A Polícia Civil do Rio de Janeiro achou um corpo em um valão situado na favela da Rocinha na tarde desta quarta-feira, mas descartou que seja do pedreiro Amarildo de Souza, 47 anos, que desapareceu na noite do dia 14 de julho, depois de ser levado para uma base da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da comunidade. Peritos do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE) avaliaram que o corpo é de uma mulher, e tem uma tatuagem na mão.
Parentes reconheceram que o cadáver é de Gisele da Silva Santos, moradora da favela e que estava desaparecida desde quarta-feira. Não foi informado se o corpo tinha perfurações de bala.
Um parente de Amarildo forneceu sangue para a realização de um exame de DNA. Ele será comparado ao material colhido num dos bancos de uma viatura da UPP da Rocinha. As manchas no carro se assemelham a marcas de sangue.
Amarildo foi abordado por policiais da UPP, e teria sido confundido com um traficante da favela. Eles afirmaram que, depois de o mal entendido ter sido desfeito, liberaram Amarildo. O pedreiro, no entanto, nunca mais foi visto.
Foram pedidas imagens de câmeras instaladas próximas à base da UPP, mas elas não foram disponibilizadas, sob a alegação de que as filmadoras estavam com defeito. O sumiço de Amarildo desencadeou uma grande campanha nas redes sociais. “Onde está Amarildo?” é a pergunta feita por muitos críticos das ações da Polícia Militar do governo Sérgio Cabral. O questionamento sobre o paradeiro do pedreiro também vem norteando os protestos de rua que têm como alvo o governador fluminense.
Ontem, em entrevista coletiva, Cabral mencionou o caso e disse que também quer saber onde está Amarildo. “Estamos investigando o caso do Amarildo profundamente, querendo saber onde está Amarildo. Essa é uma pergunta que a sociedade e eu, e posso garantir que o secretário (de Segurança Pública, José Mariano) Beltrame e todos nós estamos fazendo. Só que eles são os especialistas, e estão trabalhando tecnicamente para isso, e eu vocalizo uma demanda da sociedade. Situações como essas são intoleráveis, e vamos descobrir os responsáveis por isso.”
Protestos mobilizam população e desafiam governos de todo o País
Mobilizados contra o aumento das tarifas de transporte público nas grandes cidades brasileiras, grupos de ativistas organizaram protestos para pedir a redução dos preços e maior qualidade dos serviços públicos prestados à população. Estes atos ganharam corpo e expressão nacional, dilatando-se gradualmente em uma onda de protestos e levando dezenas de milhares de pessoas às ruas com uma agenda de reivindicações ampla e com um significado ainda não plenamente compreendido.
A mobilização começou em Porto Alegre, quando, entre março e abril, milhares de manifestantes agruparam-se em frente à Prefeitura para protestar contra o recente aumento do preço das passagens de ônibus; a mobilização surtiu efeito, e o aumento foi temporariamente revogado. Poucos meses depois, o mesmo movimento se gestou em São Paulo, onde sucessivas mobilizações atraíram milhares às ruas; o maior episódio ocorreu no dia 13 de junho, quando um imenso ato público acabou em violentos confrontos com a polícia.
A grandeza do protesto e a violência dos confrontos expandiu a pauta para todo o País. Foi assim que, no dia 17 de junho, o Brasil viveu o que foi visto como uma das maiores jornadas populares dos últimos 20 anos. Motivados contra os aumentos do preço dos transportes, mas também já inflamados por diversas outras bandeiras, tais como a realização da Copa do Mundo de 2014, a nação viveu uma noite de mobilização e confrontos em São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Salvador, Fortaleza, Porto Alegre e Brasília.
A onda de protestos mobiliza o debate do País e levanta um amálgama de questionamentos sobre objetivos, rumos, pautas e significados de um movimento popular singular na história brasileira desde a restauração do regime democrático em 1985. A revogação dos aumentos das passagens já é um dos resultados obtidos em São Paulo e outras cidades, mas o movimento não deve parar por aí. “Essas vozes precisam ser ouvidas”, disse a presidente Dilma Rousseff, ela própria e seu governo alvos de críticas.