Entre as 16 comunidades que compõem o Complexo de Favelas da Maré, ocupado neste fim de semana pela polícia, um dos pontos mais tensos era a divisa entre as favelas da Baixa do Sapateiro e Nova Holanda. Batizada de Faixa de Gaza, a rua que divide as duas favelas marcava também o limite entre duas das facções rivais que comandavam o complexo. Lá não há uma única casa ou poste sem marcas dos frequentes tiroteios que aconteciam na região.
A rotina de tiroteios criou um tipo específico de construção na rua. Boa parte das fachadas das casas tem a frente reforçada com camadas e camadas de cimento a fim de conter o avanço das balas. C., de 27 anos, mostra a parede da sua sala, caprichosamente pintada de vermelho, em que o buraco de bala mais recente data do mês passado.
“Teve um tiro que chegou a atravessar a parede e bater na janela”, lembra. Segundo ela, em dias de confronto o único lugar seguro para dormir era a escada nos fundos da cozinha, ladeada por um corrimão de cimento.
Nesta segunda-feira os moradores observaram, cautelosos, o trabalho da prefeitura na rua, que trocava lâmpadas e consertava os postes, crivados de balas. O técnico de telefonia aposentado José Marcelo, de 75 anos, diz que desistiu de comprar um ar-condicionado novo quando teve o aparelho atingido por um tiro quinze dias depois da instalação.
“A gente é trabalhador, conhece todo mundo, ninguém mexia com a gente, mas quando eles começavam não tinha o que fazer se não correr. Era tiro para tudo quanto é lado”, diz José.
Ao todo, 130 mil pessoas vivem no bairro, que se espreme entre a Avenida Brasil e a Linha Vermelha, às margens da baía de Guanabara. A ocupação do complexo pela polícia abre espaço para a entrada do Exército no local, que a exemplo do que ocorreu no complexo de favelas do Alemão, permanecerá até a instauração de uma Unidade de Polícia Pacificadora no local.
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Nas pichações do Complexo da Maré é possível notar décadas de domínio do tráfico de drogas. A certeza vem das frases e dos recados ameaçadores que você lê, em bom ou mau português, em paredes de casas e muros da favela
Foto: Mauro Pimentel
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Fonte: Terra