'Podem ter surgido outros Amarildos', diz delegado em julgamento

20 fev 2014 - 18h16
(atualizado às 18h18)

Primeira testemunha a ser ouvida na primeira audiência do julgamento dos 25 acusados de terem torturado e assassinado o ajudante de pedreiro Amarildo de Souza, morador da favela da Rocinha, na zona sul do Rio de Janeiro, o delegado Rivaldo Barbosa, titular da Delegacia de Homicídios (DH), definiu como "ardilosa" a ação dos PMs envolvidos no caso.

Em depoimento, que durou três horas, Rivaldo afirmou que a ação dos policiais foi uma "manobra ardilosa para imputar a terceiros a tortura contra Amarildo", referindo-se a uma das primeiras hipóteses da investigação, de que o ajudante de pedreiro poderia ter sido morto por traficantes. Segundo o delegado, os policiais da UPP já haviam feito ameaças e torturado outros moradores da favela e "podem ter surgido outros Amarildos". 

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Depois de Rivaldo, a Justiça passou a ouvir a delegada Helen Souto, delegada assistente da DH. Começam a ser ouvidas hoje as 19 testemunhas de acusação, entre elas 18 delegados e inspetores da Polícia Civil envolvidos na investigação e a esposa de Amarildo, Elisabeth Gomes da Silva.

O delegado disse ainda que os depoimentos eram incongruentes, pois todos tinham a mesma versão. Segundo ele, a polícia percebeu que o major Edson Santos, comandante da UPP na época, pressionava os PMs a fazer isso.

A Polícia Civil, segundo Rivaldo, precisou recorrer à Corregedoria da Polícia Militar para colher os depoimentos dos PMs, já que o major demorava muito a liberar os policiais para ir à delegacia. Segundo ele, era perceptível o medo que os policiais tinham de falar e a polícia descobriu que Amarildo havia sido torturado através de conversas informais.

Os réus respondem pelos crimes de tortura, ocultação de cadáver, fraude processual, omissão imprópria e formação de quadrilha. 

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Antes de entrar na sala do julgamento, Elisabeth Gomes da Silva, que chegou ao Tribunal acompanhada do filho Anderson, disse que já não tem mais esperança de encontrar o marido vivo.

O ajudante de pedreiro desapareceu após ser levado por policiais militares para a sede da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) entre os dias 13 e 14 de junho. De acordo com a denúncia apresentada pelo Ministério Público (MP), o tenente Luiz Medeiros, o sargento Reinaldo Gonçalves e os soldados Anderson Maia e Douglas Roberto Vital teriam torturado Amarildo depois de ele ter sido levado para a base da UPP. 

Ainda de acordo com o MP, outros policiais militares são suspeitos de participar ativamente da ação, vigiando do lado de fora da base ou sendo omissos por não terem impedido os atos de tortura contra Amarildo.

Fonte: Terra
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