O Vaticano analisa um processo de expulsão do padre Jan van Dael, da congregação dos missionários Sagrado Coração de Jesus (SCJ). Dael é um dos dois padres belgas, acusados de pedofilia naquele país, que trabalham com crianças no Brasil. Dono de um abrigo de adolescentes carentes em Caucaia (CE), “Pai Jan”, como é conhecido pelos menores, foi acusado de abusar de cinco crianças belgas nas décadas de 1970 e 1980, e de também abusar de crianças brasileiras abrigados em sua instituição, chamada Sítio Esperança da Criança, em Caucaia, cidade próxima a Fortaleza.
O outro padre é Marc Filip Dacuypere, o padre Marco, capelão e professor em um colégio católico de ensino regular em Salvador e responsável por uma das paróquias da Arquidiocese da capital baiana. O padre, que já trabalhou em um centro infantil com crianças de dois a seis anos de idade, foi suspenso nesta semana das atividades religiosas pelo bispo de Bruges, Josef De Kesel. Ele está na Bélgica para se explicar a uma comissão da Igreja Católica sobre as denúncias de que teria abusado de um menino e uma menina que eram seus alunos numa instituição da Igreja Católica daquele país na década de 1980.
Os dois padres chegaram a responder pelas denúncias, na Bélgica, entre 2010 e 2011, mas foram liberados devido à prescrição dos crimes pela legislação belga. De volta ao Brasil, onde moravam desde 1990, eles continuaram cuidando das crianças, sem acompanhamento das autoridades civis e religiosas brasileiras, que, apesar de alertadas pela Igreja e por entidades dos Direitos Humanos da Bélgica sobre o perigo que isso representava para as crianças brasileiras, nada fizeram.
Na quinta-feira, o vigário-geral da SCJ, em Roma, John van den Hengel revelou à reportagem do Terra que o padre Jan van Dael está passando por um processo de expulsão, que está em análise pela Congregação da Fé, do Vaticano, entidade que deverá decidir o seu futuro. Hengel explicou que o processo de expulsão foi iniciado depois que padre Jan se recusou a obedecer às exigências da liderança da SCJ, ordem à qual pertence.
Durante as investigações, que tiveram início em maio de 2011 e terminaram no outono de 2013, padre Jan se recusou a cumprir diversas medidas, como instalar conselho de profissionais para cuidar de seu abrigo, melhorar as condições do sítio, fechar o sítio e repassá-lo a uma organização que pudesse administrá-lo melhor e a se mudar para a região Sul do Brasil.
Depois de diversas visitas da liderança da SCJ ao País - nas quais o padre sempre negava as denúncias de abuso contra os adolescentes e a liderança da SCJ constatava as precariedades do sítio -, padre Jan foi convidado a fechar seu abrigo. Mas logo ele reabriu e pediu verbas na Europa para manter sua instituição beneficente, que àquela altura, já não tinha mais cadastro para se manter oficialmente aberta e em funcionamento legal.
“Os religiosos constataram que não havia nenhum programa. A SCJ então decidiu que Jan, devido à sua idade (76 anos) e às precárias instalações do local, deveria fechar a casa, fazer as reformas nas instalações, entregá-la para uma organização que pudesse cuidar das crianças e se mudasse para o Sul do País”, disse Hengel. “A pressão feita pela liderança belga-holandesa da SCJ, fez com que Jan van Dael, em fevereiro de 2013, assinasse um acordo formal para fechar a casa. No entanto, ele não deixou o sítio e ainda começou a abrigar crianças e a solicitar fundos na Europa para apoiar seu abrigo”, contou o vigário-geral.
A reação da SCJ foi ameaçar de expulsá-lo em três cartas enviadas a ele para exigir que deixasse o sítio e fixasse residência no Sul do Brasil. Em uma das cartas, Jan se recusa a aceitar a demanda. A recusa, já no outono (outubro/novembro) de 2013, leva a SCJ a ameaçar Jan com uma demissão formal da congregação, cujo processo foi enviado ao comando da SCJ em Roma.
“Um dossiê foi montado com a carta de demissão, que foi enviado para a Congregação em Roma, que é quem decide sobre a demissão”, contou Hengel. Segundo o vigário-geral da SCJ, o processo do caso, acompanhado de uma carta do Superior Geral da Congregação, foi enviado para a Congregação da Fé, no Vaticano, em janeiro de 2014. Como exige os novos regulamentos que tratam dos supostos casos de abusos, a Congregação da Fé é quem avalia o pedido de expulsão e assim que fizer a avaliação, comunicará sua decisão à SCJ, que ainda não recebeu a resposta da Congregação da Fé.
Conselho fará vistoria
O Conselho Tutelar de Caucaia informou nesta sexta-feira que vai vistoriar na próxima quarta-feira o sítio Criança da Esperança para conferir se a denúncia de abuso sexual contra menores é verdadeira. Segundo o conselheiro James Barros, a denúncia remonta a 2008, quando começou a ser checada. No dia 16 de novembro de 2014, o promotor de Infância e da Juventude, Ronald Fontenelle, pediu ao Conselho que fosse checar novamente as atividades no sítio. “Como era uma denúncia que ainda estava aqui para nós, pedi para que verificasse a veracidade”, afirmou. O promotor disse que recebeu informações de que o sítio está fechado, mas quer a vistoria para que possa comprovar se isso é verdadeiro ou não.