Policiais disputavam vaga em esquema de propina em Bangu

Esquema de corrupção no 14º Batalhão do Rio de Janeiro foi desmantelado nesta manhã em operação do Gaeco e do Ministério Público

15 set 2014 - 13h08
(atualizado às 15h08)

Um grande esquema de corrupção dentro do 14º Batalhão de Polícia Militar do Rio de Janeiro, em Bangu, na zona oeste da cidade, foi desmantelado esta manhã em uma operação em conjunto da subsecretaria de inteligência do Estado e do Grupo de Apoio ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público. O esquema de cobrança de propina envolvia, além de policiais, todo o Estado Maior do 14º, incluindo o comandante, coronel Alexandre Fontenelle, atualmente terceiro na linha de comando da PM. Fontenelle e outros 21 policiais foram presos esta manhã em uma operação que deixou fora a corregedoria da polícia, para evitar qualquer tipo de vazamento.

Policiais participam de treinamento para a Copa do Mundo de Futebol, no Rio de Janeiro
Policiais participam de treinamento para a Copa do Mundo de Futebol, no Rio de Janeiro
Foto: Daniel Ramalho / Terra

A investigação durou um ano e detectou, através de depoimentos, escutas telefônicas e provas materiais, que os policiais do batalhão faziam questão de serem escolhidos para fazer parte do esquema. “O importante lá era fazer parte do grupo”, afirma o promotor do Ministério Público e responsável pela investigação, Cláudio Calo. O esquema envolvia policiamento de trânsito e de banco que cobravam propinas que variavam de R$ 10 a R$ 2.600 de mototaxistas, motoristas de vans, transportadores, donos de restaurantes. “Não é possível avaliar quanto eles arrecadavam por mês. Tudo o que girava naquela região estava sujeito a propina. Eles ameaçavam as vítimas e tornavam o negócio deles impossível até que eles aceitassem pagar o que eles queriam”, afirmou Fábio Galvão, subsecretário de inteligência da Secretaria de Segurança do Estado.

Publicidade

Apenas na casa do major Carlos Alexandre de Jesus, que estava lotado junto com o coronel Fontenelle no Comando de Operações Especiais da PM (que coordenava as forças especiais da polícia carioca) foram apreendidos R$ 300 mil em espécie. Na casa de um sargento, outros R$ 33 mil. Na carteira do coronel Fontenelle foi encontrado um papel com a divisão da propina. Além disso, os extratos de movimentação da conta do coronel já indicavam a movimentação de quantias incompatíveis com seu salário. “O major Alexandre já tinha sido detido na operação Perigo Selvagem, contra máfia de caça-níqueis, com R$ 27 mil em casa”, lembrou.

Esquema antigo

O MP considera o coronel Fontenelle como o chefe de quadrilha. Outro envolvido, o capitão Walter Colchone Netto, já tinha sido preso por envolvimento com a máfia dos caça-níqueis também na operação Perigo Selvagem e, ainda assim, tinha sido levado por Fontenelle para comandar as investigações no Batalhão, o famoso P2. De acordo com as investigações, o esquema comandado por Fontenelle era antigo e vinha desde quando ele comandava o batalhão de Irajá. Quando foi transferido, Fontenelle levou com ele toda a estrutura corrupta. “Apenas um oficial não foi junto. Policiais que ficaram no batalhão do Irajá seguiam com o esquema de corrupção e levando a propina para que eles o chamavam de 'administração', em Bangu”, conta Calo, afirmando que a investigação não conseguiu identificar que policiais eram esses.

Mas como era possível que policiais investigados conseguissem promoções e transferências? De acordo com Fábio Galvão, primeiro porque quando promovidos ainda não havia provas contra os acusados; segundo porque é preciso preservar a investigação e qualquer paralisação na normalidade poderia levantar suspeitas dos investigados. “A gente não iria avisar e ele foi preso nas atividades do COE e não queremos proteger ninguém. Nem que fosse o comandante geral”, disse Fábio Galvão. Os responsáveis pela investigação fizeram questão de deixar claro que não se tratava de uma milícia organizada. “O modus operandi da milícia é bem diferente. Eles atuavam fardados e apenas dentro da área do batalhão”, afirmou Galvão.

Publicidade

Os 22 presos vão responder por associação criminosa armada na Justiça e por concussão na Justiça militar. Além disso, vão ser processados por danos morais por terem lesado a imagem da PM do Rio. Para o secretário de segurança, José Mariano Beltrame, a operação mostra a independência da secretaria na hora de combater o crime. “Não temos calendário. Vamos seguir combatendo e investigando milícias, UPPs, policiais”, disse.

Os envolvidos ainda vão ter seus patrimônios levantados para detectar enriquecimento ilícito e tiveram a prisão preventiva decretada. A investigação foi concluída e a denúncia foi aceita pelo juiz do Fórum de Bangu. 

Fonte: Terra
Curtiu? Fique por dentro das principais notícias através do nosso ZAP
Inscreva-se