A Polícia Civil do Rio Grande do Sul, com apoio de policiais civis de Santa Catarina, deflagrou nesta segunda-feira, 29, a Operação Cantina, que resultou na prisão de 33 suspeitos de participar de uma organização criminosa. O grupo teria aplicado o golpe dos nudes em vítimas de diferentes estados do País.
Segundo a PC-RS, a organização criminosa interestadual é investigada pelos crimes de lavagem de dinheiro, tráfico de drogas, porte ilegal de munições e armas de fogo, extorsões e corrupção de menores. Além das 33 pessoas presas durante a ação, a polícia também apreendeu veículos, armas de fogo, munições, dinheiro em espécie, entre outros bens.
A operação contou com 150 policiais civis dos dois estados e com o apoio aéreo do helicóptero da Polícia Civil gaúcha. No Rio Grande do Sul, a operação ocorreu nas cidades de Porto Alegre, Canoas, Cachoeirinha, Gravataí, Alvorada, Viamão, Tramandaí e Imbé. Já em Santa Catarina, nos bairros Ingleses e Carianos, localizados na cidade de Florianópolis.
Como os nomes dos suspeitos não foram divulgados, o Terra não conseguiu localizar a defesa deles até a última atualização desta reportagem. O espaço segue aberto para manifestações.
Como funcionava a organização criminosa
Em coletiva de imprensa, o delegado Rafael Liedtke explicou que as investigações tiveram início há onze meses, com a prisão em flagrante de um suspeito, no município de Cachoeirinha (RS). Com ele foi apreendida uma pistola Taurus calibre .9mm e um veículo Mercedes-Benz, avaliado em R$160 mil.
Após a prisão do suspeito, a polícia identificou uma organização criminosa "muito bem estruturada", especializada nesses crimes. O grupo tinha como base as zonas leste e sul da capital gaúcha, mas ramificações no estado de Santa Catarina.
Segundo o que foi apurado, um dos líderes da organização, que é braço direito de uma das facções criminosas de maior atuação no Rio Grande do Sul, já esteve preso em presídios da capital, onde exerceu a função de cantineiro e fez diversos contatos com faccionados. Após ser solto, com esses contatos que fez no presídio, reunia outros criminosos, geralmente recolhidos, pra ajudarem na prática do chamado golpe dos nudes.
Segundo a Polícia Civil, o grupo entrava em contato com homens de classe média/alta por meio de perfis falsos de mulheres jovens, em redes sociais, para obter fotografias das vítimas nuas. A partir de então, as lideranças iniciavam uma série de graves extorsões, passando-se inclusive por delegados de polícia do Rio Grande do Sul.
"O esquema era perfeitamente delineado, com vasto material que auxiliava na ilusão das vítimas e que era transmitido entre os criminosos. Para a produção do material, os investigados inclusive aliciavam adolescentes, que mandavam fotografias, áudios e vídeos sob remuneração e até mesmo sob ameaças", disse Liedtke.
A segunda etapa do esquema era a receptação do produto das extorsões por pessoas também aliciadas pela organização. Essas, posteriormente distribuíam o dinheiro entre laranjas, remunerados pelo grupo criminoso, até que o dinheiro voltasse para os responsáveis pelas extorsões.
Ainda de acordo com o delegado, os valores retornavam para os líderes, sustentando luxos deles e de seus familiares, e também eram distribuídos para outros criminosos, em sua maioria presos e que usavam do dinheiro para obterem regalias nas cantinas dos estabelecimentos prisionais. Além de todos esses crimes, parte do lucro da organização criminosa era usada para o tráfico de drogas e de armas.
Entenda o golpe dos nudes
Segundo a PC-RS, o "golpe dos nudes" consiste, inicialmente, em um primeiro contato com uma possível vítima, ou por uma rede social ou pelo aplicativo WhatsApp, onde uma pessoa jovem e bonita instiga a vítima a trocar mensagens de cunho sexual e fotos íntimas.
Na sequência, outra pessoa se apresenta como pai da jovem, dizendo que a filha é menor de idade e a conduta da vítima se amolda ao crime de pedofilia. Para não denunciar, isto é, para não levar o fato ao conhecimento de um delegado de polícia e acarretando na prisão da vítima, o suposto pai exige depósitos em dinheiro.
Na maioria das vezes, após o recebimento de valores, o suspeito continua exigindo dinheiro, dizendo que haverá a necessidade de submeter sua filha a tratamento psicológico ou, ainda, exigindo o depósito de valores, como em um dos casos analisados pela investigação, para o enterro da adolescente que, em razão dos graves danos psicológicos sofridos teria atentado contra a própria vida.
"É bastante comum também, nesses casos, a presença de uma quarta pessoa envolvida, que se apresenta como policial, muitas vezes com fotos e nomes reais retirados das redes sociais, dizendo que está sendo registrada uma ocorrência e que será expedido mandado de prisão contra a vítima, a deixando desesperada e fazendo com que deposite mais dinheiro aos golpistas", acrescenta a polícia.