Abatido, Bolsonaro submerge após derrota e prepara volta como líder da oposição

Aliados comparam a situação de Bolsonaro à do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump

11 nov 2022 - 20h05
(atualizado às 20h15)
Foto: Adriano Machado / Reuters

Abalado após a derrota nas urnas, o presidente Jair Bolsonaro submergiu do cenário político nacional nas duas últimas semanas, mas prepara uma volta como líder da oposição ao governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, com expectativa de se manter presente e ativo em Brasília, segundo três fontes ligadas a ele com quem a Reuters conversou nos últimos dias.

Bolsonaro praticamente não fez aparições públicas e reduziu drasticamente sua presença nas redes sociais desde o revés eleitoral em 30 de outubro. Até esta sexta-feira, conforme sua agenda oficial, foram seis dias sem compromissos e os outros cinco com agendas fechadas com ministros e auxiliares.

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O único momento em que apareceu em público foi na rápida declaração feita no Palácio da Alvorada depois de mais de 44 horas de silêncio desde a derrota nas eleições, em que disse que continuará seguindo os mandamentos da Constituição, mas não reconheceu a vitória de Lula.

Seu outro único pronunciamento foi um vídeo gravado aos caminhoneiros e demais manifestantes bolsonaristas que bloqueavam rodovias do país em protestos que pediam uma intervenção militar para impedir Lula de tomar posse. O presidente pediu que as vias fossem liberadas, mas disse que os protestos eram "do jogo democrático" -- apesar do cunho golpista dos atos.

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O presidente nem sequer comentou o relatório do Ministério da Defesa entregue ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na quarta-feira sobre o processo eleitoral, que era apontado por ele como fundamental para considerar a eleição "limpa". O documento atestou não ter havido fraude nas eleições, mas apontou vulnerabilidades hipotéticas no sistema.

No dia seguinte, na quinta, a própria pasta divulgou nota em que disse --sem apresentar evidências-- não ser possível excluir a possibilidade de fraude ou inconsistência nas urnas eletrônicas e no processo eleitoral. Havia quem dizia, segundo uma das fontes, que essa poderia ser uma última cartada para Bolsonaro questionar as eleições.

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A equipe de comunicação do presidente chegou a pedir para jornalistas se preparem para uma fala de Bolsonaro no Palácio do Alvorada, mas o pronunciamento --que não chegou a ser oficialmente convocado-- não aconteceu. Pela segunda semana seguida, o presidente também não fez sua live semanal das quintas-feiras nas redes sociais.

Aliados que estiveram com Bolsonaro nos últimos dias, segundo as três fontes, têm relatado que ele está abatido, ainda digerindo a derrota nas urnas e o caminho do seu futuro político.

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Um ministro que se encontrou com o presidente disse, reservadamente, que ele está com uma infecção na perna e não pode usar calças, por isso o motivo da reclusão. Outra fonte afirmou que ele teria contraído erisipela.

Procurada, a Secretaria de Comunicação da Presidência não respondeu de imediato a pedido de informação sobre o estado de saúde de Bolsonaro e o motivo de não estar tendo agendas públicas.

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No mundo virtual, ambiente em que tem forte influência e que o ajudou a catapultar ao Palácio do Planalto nas eleições de 2018, o presidente também segue praticamente em silêncio.

Além de não ter feito as lives desde o segundo turno das eleições, Bolsonaro fez apenas três postagens no Facebook, rede social em que tem 15 milhões de seguidores: uma em que postou o pronunciamento do dia 1º de novembro, a outra em que pediu para seus simpatizantes desobstruírem as rodovias e uma terceira em que há uma foto em que agita uma bandeira na frente do Palácio do Planalto.

No Twitter e no YouTube a presença do presidente também diminuiu significativamente.

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MOMENTO DO RETORNO

Entre aliados, segundo as fontes, é tido como certo que Bolsonaro vai retornar à disputa política, buscando antagonizar com a gestão do Lula. A dúvida é sobre quando ele vai reaparecer para valer, se nas próximas semanas ou somente a partir de janeiro, com o petista empossado no Palácio do Planalto.

O cenário para dar um papel de destaque está sendo montado pelo presidente do PL, Valdemar Costa Neto, que anunciou publicamente ter oferecido o cargo de presidente de honra da legenda para Bolsonaro, além de já tê-lo lançado como candidato do partido à Presidência daqui a quatro anos.

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A intenção, segundo duas fontes, é que o futuro ex-presidente conte com uma estrutura de trabalho pelo partido e faça viagens para discutir e manter acesso às propostas dele. Uma das ideias em discussão, conforme uma dessas fontes, é que ele finque base política em Brasília, dando entrevistas, recebendo apoiadores e contestando atos do governo Lula. A retomada do uso das redes sociais também está no radar.

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Há até quem defenda que ele vá rotineiramente ao Congresso Nacional para marcar posição e defender propostas que representem seu partido e manter o contato com os 58 milhões de eleitores que votaram nele no segundo turno, disse essa fonte.

"Valdemar quer aproveitar esse embalo para estruturar o PL em um partido forte e com chances de ganhar em 2026", disse essa fonte.

Aliados comparam a situação de Bolsonaro à do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump, que logo após a derrota para o democrata Joe Biden começou um trabalho para pavimentar a sua candidatura à Casa Branca em 2024, disse outra fonte.

Uma das preocupações, conforme essa fonte, é equilibrar a manutenção do apoio dos simpatizantes do futuro ex-presidente, mantendo a militância bolsonarista mais aguerrida mobilizada, mas sem respaldar e avalizar manifestações e protestos violentos e antidemocráticos. Por isso ele buscou manter uma distância tácita dos bloqueios de caminhoneiros e de apoiadores dele em frente a quarteis pedindo intervenção militar.

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À semelhança de Trump, o receio que perpassa a conversa de pessoas próximas, segundo as fontes, é o risco de que Bolsonaro e filhos dele possam ser presos após o presidente deixar o cargo e perder o foro privilegiado.

A avaliação corrente é que ele pode ficar sujeito a uma decisão de um juiz de primeira instância no caso das apurações que descerem do Supremo Tribunal Federal (STF) ou mesmo de uma medida mais enérgica do STF, notadamente do ministro Alexandre de Moraes, disse uma das fontes. Bolsonaro responde a quatro investigações criminais na corte e alvo de ações no Tribunal Superior Eleitoral.

Contudo, uma detenção de Bolsonaro, ainda que provisória, seria capaz de incendiar o país, avaliou uma segunda fonte, desencadeando uma onda de protestos.

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