O serviço de inteligência de Goiás tinha conhecimento de que presos planejavam deflagrar rebeliões em ao menos 20 unidades prisionais estaduais a partir do fim do ano passado e comunicou o fato à Secretaria de Segurança Pública e demais autoridades estaduais da área. A informação foi divulgada hoje (5) pelo secretário de Segurança Pública de Goiás, Ricardo Balestreri.
O secretário lamentou que as forças de segurança não tenham conseguido evitar as três rebeliões registradas esta semana no Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia, onde nove detentos foram mortos e 14 feridos na última segunda-feira (1). Ele afirmou, no entato, que o momento é também de "júbilo", já que as polícias Militar e Civil conseguiram evitar "problemas maiores", frustrando os planos iniciais dos criminosos.
"Tínhamos anúncio da orquestração de em torno de 20 rebeliões em [unidades prisionais de] Goiás. Conseguimos evitar quase todas elas. Tivemos problemas em uma. O que não retira o caráter de gravidade do fenômemo", declarou Balestreri ao classificar os problemas do sistema prisional, como superlotação, estrutura precária, lentidão na análise de processos de presos e presença de organizações criminosas, como "o maior drama nacional atual".
"As prisões do país inteiro são o calcanhar de Aquiles do nosso sistema de segurança pública e Judiciário, mas o que ocorre hoje nos presídios de todo o Brasil, inclusive em Goiás, é fruto da disputa por mercados [ilícitos]", disse o secretário estadual, citando o venezuelano Moisés Naím, um dos maiores especialistas mundiais no assunto e para quem o crime organizado é, hoje, a atividade mais lucrativa do mundo.
"O fenômeno que vivemos em Goiás, esta semana, não é avulso, nem ocasional. É um ataque orquestrado [por uma organização criminosa] contra dois de seus oponentes: uma facção rival e o Estado, que atrapalha seus negócios. Essa é uma luta por mercados; por negócios [ilícitos]", acrescentou o secretário.
Balestreri assumiu a Secretaria de Segurança de Goiás em fevereiro de 2017, um dia após um confronto entre detentos da Penitenciária Odenir Guimarães, que funciona no mesmo Complexo Prisional de Aparecida de Goiânia, deixar pelo menos cinco mortos e 35 feridos.
"Goiás tem sido alvo de uma intensa operação do crime organizado. O Brasil é um player fundamental para o crime organizado [global] e o estado é central para as facções criminosas, seja por sua localização central - o que facilita a distribuição de drogas e armas para outras localidades -, seja pela sua proximidade com o Distrito Federal, onde, obviamente, o crime organizado tem grandes negócios", acrescentou o secretário estadual, cobrando uma maior colaboração do governo federal.
"Não é querer jogar o abacaxi para o colo de outros, mas a administração do problema, que hoje é fica exclusivamente sob a responsabilidade dos estados, deveria ser compartilhada. Por exemplo, os presos do narcotráfico; do contrabando, deveriam ser presos federais", defendeu Balestreri, acompanhando o governador goiano, Marconi Perillo, nas reivindicações ao governo federal.
Ontem, governadores de sete unidades federativas brasileiras divulgaram um manifesto cobrando que o governo federal destine mais recursos à segurança pública. No documento divulgado pela assessoria do governo de Goiás, os chefes do Executivo do Distrito Federal, de Goiás, do Maranhão, de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rondônia e do Tocantins afirmam que o setor, "particularmente no sistema penitenciário, exige a tomada de providências urgentes por parte do governo federal" e propõe uma série de medidas, como o descontingenciamento de recursos financeiros do Fundo Penitenciário Nacional (Funpen), a aprovação de leis mais rígidas para a penalização de crimes e a criação de um Fundo Nacional de Segurança Pública.
A Agência Brasil aguarda retorno do Ministério da Justiça sobre o documento dos governadores.
Balestreri deu as declarações ao dar posse, na manhã de hoje, ao diretor-geral de Administração Penitenciária, coronel Edson Costa. A diretoria foi criada ontem (4), a partir do desmembramento da Secretaria de Segurança Pública, que respondia pela gestão das unidades prisionais por meio da extinta Superintendência Executiva de Administração Penitenciária. A Diretoria-Geral terá autonomia administrativa, orçamentária e financeira.