Presos pela Polícia Civil em uma operação contra organização criminosa que aplicava o golpe dos nudes em diversos estados do Brasil, os suspeitos de liderarem o esquema ostentavam uma vida de luxo nas redes sociais. Eles exibiam alta quantia de dinheiro - em real e dólar-, carros luxuosos e armas de fogo.
Em mensagens obtidas na investigação realizada pela Polícia Civil do Rio Grande do Sul, um dos investigados afirmou: "Vou em 30 cara por dia. Nem tráfico dá tanto din do que eu faço. Ganho din deitado (sic)".
Segundo a Polícia Civil, o grupo entrava em contato com homens de classe média-alta por meio de perfis falsos de mulheres jovens, em redes sociais, para obter fotografias das vítimas nuas. A partir de então, as lideranças iniciavam uma série de graves extorsões, passando-se inclusive por delegados de polícia do Rio Grande do Sul.
Durante as investigações, também em troca de mensagens obtidas pela polícia ao qual o Terra teve acesso, um suspeito explicou como funcionava todo o equema do golpe. Ele relatou ter até vídeo de uma mulher em delegacia. Neste vídeo, a moça diz ser mãe da suposta jovem e mostra estar fazendo uma denúncia à polícia contra as possíveis vítimas.
Esse suspeito também afirmou que as contas que passava para o depósito ou PIX ser realizado pelas pessoas que caíam no golpe, eram de laranjas. "É toda uma engenharia social", escreveu.
A Polícia Civil também identificou que os criminosos apresentavam falsas certidões de óbitos das supostas jovens, falsos acordos de tratamento psicológico e também tinham vídeos gravados em uma funerária, já que muitas vezes, após o recebimento de valores, continuavam exigindo dinheiro. Eles alegavam que tinha a necessidade de submeter a jovem a tratamento psicológico.
Em um dos casos analisados pela investigação, eles também exigiam o depósito de valores para o enterro da adolescente afirmando que, em razão dos graves danos psicológicos sofridos, teria atentado contra a própria vida.
Investigação corre há 11 meses
Em coletiva de imprensa, o delegado Rafael Liedtke explicou que as investigações tiveram início há onze meses, com a prisão em flagrante de um suspeito, no município de Cachoeirinha (RS). Com ele foi apreendida uma pistola Taurus calibre .9mm e um veículo Mercedes-Benz, avaliado em R$160 mil.
"O esquema era perfeitamente delineado, com vasto material que auxiliava na ilusão das vítimas e que era transmitido entre os criminosos. Para a produção do material, os investigados inclusive aliciavam adolescentes, que mandavam fotografias, áudios e vídeos sob remuneração e até mesmo sob ameaças", disse Liedtke.
A segunda etapa do esquema era a receptação do produto das extorsões por pessoas também aliciadas pela organização. Essas, posteriormente distribuíam o dinheiro entre laranjas, remunerados pelo grupo criminoso, até que o dinheiro voltasse para os responsáveis pelas extorsões.
Ainda de acordo com o delegado, os valores retornavam para os líderes, sustentando luxos deles e de seus familiares, e também eram distribuídos para outros criminosos, em sua maioria presos e que usavam do dinheiro para obterem regalias nas cantinas dos estabelecimentos prisionais. Além de todos esses crimes, parte do lucro da organização criminosa era usada para o tráfico de drogas e de armas.
Operação e prisão de suspeitos
A Polícia Civil do Rio Grande do Sul, com apoio de policiais civis de Santa Catarina, deflagrou nesta segunda-feira, 29, a Operação Cantina, que resultou na prisão de 33 suspeitos de participar do golpe dos nudes. Segundo a PC-RS, a organização criminosa interestadual é investigada pelos crimes de lavagem de dinheiro, tráfico de drogas, porte ilegal de munições e armas de fogo, extorsões e corrupção de menores.
Além das 33 pessoas presas durante a ação, a polícia também apreendeu veículos, armas de fogo, munições, dinheiro em espécie, entre outros bens. A operação contou com 150 policiais civis dos dois estados e com o apoio aéreo do helicóptero da Polícia Civil gaúcha.
No Rio Grande do Sul, a operação ocorreu nas cidades de Porto Alegre, Canoas, Cachoeirinha, Gravataí, Alvorada, Viamão, Tramandaí e Imbé. Já em Santa Catarina, nos bairros Ingleses e Carianos, localizados na cidade de Florianópolis.
Como os nomes dos suspeitos não foram divulgados, o Terra não conseguiu localizar a defesa deles até a última atualização desta reportagem. O espaço segue aberto para manifestações.