Forças de segurança do Estado no Rio de Janeiro iniciaram na manhã desta quinta-feira a ocupação da Vila Kennedy e da favela do Metral, comunidades da zona oeste da capital fluminense, para a instalação da 38ª Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). Cerca de 33 mil moradores vivem na região que é tida como a mais rural do Rio, entre Bangu e Campo Grande. As comunidades foram tomadas sem resistência, o que permitiu o domínio dos territórios em 20 minutos, segundo a Secretaria de Segurança.
Nove pessoas foram detidas até as 11h: dois eram procurados pela polícia, com mandados de prisão em aberto, e um foi preso em flagrante por estar com uma motocicleta roubada. Pelo menos outros três foram presos quando um helicóptero da PM sobrevoava a região e avistou um carro com suspeitos armados em Senador Camará, vizinha à Vila Kennedy. Além da moto, dois carros roubados e uma bicicleta foram apreendidos. Os bandidos se renderam e com eles foram encontrados um fuzil 556 (uso restrito do Exército), duas pistolas e um revólver 380, seis carregadores e um cacetete elétrico.
Outros três suspeitos foram detidos em uma blitz na avenida Brasil em um carro roubado. As incursões seguem por tempo indeterminado atrás de traficantes, drogas e armas. Durante a ocpuração foram hasteadas as bandeiras do Brasil e do Estado do Rio, cerimônia simbólica que sempre marca a ocupação das forças de segurança.
"Foi uma ocupação tranquila, a diferença desta vez é que não utilizamos os blindados da Marinha, apenas os da PM mesmo. Sempre que entramos em comunidade do Comando Vermelho a gente fica mais apreensivo, de qualquer forma: é uma facção muito agressiva, principalmente com os policiais, então a gente sempre entra esperando uma reação", explicou o tenente-coronel André Vidal, comandante da operação do Batalhão de Choque.
Participaram do efetivo de ocupação homens do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), Batalhão de Choque, Batalhão de Ação com Cães, além de apoio do Grupamento Aéreo Marítimo e Batalhão de Policiamento em Vias Especiais (BPVE). Desde o começo da manhã, por volta de 5h20, a avenida Brasil foi fechada nos dois sentidos para o início da operação. Cerca de 30 minutos depois, as vias foram liberadas.
Em 20 minutos após chegar às 5h30, o Bope já montou sua base de comando no local conhecido como Campo do Vila. Pela primeira vez em todas as ocupações, o Bope montou uma base de monitoramento de imagens via satélite.
Os policiais que atuam na região revistaram carros e motos. Durante a ocupação, o clima era tranquilidade na região, após o episódio de dois dias atrás quando traficantes fecharam a avenida Brasil e atiraram em transformadores de luz, deixando muitos moradores às escuras. Como a avenida Brasil corta a comunidade praticamente ao meio, a ocupação foi feita com o Batalhão de Choque (150 homens) de um lado e, de outro, 170 homens do Bope.
Junto do Bope, as forças de segurança atuaram no processo de varredura de toda a comunidade atrás de possíveis criminosos, armas e drogas. A Secretaria de Segurança Pública do Estado emitiu nota nesta manhã pedindo para que os moradores colaborem com os policiais com informações que podem ser passadas via Disque Denúncia (2253-1177).
A Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) da Polícia Civil também atua na operação na tentativa de cumprir mandados de prisão, e busca e apreensão. Cãs farejadores atuaram na mata em busca de armas e drogas.
Como forma de segurança, 12 escolas, três creches e dois espaços de desenvolvimento amanheceram seu aulas para um estimado de 9 mil alunos da rede municipal e estadual de ensino. Ainda não há prazo para a inauguração da nova UPP. Enquanto a nova turma da PM que se forma não chega, o Choque e Bope seguirão na Kennedy com 50 homens cada um.
Disputa entre traficantes
A VK, como é conhecida na abreviação, é a segunda comunidade da zona oeste do Rio de Janeiro a receber uma UPP. Também na região, a favela do Batan foi a segunda a receber uma unidade, ainda em 2008, após o episódio em que jornalistas do diário O Dia foram torturados por milicianos que atuam no local.
Conjunto habitacional inaugurado há cerca de 50 anos, local para onde foram deslocados moradores de favelas em Botafogo, na zona sul, e Maracanã, na zona norte, a Vila Kennedy conta hoje com cerca de 33 mil moradores no total.
Toda a extensão do conjunto de favelas é cortada pela avenida Brasil numa área do Rio de Janeiro tida como rural – há inclusive plantações de banana na região, e muitas matas, esconderijo ideal para os traficantes depositarem armas, drogas e montarem acampamento contra as seguidas operações policiais.
A região é conhecida por ser polo de disputa entre quadrilhas de traficantes rivais que vem aterrorizando os moradores com frequentes tiroteios. Em fevereiro, criminosos da Vila Aliança tentaram invadir a comunidade pela praça da Vila Kennedy. Um intenso tiroteio sucedeu a investida, mesmo com a presença de PMs que já ocupavam o lugar de modo paliativo.
Histórico
A VK é fruto de uma investida do governo dos EUA, nos anos 1960, na tentativa de conter o avanço comunista na América do Sul. Dentro do programa Aliança para o Progresso, o Brasil entrou no financiamento e elegeu a região com quase um milhão de metros quadrados, entre Bangu e Campo Grande, para receber o projeto e acelerar o fim do processo de favelização que se iniciava fortemente na zona sul.
Presidente norte-americano na época, John Kennedy acabou sendo homenageado: a nova comunidade levaria o nome de Vila Esperança, mas com o assassinato do chefe de Estado dos EUA, em Dallas, passou a se chamar Vila Kennedy. A viúva, Jaqueline Kennedy, na ocasião, chegou a escrever inclusive uma carta de agradecimento.