O que investigação revelou sobre caso de professora enterrada no jardim

Carmem Morales desapareceu em agosto de 2013. Em janeiro deste ano, família encontrou o corpo dela no jardim. Homem acusado de matar a vítima trabalhou para ela, segundo a Polícia Civil.

1 out 2021 - 17h55
(atualizado às 19h04)

A professora aposentada Carmem Morales foi morta por um homem que trabalhou como jardineiro para ela. Depois, ele enterrou o corpo da vítima e colocou plantas em cima para esconder o crime. Essa foi a conclusão da Polícia Civil sobre a morte da professora aposentada.

Imagem atual do jardim após proprietária da casa ser encontrada enterrada no local
Imagem atual do jardim após proprietária da casa ser encontrada enterrada no local
Foto: Arquivo pessoal / BBC News Brasil

Carmem tinha 62 anos e morava sozinha em Ubatuba, no litoral norte de São Paulo. Ela desapareceu em agosto de 2013. Anos mais tarde, em janeiro de 2021, uma família que havia alugado a residência dela encontrou a ossada da mulher enterrada no jardim do imóvel.

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No fim de julho, a BBC News Brasil contou sobre esse caso. Na reportagem anterior, a família que encontrou a ossada pediu que os nomes fossem alterados no texto porque a apuração sobre o crime ainda não havia sido concluída. Desta vez, os nomes reais serão citados.

A Polícia Civil de Ubatuba voltou a apurar o caso. Em agosto, a investigação foi concluída e apontou o principal suspeito do crime.

Após ser indiciado pela Polícia Civil, o homem foi denunciado pelo Ministério Público Estadual de São Paulo por latrocínio - roubo com morte - e ocultação de cadáver. Ele se tornou réu pela morte de Carmem.

Essa não é a primeira vez em que o homem se torna alvo da Justiça. Ele já foi preso por roubo antes da morte de Carmem e depois, em 2016.

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A BBC News Brasil tentou contato com ele, um familiar negou que o homem tenha cometido o crime, mas disse à reportagem que ele não se pronunciará no momento, porque ainda não tem um advogado para representá-lo.

A investigação do crime

O mistério sobre o desaparecimento de Carmem foi esclarecido em janeiro deste ano, quando a ossada dela foi encontrada pelo analista de sistemas Glauber Duma e o filho mais velho dele.

Havia pouco mais de dois anos que a família do analista de sistemas tinha alugado a casa, que está sob a responsabilidade de um irmão de Carmem desde que a professora aposentada sumiu.

Carmem Morales tinha 62 anos quando desapareceu em agosto de 2013
Foto: Reprodução/Facebook / BBC News Brasil

Glauber e o filho Leonardo estavam retirando as plantas do jardim da casa, para depois colocar grama, quando avistaram um pedaço de tecido embaixo da terra, desenterraram e viram que era um edredom.

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"Fiquei sem reação. Foi horrível, você não quer acreditar que aquilo tá acontecendo contigo. Parece que o tempo congela. Passa um milhão de coisas na cabeça. Perde o chão", disse Glauber à BBC News Brasil em julho, sobre o momento em que descobriu que havia uma ossada humana no edredom.

Um laudo confirmou posteriormente que se tratava de Carmem Morales. A Polícia voltou a investigar o caso, que tinha sido arquivado anteriormente.

Na época em que Carmem desapareceu, a falta de comprovação de que ela realmente estava morta impediu o avanço da investigação policial. Suspeitas como a de latrocínio não seguiram adiante por falta de provas.

Desde que a investigação sobre o caso foi reaberta, Rafael foi considerado o principal suspeito. Alguns elementos da apuração sobre o desaparecimento dela foram fundamentais neste ano: o acusado prestou serviços de jardinagem para Carmem, o homem sabia que ela vivia sozinha e ele foi apontado por testemunhas como o responsável por fugir com o carro da mulher no período em que ela desapareceu.

No jardim da casa da vítima, um ponto chamou a atenção após a ossada ser encontrada: havia lírios-da-paz plantados especificamente na parte em que o corpo foi enterrado. Para as autoridades policiais, foi um forte indicativo de que o crime foi cometido por alguém com conhecimento sobre jardinagem.

