MT: vídeo mostra ex-secretário revelando esquema de propina

12 jan 2015 - 15h49
(atualizado às 17h43)

O ex-secretário da Fazenda em Mato Grosso, Éder Moraes, citado como pivô da Operação Ararath, revelou em depoimento ao Ministério Público Estadual que, por determinação do ex-governador Silval Barbosa (PMDB), pagou R$ 2 milhões de propina ao então deputado estadual Adalto de Freitas, Daltinho (SD), para que ele aprovasse as contas do Estado em sessão na Assembleia Legislativa.

Na ocasião, de fato o parlamentar, que era peemedebista, aprovou as contas, com 14 ressalvas e cinco recomendações, mas nega ter sido “comprado”.

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Através da Operação Ararath, a Polícia Federal (PF) apura crimes contra o sistema financeiro, lavagem de dinheiro e outros esquemas que lesam o erário. As investigações já levaram à abertura de diversas ações pelo Ministério Público Estadual e Federal, na Justiça Federal e também no Supremo Tribunal Federal (STF), já que o caso envolve políticos com foro privilegiado.

<p>Éder Moraes foi secretário de Estado de Fazenda de MT e é apontado como pivô do esquema desbaratado pela Operação Ararath</p>
Éder Moraes foi secretário de Estado de Fazenda de MT e é apontado como pivô do esquema desbaratado pela Operação Ararath
Foto: Ednilson Aguiar / Secom-MT

Éder Moraes prestou este depoimento gravado em audiovisual pelo próprio Ministério Público em uma dessas ações, conduzida pelo promotor Roberto Aparecido Turin, do Núcleo de Patrimônio e Improbidade administrativa do MPE.

Segundo Turin, esta ação civil pública se refere ao envolvimento da Encomind no esquema. A empresa, que está entre as grandes empreiteiras de Mato Grosso, seria ponte entre o dinheiro emprestado por intermédio de Éder Moraes junto ao BicBanco, sem o aval do Banco Central, repassado, ilegalmente, à classe política mato-grossense, “para resolver problemas”.

“Eles faziam assim. Por exemplo, a Encomind, como outras empresas, tem carta de crédito para receber, mas para isso dependeria da Justiça, coisa demorada, para 10 a 20 anos. O Éder chegava e perguntava: vocês querem receber rápido? Se sim, pago em três dias, mas terão que devolver 50%. Esse dinheiro ia para um caixa, que eles usavam para resolver os tais problemas, entre eles pagar propina a deputados, gastos com campanha eleitoral, essas coisas”, explica o promotor.

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Valor do voto favorável às contas do Estado teria sido 2 milhões, pagos a mando do então governador Silval Barbosa
Foto: Josiane Pettengill / Secom-MT

Turin, que está de férias e falou com o Terra por telefone, informa que o vídeo foi compartilhado com o MPF como prova. O MPF o juntou às ações penais motivadas pela Ararath. “Sim, esse vídeo é prova, registra o que Éder falou, porque ele já teria dito por aí que não falou nada disso, mas disse sim e está gravado”. O promotor não soube informar como ele se tornou público e também não soube precisar a data exata que este depoimento foi prestado. “Colhi vários depoimentos entre dezembro do ano passado e o início de janeiro deste ano. Nessa ação, provocada pela Ararath, o que estamos apurando são crimes de improbidade e danos ao erário estadual. Ao final, vamos pedir ressarcimento de valores e certificar se o Estado pagou a mais para a Encomind, por benefícios que não tinha direito”, declara o promotor.

O Terra tentou tratar do assunto com a Encomind, mas os diretores da empresa estão de férias e só voltam na sexta-feira, conforme informou a secretaria executiva da empresa.

Já o empresário Daltinho, que não foi eleito, mas é suplente de deputado estadual, se vê como bode expiatório de Éder Moraes, para mudar o foco das investigações. “Não é a primeira vez que ele me expõe publicamente na mídia, mas eu já me coloquei à disposição do Ministério Público, eu já me coloquei a disposição da Justiça. Já o Éder Moraes é esse cara desqualificado, processado, com a família toda processada, com histórico de atitudes na vida pessoal e profissional só de confusão, de rolo, e o que o ele está querendo com isso? Mas ele vai ter o remédio dele, porque estamos colocando em juízo para ele provar o que disse”, responde o empresário. “No vale do Araguaia isso está sendo visto como uma piada, porque tenho mais de 50 lojas, 300 funcionários e há mais de 20 anos nunca comprei um parafuso do Estado. Então, não é um malandro desses, desqualificado, que vai conseguir manchar meu nome”.

À imprensa local, Éder Moraes diz ter entrado com uma ação contra o MP, por causa do vazamento de um depoimento que, segundo ele, deveria ser sigiloso, para salvaguardar a integridade dos envolvidos e seus familiares. Disse também que esse depoimento não tem validade porque já foi retratado publicamente e só teria de fato validade se dado à Justiça.

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O ex-governador Silval Barbosa, após repassar o cargo ao governador eleito, Pedro Taques (PDT), saiu de férias com a família para o exterior e ainda não teria voltado.

Fonte: Especial para Terra
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