PMs choravam dizendo que iam morrer, diz moradora de favela

A madrugada desta sexta-feira foi de terror para moradores da favela do Mandela, no Complexo de Manguinhos, zona norte do Rio, após o ataque à Unidade de Polícia Pacificadora

21 mar 2014 - 17h18
(atualizado às 17h20)
<p>Hoje à tarde, parte da favela do Mandela, no Complexo de Manguinhos, permanecia sem luz, e as aulas nas escolas da região foram suspensas, deixando cerca de 4 mil alunos em casa</p>
Hoje à tarde, parte da favela do Mandela, no Complexo de Manguinhos, permanecia sem luz, e as aulas nas escolas da região foram suspensas, deixando cerca de 4 mil alunos em casa
Foto: Mauro Pimentel / Terra

A madrugada desta sexta-feira foi de terror para moradores da favela do Mandela, no Complexo de Manguinhos, zona norte do Rio. Uma mulher, que preferiu não se identificar, acompanhou de perto o ataque à Unidade de Polícia Pacificadora de Manguinhos e chegou a ajudar duas policiais militares que acabaram encurraladas depois que os contêineres em que está instalada a sede da polícia na região foram incendiados.

Ela conta que estava na casa da mãe, em frente à UPP, no fim da tarde de ontem, quando um grupo de cerca de 50 pessoas passou correndo e atirando pedras e coquetéis molotovs contra a UPP e mandando que os moradores entrassem em casa. “Quebraram tudo, jogaram pedra, colocaram fogo. Foram para cima do contêiner, os policiais ficaram tentando segurar a porta, até que não conseguiram mais e o pessoal invadiu e colocou fogo”, lembra. “Parecia um filme de ação.”

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Da casa da mãe ela viu quando os contêineres começaram a pegar fogo e a polícia deixou o local. Com medo, duas PMs que estavam dentro da unidade fugiram para baixo da escada da casa da mãe da moradora. “Elas começaram a chorar dizendo que iam morrer. Tentamos ajudar, acalmar elas”, diz. 

Depois, toda a comunidade ficou sem luz. Por conta do calor, a mulher conta que ela e vários vizinhos optaram por dormir em frente às casas. “Colocamos um tapete e um colchão no chão, me agarrei na minha filha de 7 anos e fiquei tentando dormir. Os outros vizinhos também foram para a rua, dentro de casa estava um forno. Os policiais ficavam passando, os helicópteros sobrevoando. Parecia uma cena de filme. Só meu marido não dormiu. Ficou sentado em uma cadeira cuidando da gente e olhando o que acontecia na rua”, diz.

Os moradores acusam a polícia de ter atirado contra os transformadores. Hoje à tarde, parte da comunidade permanecia sem luz, e as aulas nas escolas da região foram suspensas, deixando cerca de 4 mil alunos em casa.

O conflito começou por volta das 18h de quinta-feira, quando o comandante da UPP Manguinhos, na zona norte da capital fluminense, capitão Gabriel Toledo, foi ferido na perna direita durante uma manifestação contra a desocupação de um prédio ao lado da Distribuidora de Suprimentos Disup, para obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), na avenida Leopoldo Bulhões.

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Durante o protesto, um policial foi atingido por uma pedra na cabeça e carros da polícia também foram atacados. A via foi interditada pelos moradores com a queima de pneus e pedaços de madeira. Depois disso, criminosos se infiltraram no protesto e iniciaram o tiroteio que teria atingido o comandante. Os criminosos atearam fogo em um contêiner de uma base avançada da UPP Manguinhos, na comunidade da Mandela.

Toledo foi baleado na perna e levado para o Hospital Geral de Bonsucesso (HGB) e depois transferido para o Hospital Central da Polícia Militar (HCPM), onde permanece em observação. Já o policial ferido na cabeça foi levado para o Hospital Getúlio Vargas (HGV), na Penha e também está em situação estável.

Após um pedido do governador Sérgio Cabral, a presidente Dilma Rousseff determinou nesta sexta-feira o envio de tropas federais para o Rio de Janeiro. As ações contra o crime no Estado terão ajuda do governo federal já neste fim de semana.

Fonte: Terra
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