O coronel reformado do Exército Paulo Malhães morreu de causas naturais, vítima de edema pulmonar, isquemia de miocárdio (que pode levar ao infarto) e miocardiopatia hipertrófica, conforme a Guia de Sepultamento do militar entregue neste sábado em Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro. O documento, necessário para que o enterro seja realizado, foi obtido pelo Terra no cemitério municipal de Nova Iguaçu com uma fonte que não quis se identificar.
O documento contraria algumas linhas de investigação da polícia, que apura se houve violência na morte do militar, e avaliação da Comissão da Verdade do Rio, que classificou o óbito como "queima de arquivo". O coronel admitiu ter participado de torturas e desaparecimentos durante a ditadura e foi encontrado morto dentro da sua residência em Nova Iguaçu.
Um mês antes de morrer, no dia 25 de março, Malhães falou sobre o desaparecimento dos restos mortais do deputado federal Rubens Paiva, em depoimento à Comissão Nacional da Verdade. Também informou que agentes do Centro de Informação do Exército (CIE) mutilavam corpos de vítimas da repressão na Casa da Morte (Petrópolis) arrancando arcadas dentárias e pontas dos dedos para impedir sua identificação.
"O tirano é para vocês"
O corpo do militar foi enterrado na tarde de hoje, no Cemitério Municipal de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Ele morreu ontem, quando três homens invadiram sua residência, onde também estavam sua esposa e um caseiro, no interior do município. Do local, foram levadas diversas armas que Malhães colecionava.
No cemitério, parentes evitaram falar com a imprensa. "A gente enterrou hoje o pai, o esposo, o avô das meninas. O coronel, o tirano, é para vocês. Para gente, ficou só o pai. O coronel da ditadura não era este que a gente conhecia", disse a filha do militar, que se identificou apenas como Carla.
O genro do coronel da reserva, Nelson Viana, disse que a família não tinha ideia do que realmente teria acontecido na casa do militar. "Dizem que foi um assalto. Nós não temos hipótese." Perguntado se Malhães sofria algum tipo de ameaça, Viana negou. "Ele nunca falou nada e a gente sempre respeitou isso. Nem antes, nem depois (do depoimento à Comissão Nacional da Verdade). Ele sempre foi uma pessoa super reservada. Nunca comentou nada e a gente até foi surpreendido pelas entrevistas."