O ato realizado por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na Avenida Paulista, na tarde deste sábado, 7 de setembro, contou com discursos mais duros em relação ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, à própria Corte e ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Ao contrário do ato de fevereiro, quando o ex-presidente barrou a utilização de faixas e cartazes contra as instituições, dessa vez não houve qualquer pedido. O ato recebeu 45 mil pessoas, contra 185 mil das manifestações de fevereiro, segundo o Monitor do debate política no Meio digital da USP.
O próprio Bolsonaro, em seu discurso, foi mais incisivo do que nas ocasiões anteriores, chamando Moraes de ditador e pedindo que se "bote um freio" nas ações do ministro. Além de Bolsonaro, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) também discursou. O prefeito Ricardo Nunes, embora presente, não teve a palavra no evento.
"Devemos botar freio, através dos dispositivos constitucionais, naqueles que saem, que rompem o limite das quatro linhas da nossa Constituição. E eu espero que o Senado Federal bote um freio em Alexandre de Moraes, esse ditador que faz mais mal ao Brasil que o próprio Luiz Inácio Lula da Silva", discursou o ex-presidente, que criticou a condenação que levou à sua inelegibilidade.
Bolsonaro chegou por volta das 14h na Avenida Paulista, em São Paulo, para participar do ato, organizado pelo pastor Silas Malafaia, cujo principal mote foi o impeachment do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes. Mais cedo, Bolsonaro passou mal e precisou ser levado ao hospital, mas compareceu à manifestação e fez um discurso emocionado ao relembrar a facada que sofreu em 2018.
Bolsonaro ainda atacou o ministro Alexandre de Moraes, acusando-o de conduzir as eleições de 2022 de maneira "parcial" e de "escolher seus alvos". "Eles, para evitar que eu tivesse chance de voltar, decretaram a minha inelegibilidade", disse o ex-presidente.
Além do ex-presidente e do próprio Malafaia, diversos outros bolsonaristas marcaram presença no ato, incluindo o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), os senadores Marcos Pontes (PL), Magno Malta (PL-ES), Cleitinho (Republicanos-MG), Eduardo Gomes (PL-TO), Marcos Rogério (PL-RO), e os deputados federais Eduardo Bolsonaro (PL-SP), Zé Trovão (PL-SC) e Sóstenes Cavalcante (PL-RJ).
O governador de São Paulo pediu anistia aos presos pelos atos golpistas de 8 de janeiro, mas não mencionou o Moraes em seu discurso. "A nossa causa hoje é a liberdade, é a anistia para aqueles apenados de forma desproporcional, de forma cruel. Anistia, sim".
As menções ao ministro do STF ficaram a cargo de bolsonaristas, como o deputado federal Nikolas Ferreira, que se referiu ao ministro como um "tirano" e "criminoso", e o pastor Silas Malafaia, que defendeu o impeachment e a prisão de Moraes.
Além das cores verde e amarela já tradicionais em manifestações de direita, os grupos trouxeram, desta vez, cartazes e camisas contra Moraes, o STF e também o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). No último grande ato realizado na Paulista, em fevereiro deste ano, o ex-presidente pediu que os manifestantes não levassem recados nesse sentido. Desta vez, não houve o mesmo pedido e o deputado federal Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) chegou a afirmar ao Estadão que faixas pedindo o impeachment do ministro estavam "liberadíssimas".
Houve desde cartazes improvisados com pedidos de "Fora STF", camisas com imagens simulando o ministro preso e pedidos de anistia para os presos pelos atos golpistas de 8 de Janeiro, quando os prédios dos Três Poderes foram invadidos e destruídos. Também tiveram pedidos de "voto impresso".
A manifestação também foi utilizada por candidatos, inclusive de outras cidades, e seus apoiadores. Em grande destaque entre os produtos vendidos por ambulantes estavam itens com a marca, o número e o rosto de Pablo Marçal (PRTB), candidato à Prefeitura de São Paulo. Ao mesmo tempo, o prefeito Ricardo Nunes (MDB), candidato à reeleição com o apoio oficial de Bolsonaro, esteve presente, embora não houve propaganda dele vista no ato. Já Marçal chegou ao final do ato e caminhou entre os manifestantes.
Como mostrado pelo Estadão, o 7 de Setembro na Paulista tinhado virado uma dor de cabeça para a campanha de Nunes, que temia que Marçal acabe faturando politicamente com o evento.
Bonecos representando Bolsonaro e o ex-presidente norte-americano Donald Trump e até um sósia de Javier Milei com um carro pintado nas cores da Argentina também apareceram no local.
Houve ainda manifestações a favor do empresário Elon Musk. O bilionário dono do X (antigo Twitter) protagonizou um embate com Moraes que levou a plataforma a ser suspensa na dia 30 de agosto, por determinação do ministro. A ordem de suspensão ocorreu após o X fechar seu escritório no Brasil e desobedecer à determinação de que indicasse um representante legal para responder sobre as atividades da empresa em território nacional. A empresa descumpriu uma série de determinações do ministro para bloqueio de perfis e conteúdos com disseminação de discurso de ódio.
No trio elétrico do evento, também discursaram: os deputados federais Bia Kicis (PL-DF), Gustavo Gayer (PL-GO), Julia Zanatta (PL-SC) e o senador Magno Malta (PL-ES). Bia Kicis e Julia Zanatta aproveitaram as falas para criticar Rodrigo Pacheco, dizendo que deputados e senadores irão obstruir todos os trabalhos do Congresso até que Rodrigo Pacheco receba o pedido de impeachment contra Moraes.
Já Gustavo Gayer fez um discurso inflamado e cobrou os parlamentares que não assinaram o pedido de impeachment do ministro e Magno Malta afirmou que há um "consórcio de perversos" no País, referindo-se ao Supremo Tribunal Federal.