A Polícia Rodoviária constatou que uma nova modalidade do tráfico de cocaína ganha as estradas do interior de São Paulo. Em cinco apreensões realizadas desde a última sexta-feira, os patrulheiros apreenderam mais de três toneladas de roupas engomadas com cocaína. A droga, trazida do Paraguai e Bolívia, abasteceria traficantes de São Paulo, Distrito Federal e Pernambuco.
Pela primeira vez, a prática, que já foi constatada em aeroporto do Paraná e estradas de Santa Catarina, foi registrada nas rodovias estaduais Marechal Rondon (SP-300) e Raposo Tavares (SP-270). As duas rodovias, que ligam a capital paulista ao Mato Grosso do Sul, são corredores de ônibus que transportam trabalhadores da Bolívia e do Paraguai ao Brasil e também são consideradas pela polícia como rota do tráfico de drogas produzidas nesses dois países.
Em todas as apreensões, a droga estava adicionada em roupas engomadas dentro de fardos e malas, guardadas por “mulas” (pessoas contratadas para acompanhar o transporte) e colocadas em ônibus comerciais, que fazem o percurso entre cidades do Paraguai e Bolívia, com escalas em Campo Grande (MS) e Cuiabá (MT), com destinos a São Paulo, Rio de Janeiro ou a cidades do Nordeste e do Distrito Federal.
Na manhã desta quinta-feira, um guincho teve de ser acionado para levar cinco grandes fardos, mais de uma tonelada de roupas engomadas com cocaína líquida, apreendidas na SP-300, até o plantão policial de Araçatuba (SP). A droga tinha sido apreendida de madrugada em um ônibus que fazia o percurso entre Ponta Porã (MS) e São Paulo. Duas mulheres de 47 e 49 anos foram presas. Elas disseram que levariam a droga para a capital paulista.
A apreensão ocorreu poucas horas depois de a própria Polícia Rodoviária apreender três fardos com 571 quilos de roupas em três fardos, em um ônibus que fazia o percurso entre Campo Grande e Taguatinga (DF). Uma mulher de 38 anos, que foi presa, disse que receberia R$ 300,00 para entregar a droga a traficantes de São Paulo.
“Os policias só descobriram que se tratava de roupas engomadas com cocaína porque fizeram os testes com reagentes químicos. Após os testes, as roupas ganham uma coloração azul, indicando que foram engomadas com a droga”, explicou o sargento José Carlos, da Base da Polícia Rodoviária de Araçatuba. Segundo o sargento Edman Silazaky, também da Polícia Rodoviária, os dois carregamentos foram feitos possivelmente pela mesma quadrilha que teria comprado a droga em Ciudad del Este para levar à capital paulista. A droga seria retirada pelos traficantes por meio de decantação com outros produtos químicos. No entanto, a polícia não sabe estimar quanto de droga pode estar dissolvida dentro de cada peça de roupa, mas estima-se que só com as roupas, os carregamentos ultrapassem a R$ 3 milhões.
As primeiras apreensões ocorreram na região de Presidente Prudente. Na sexta-feira, dois peruanos foram presos com grandes malas em um ônibus que saiu de Porto Suarez, na Bolívia, passou por Cuiabá, com destino ao Rio de Janeiro. Na manhã de terça-feira, uma mulher de 37 anos e um homem de 57 foram flagrados com quatro fardos com cerca de 500 quilos de roupas engomadas com a droga líquida, em um ônibus, no km 577 da Raposo Tavares, no município de Álvares Machado. O casal disse que receberia R$ 200,00 para transportar a droga, que foi embarcada em Nova Alvora (MS), até o terminal de Barra Funda, na capital Paulista.
No dia seguinte, foi a vez de dois homens, de 35 e 19 anos, serem presos no km 615 da Raposo, em Presidente Venceslau, com quatro fardos com 741 kg de roupas engomadas com cocaína. Segundo eles, a droga, recebida em Nova Alvorada (MS), seria entregue em Caruaru (PE), embora o ônibus estivesse fazendo o trecho Cuiabá-São Paulo. Como nos casos de Araçatuba, a existência da droga só pôde ser confirmada depois que os policiais fizeram teste com reagentes químicos. A polícia guarda em segredo informações sobre uma quadrilha de traficantes suspeita de estar por trás dos carregamentos.