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Leonardo e Glauber: pai e filho encontraram ossada enquanto mexiam em jardim
Foto: Arquivo pessoal / BBC News Brasil

Em agosto de 2013, conforme a polícia, o acusado ficou dois dias na casa da vítima. Nesse período, ele teria matado Carmem de forma violenta porque queria "obter vantagem econômica". Segundo o inquérito, ele enterrou a vítima no jardim "visando garantir a impunidade do delito".

A perícia não conseguiu apontar a forma como ela foi morta, mas segundo a polícia não há indícios de tiros ou facadas, por isso uma das suspeitas é de que ela tenha sido estrangulada.

De acordo com a apuração da Polícia Civil de Ubatuba, ele fugiu com o carro de Carmem após enterrá-la no jardim. No veículo da vítima, havia objetos da residência dela, como um violão e uma cafeteira, e a bicicleta do acusado.

Dois homens estavam perto da casa de Carmem no momento da fuga e relataram que o acusado fugiu do local "cantando pneu". Pouco depois, segundo a polícia, ele deixou o automóvel cair em uma valeta em uma rodovia e fugiu na bicicleta, carregando o violão da vítima.

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Nessa fuga, conforme a investigação, um guarda civil encontrou o suspeito carregando o violão na bicicleta. O acusado chegou a ser parado e revistado, mas, segundo o guarda, ele não carregava nada de ilícito e não figurava como procurado pela Justiça. "Naquele momento também não havia notícia do desaparecimento de Carmem ou alguma queixa referente ao seu veículo, razão pela qual o denunciado foi liberado", detalha o inquérito policial.

Posteriormente, o automóvel de Carmem, com diversos objetos da vítima, foi encontrado por guardas civis e policiais militares.

Imagem feita antes de localização de desaparecida mostra lírios-da-paz em parte em que Carmem foi enterrada
Foto: Arquivo pessoal / BBC News Brasil

O vizinho de Carmem reconheceu o homem que saiu com o carro dela na época em que a idosa desapareceu, segundo o inquérito policial. O guarda civil também reconheceu o suspeito como o homem que estava em uma bicicleta após o carro da vítima ser encontrado.

O processo sobre a morte de Carmem

Quando concluiu a investigação, em 4 de agosto, a Polícia Civil de Ubatuba encaminhou o inquérito ao Ministério Público Estadual de São Paulo, que dias depois ofereceu denúncia contra o suspeito por latrocínio e ocultação de cadáver, além de pedir a prisão preventiva (antes do julgamento, por tempo indeterminado) dele.

"No caso dos autos, o denunciado ceifou a vida da vítima e ocultou o corpo para garantir a impunidade do crime patrimonial, o que denota sua extrema periculosidade, personalidade violenta e marcadamente deturpada, além de total desprezo pela vida humana, sendo o cárcere cautelar imprescindível para resguardar o corpo social e também para garantir a aplicação da lei penal", assinalou o promotor de Justiça Fernando Fietz Brito, ao solicitar a prisão preventiva do acusado.

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"Fiquei sem reação. Foi horrível, você não quer acreditar que aquilo tá acontecendo contigo", disse Glauber sobre ter encontrado ossada humana
Foto: BBC News Brasil / BBC News Brasil

Ao aceitar a denúncia contra o suspeito, por considerar que há elementos suficientes para iniciar um processo criminal, o juiz Eduardo Passos Bhering Cardoso, da comarca de Ubatuba, negou o pedido de prisão preventiva contra o acusado. O magistrado argumentou que essa medida, usada quando há urgência para a prisão, deve ser determinada quando envolve um fato recente.

"O presente crime ocorreu em 2013, há 08 (oito) anos, prazo este não compatível com o requisito da contemporaneidade. Além disso, não há notícias de fatos novos a justificar a decretação da prisão preventiva para garantir a ordem pública e a aplicação da lei penal", assinalou em meados do mês passado.

O juiz ainda destacou que uma análise inicial do caso indica que o acusado roubou o carro e outros bens da vítima. Porém, ressaltou que não há, ao menos por ora, "indícios de autoria suficientes para decretar a prisão preventiva do investigado".

Segundo o magistrado, não há elementos suficientes para determinar previamente, antes do aprofundamento do caso e do avanço do processo, "que o investigado matou a vítima". Como o processo ainda está em fase inicial, não há prazo para julgamento. Ao menos por enquanto, o réu responderá à Justiça em liberdade.

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