A quadrilha de agiotagem descoberta pelo Ministério Público em parceria com o setor de inteligência da Polícia Militar financiou campanhas políticas em Maricá e Arraial do Cabo em 2012 e 2014. Através de escutas telefônicas autorizadas pela justiça, os promotores do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime (Gaeco), identificaram que José Ricardo Pereira da Costa, considerado o chefe de quadrilha, e preso esta manhã em uma mansão de Niterói, chegou a doar R$ 2 milhões a candidatos das duas localidades nas campanhas para prefeito em 2012 e para deputado federal este ano. “As escutas mostram funcionários afirmando que ele tinha mandado recuperar, através de mais empréstimos, o dinheiro gasto nas campanhas e que estava desesperado para conseguir repor logo o dinheiro”, afirmou o promotor Marcelo Mauricio Azevedo, um dos responsáveis pela investigação.
Mas as ambições de José Ricardo iam além. Dono de uma empresa de prestação de serviços, ele tinha interesse em manter contratos de recolhimento de lixo com essas duas prefeituras, o que de acordo com o MP acabou conseguindo. “Ele usava as doações também como forma de lavar o dinheiro recebido. Mas isso é uma investigação que cabe ao Ministério Público Eleitoral e não a nós”, disse Azevedo, sem revelar nomes. “Também não conseguimos saber os nomes dos candidatos que teriam sido beneficiados”, afirmou o promotor Daniel Braz, também responsável pelas investigações.
Até o momento 17 pessoas foram presas na operação chamada “Lucro Fácil”, entre elas dois policiais militares e um civil. “Um dos policiais militares era ainda recruta, e já participava do esquema. Outro era policia civil, fez prova para a PM e estava lotado na UPP do Jacarezinho, e era de Macaé”, afirma o tenente coronel Antonio Jorge Goulart, da Coordenadoria de Inteligência da Polícia Militar. Os policiais seguem nas ruas tentando cumprir os 41 mandados de prisão expedidos pela justiça.
O esquema da quadrilha, que chegava a movimentar R$ 1 milhão por mês, de acordo com o MP, começou a ser desvendado há dois anos em Macaé, quando vítimas foram até o Ministério Público fazer a denúncia contra os agiotas que emprestavam dinheiro com juros de 30 a 40% ao mês. “Em geral eles emprestavam a pessoas humildades e depois usavam da extorsão para fazer cobranças”, informou Daniel Braz, que afirma serem mais de 100 as pessoas envolvidas no esquema, mas que como se tratavam por apelidos nas ligações nem todas puderam ainda ser identificadas.
As pessoas eram atraídas pelos agiotas através da distribuição de panfletos nas ruas e funcionavam quase sempre em escritórios de fachada. “Alugavam cinco, seis salas no mesmo prédio e usavam duas salas por dois meses e depois trocavam”, explica Braz. Em alguns lugares, como São Gonçalo, os agiotas agiam em acordo com traficantes locais. Em outros, o esquema de propina funcionava dentro de delegacias, quando algum membro era preso, para que fosse logo libertado.
Considerado o banqueiro da organização, José Ricardo Pereira da Costa tinha auxílio de parentes próximos para controlar o esquema em cidades como Macaé, Niterói, Itaguaí, Barra Mansa, Maricá, Arraial do Cabo, Rio de Janeiro, Duque de Caxias, Queimados e Parati. “Chegamos a recolher anotações de gente que estava supostamente devendo R$ 300 mil. Temos um caso de um senhor que pegou R$ 500, pagou R$ 6 mil e seguia devendo”, contou o promotor. A quadrilha tinha por modo de atuação não deixar que o empréstimo fosse pago, para perpetuar a dívida cobrando juros em cima de juros. Se condenados, os réus podem pegar de 10 a 30 anos de prisão por agiotagem, corrupção e formação de quadrilha.