'A agenda de Bolsonaro não é a agenda dos bolsonaristas'

Veja entrevista com a cientista política Carolina de Paula, do UERJ

23 out 2021 - 09h04
(atualizado às 09h33)

Para elaborar o estudo "Bolsonarismo no Brasil", pesquisadores ouviram 24 grupos de eleitores de Jair Bolsonaro em 2018, que permanecem fiéis depois da eleição e que já desistiram de segui-lo, e descobriram que eles têm pouco consenso entre si. "Acho que o conservadorismo (no Brasil) é muito menor do que a gente imaginava", conclui a cientista política Carolina de Paula, do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IESP-UERJ).

Como os problemas do governo Bolsonaro impactam os bolsonaristas?

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A pesquisa não tinha foco eleitoral, tinha foco em valores, mas a gente sabe que o voto econômico é importante. Então, a economia com certeza vai ter um peso muito grande nas eleições. A pesquisa mostra que ela repercute mesmo entre os mais fiéis. Vários temas que a gente discute não colam. Mas a questão econômica pega, atinge esse eleitor. Com certeza, o ponto central do Bolsonaro vai ser a agenda econômica.

Bolsonaro, em evento em Brasília
REUTERS/Ueslei Marcelino
Bolsonaro, em evento em Brasília REUTERS/Ueslei Marcelino
Foto: Reuters

A pesquisa focou valores que norteariam os bolsonaristas. Quais seriam os mais fortes?

Quando a gente fala em família, em casamento entre pessoas do mesmo sexo, isso não é consenso. Mas quando a gente fala em família, educação das crianças… Isso sim é um dos valores mais fortes. A corrupção também é uma pauta forte para esse público e que motivou muito o voto em 2018. Quando a gente fez (a pesquisa), não tinha estourado a questão da CPI (da Covid). O que a gente percebe? Para alguns, essa agenda da corrupção foi diminuindo. São aquelas pessoas que deixaram de votar no Bolsonaro e estão aí à procura de um novo nome para 2022. Esses temas são os que mais têm consenso. Por exemplo, na questão do aumento da posse e porte de armas, existe uma tendência maior de ser contra esse aumento, que é uma agenda do Bolsonaro, mas não é uma agenda do eleitor do Bolsonaro. É uma agenda de um público muito restrito.

Parte dos bolsonaristas desiludidos dá sinal de que pode votar no Lula. Por que?

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Eles não encontram um nome alternativo. São, inclusive, pessoas que nunca votaram no PT e dizem que se for agora Bolsonaro e Lula, votam no Lula. Porque é aquela ideia de comparação. Eles não gostam de nenhum dos dois. Se tivesse outro nome seria o que eles gostariam. Especialmente nesse público dos arrependidos. É um público muito ligado à agenda da corrupção, que gosta da Operação Lava Jato, fica triste por ela ter acabado. A ideia é tirar o Bolsonaro.

Foi possível identificar um episódio decisivo para separar os bolsonaristas fiéis dos arrependidos?

Teve dois episódios, a coisa (saída do governo) do Moro e a covid. Covid com certeza também é definitiva para a rejeição dele (Bolsonaro) e para esse público ficar muito frustrado. A gente percebe que são pessoas que o rejeitam e não vão voltar a votar, independente do que for. E a questão da covid bateu muito. As pessoas veem como desrespeito aos mortos.

Como se resumem as conclusões da pesquisa?

Acho que o conservadorismo é muito menor do que a gente imaginava. O Bolsonaro não inventou um novo conservadorismo, aproveitou muito da questão contextual. Ele conseguiu capturar o espírito de 2018, soube trazer para ele o antipetismo. E era uma pessoa muito desconhecida. Agora, quando os eleitores começam a passar por esse momento de crise, começam a avaliá-lo, dizendo que ele não era a pessoa ideal.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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