegacia. No entanto, é importante a vítima se conscientizar do perigo que corre, caso contrário pode recuar.
A defensora diz ainda que álcool e drogas não são a causa das agressões e sim potencializam a violência. A causa das agressões, segundo ela, é a educação machista, que perpetua em casa, nas escolas e outros lugares.
“Precisamos mudar nossa cultura machista ou o homem vai continuar achando que é dono da mulher, que a mulher é um ser humano de segunda categoria, que ela tem que ser relegada a segundo plano”, diz Rosana Barros.