O ex-secretário da Fazenda em Mato Grosso, Éder Moraes, citado como pivô da Operação Ararath, revelou em depoimento ao Ministério Público Estadual que, por determinação do ex-governador Silval Barbosa (PMDB), pagou R$ 2 milhões de propina ao então deputado estadual Adalto de Freitas, Daltinho (SD), para que ele aprovasse as contas do Estado em sessão na Assembleia Legislativa.
Na ocasião, de fato o parlamentar, que era peemedebista, aprovou as contas, com 14 ressalvas e cinco recomendações, mas nega ter sido “comprado”.
Através da Operação Ararath, a Polícia Federal (PF) apura crimes contra o sistema financeiro, lavagem de dinheiro e outros esquemas que lesam o erário. As investigações já levaram à abertura de diversas ações pelo Ministério Público Estadual e Federal, na Justiça Federal e também no Supremo Tribunal Federal (STF), já que o caso envolve políticos com foro privilegiado.
Éder Moraes prestou este depoimento gravado em audiovisual pelo próprio Ministério Público em uma dessas ações, conduzida pelo promotor Roberto Aparecido Turin, do Núcleo de Patrimônio e Improbidade administrativa do MPE.
Segundo Turin, esta ação civil pública se refere ao envolvimento da Encomind no esquema. A empresa, que está entre as grandes empreiteiras de Mato Grosso, seria ponte entre o dinheiro emprestado por intermédio de Éder Moraes junto ao BicBanco, sem o aval do Banco Central, repassado, ilegalmente, à classe política mato-grossense, “para resolver problemas”.
“Eles faziam assim. Por exemplo, a Encomind, como outras empresas, tem carta de crédito para receber, mas para isso dependeria da Justiça, coisa demorada, para 10 a 20 anos. O Éder chegava e perguntava: vocês querem receber rápido? Se sim, pago em três dias, mas terão que devolver 50%. Esse dinheiro ia para um caixa, que eles usavam para resolver os tais problemas, entre eles pagar propina a deputados, gastos com campanha eleitoral, essas coisas”, explica o promotor.
Turin, que está de férias e falou com o Terra por telefone, informa que o vídeo foi compartilhado com o MPF como prova. O MPF o juntou às ações penais motivadas pela Ararath. “Sim, esse vídeo é prova, registra o que Éder falou, porque ele já teria dito por aí que não falou nada disso, mas disse sim e está gravado”. O promotor não soube informar como ele se tornou público e também não soube precisar a data exata que este depoimento foi prestado. “Colhi vários depoimentos entre dezembro do ano passado e o início de janeiro deste ano. Nessa ação, provocada pela Ararath, o que estamos apurando são crimes de improbidade e danos ao erário estadual. Ao final, vamos pedir ressarcimento de valores e certificar se o Estado pagou a mais para a Encomind, por benefícios que não tinha direito”, declara o promotor.
O Terra tentou tratar do assunto com a Encomind, mas os diretores da empresa estão de férias e só voltam na sexta-feira, conforme informou a secretaria executiva da empresa.
Já o empresário Daltinho, que não foi eleito, mas é suplente de deputado estadual, se vê como bode expiatório de Éder Moraes, para mudar o foco das investigações. “Não é a primeira vez que ele me expõe publicamente na mídia, mas eu já me coloquei à disposição do Ministério Público, eu já me coloquei a disposição da Justiça. Já o Éder Moraes é esse cara desqualificado, processado, com a família toda processada, com histórico de atitudes na vida pessoal e profissional só de confusão, de rolo, e o que o ele está querendo com isso? Mas ele vai ter o remédio dele, porque estamos colocando em juízo para ele provar o que disse”, responde o empresário. “No vale do Araguaia isso está sendo visto como uma piada, porque tenho mais de 50 lojas, 300 funcionários e há mais de 20 anos nunca comprei um parafuso do Estado. Então, não é um malandro desses, desqualificado, que vai conseguir manchar meu nome”.
À imprensa local, Éder Moraes diz ter entrado com uma ação contra o MP, por causa do vazamento de um depoimento que, segundo ele, deveria ser sigiloso, para salvaguardar a integridade dos envolvidos e seus familiares. Disse também que esse depoimento não tem validade porque já foi retratado publicamente e só teria de fato validade se dado à Justiça.
O ex-governador Silval Barbosa, após repassar o cargo ao governador eleito, Pedro Taques (PDT), saiu de férias com a família para o exterior e ainda não teria voltado.