Nos últimos meses, a atuação da Polícia Militar do Rio de Janeiro nas manifestações foi bastante contestada, diante de denúncias de ações abusivas de policiais, e até mesmo da presença de agentes infiltrados que estariam incitando atos violentos. O novo comandante da corporação, coronel José Luís Castro Menezes, avaliou que a atuação da PM vem mudando nos protestos mais recentes, e que a tropa vem buscando encontrar um equilíbrio em meio aos atos. O oficial frisou ser favorável a manifestações, desde que feitas com ordem.
"Temos que ressaltar que é um movimento muito bonito, desconhecido de nós. Não tinha presenciado uma articulação de jovens pela internet, pessoas que acordaram para alguns problemas e resolveram encarar isso de frente. Tem sido um grande aprendizado para nós, e estamos buscando melhorar. O importante é que se mantenha a ordem, e se respeite o direito do restante da população. Manifestar sim, mas com ordem", declarou, em entrevista coletiva na qual foi apresentado pelo secretário estadual de Segurança Pública, José Mariano Beltrame.
Para o coronel Luís Castro, a atuação da PM nos protestos vem mudando, especialmente nos atos mais recentes. Ele mencionou que não vêm sendo observados mais distúrbios desde que a PM alterou a estratégia de atuação, e passou a se posicionar junto aos manifestantes.
"Nas três ou quatro últimas, não tivemos problemas de conflitos. Inserimos PMs fardados dentro dos manifestantes, o que permitiu que grande maioria que não quer desordem pudesse exercer seu direito com segurança. Não queremos jovens saindo de lá machucados, mutilados ou queimados por coquetéis molotov", comentou.
Ao ser questionado sobre a presença de agentes à paisana nos protestos, o secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, negou que os policiais ajam de forma obscura, e demonstrou irritação com a utilização do termo "agentes infilitrados".
"Não há agentes infiltrados, temos observadores. Só há agente só com medida judicial em instituições criminosas. Eles participam de atividades abertas. Temos observadores apenas para identificar pessoas que venham a cometer atos criminosos", salientou.
Protestos contra tarifas mobilizam população e desafiam governos de todo o País
Mobilizados contra o aumento das tarifas de transporte público nas grandes cidades brasileiras, grupos de ativistas organizaram protestos para pedir a redução dos preços e maior qualidade dos serviços públicos prestados à população. Estes atos ganharam corpo e expressão nacional, dilatando-se gradualmente em uma onda de protestos e levando dezenas de milhares de pessoas às ruas com uma agenda de reivindicações ampla e com um significado ainda não plenamente compreendido.
A mobilização começou em Porto Alegre, quando, entre março e abril, milhares de manifestantes agruparam-se em frente à Prefeitura para protestar contra o recente aumento do preço das passagens de ônibus; a mobilização surtiu efeito, e o aumento foi temporariamente revogado. Poucos meses depois, o mesmo movimento se gestou em São Paulo, onde sucessivas mobilizações atraíram milhares às ruas; o maior episódio ocorreu no dia 13 de junho, quando um imenso ato público acabou em violentos confrontos com a polícia.
A grandeza do protesto e a violência dos confrontos expandiu a pauta para todo o País. Foi assim que, no dia 17 de junho, o Brasil viveu o que foi visto como uma das maiores jornadas populares dos últimos 20 anos. Motivados contra os aumentos do preço dos transportes, mas também já inflamados por diversas outras bandeiras, tais como a realização da Copa do Mundo de 2014, a nação viveu uma noite de mobilização e confrontos em São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Salvador, Fortaleza, Porto Alegre e Brasília.
A onda de protestos mobiliza o debate do País e levanta um amálgama de questionamentos sobre objetivos, rumos, pautas e significados de um movimento popular singular na história brasileira desde a restauração do regime democrático em 1985. A revogação dos aumentos das passagens já é um dos resultados obtidos em São Paulo e outras cidades, mas o movimento não deve parar por aí. “Essas vozes precisam ser ouvidas”, disse a presidente Dilma Rousseff, ela própria e seu governo alvos de críticas.