O professor e médico patologista Paulo Saldiva, que presidia a comissão que apura denúncias de abusos sexuais na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), pediu afastamento nesta quarta-feira. Ele ocupa o cargo desde 1996 e o deixará assim que acabar seu período de licença-prêmio.
Procurada pelo Terra, a faculdade confirmou a informação, mas alegou que ainda não tem um posicionamento oficial sobre o caso.
Em entrevista à Folha de S. Paulo, o professor afirmou que "cansou de engolir sapo" e que as mais recentes denúncias (confira o histórico abaixo) foram a "gota d'água" para sua saída.
"A FMUSP se comportou mal. Houve demora da congregação, ficaram na defensiva [sobre as denúncias de estupro das alunas]. Há uma crise de conduta, de valores. Cansei de engolir sapo. Como professor, sinto que falhei, não desempenhei meu papel. Todos os professores deveriam se sentir assim. Isso diz respeito a todos nós. Precisamos incorporar o conteúdo de respeito à dignidade humana ao currículo. Chega de intenção. É preciso prática", disse ao jornal.
Audiência na Alesp
Na terça-feira, um dia antes do pedido de Saldiva, a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) realizou uma audiência pública para apurar denúncias de violações de direitos humanos no âmbito da faculdade. Na ocasião, estudantes relataram diversos casos de estupro, racismo, homofobia, misoginia e tortura.
O deputado Adriano Diogo (PT), que presidiu a Comissão, declarou ter sido “assediado” para que não levasse adiante a sessão sobre a FMUSP. “Nem presidindo a Comissão da Verdade eu fui tão pressionado a não realizar uma audiência. Impressionante como a gente é assediado quando tenta trazer uma sujeira que está debaixo do tapete”, afirmou.
Após a audiência – que começou às 15h e terminou às 20h40 –, ele afirmou que o autor do assédio foi o próprio diretor da FMUSP, professor José Otávio Costa Auler Júnior.
O silêncio começa a ser rompido agora, mas os casos de estupro, trote violento e discriminação são velhos conhecidos da FMUSP. As denúncias recebidas pela Comissão datam, pelo menos, de 2002, mas um dos casos mais emblemáticos de violência na instituição é ainda mais antigo, de 1999, quando o calouro Edison Tsung Chi Hsueh, de 22 anos, foi encontrado morto em uma piscina após um trote.