O senador Aécio Neves (MG), que será oficializado neste sábado candidato do PSDB à Presidência da República, afirmou em entrevista que a inflação só voltará a ficar no centro da meta, de 4,5 por cento, daqui a dois ou três anos e se comprometeu, se eleito, a fazer um ajuste fiscal sem determinar sua amplitude.
"Não conseguiremos trazer (a inflação para o centro da meta) em 2015. Isso é um projeto que estamos dicustindo com nossa equipe econômica para dois ou três anos", afirmou o tucano em entrevista para a GloboNews, veiculada na noite de sexta-feira.
"Agora, nós vamos focar no centro da meta e não no teto (da meta) como vem fazendo o atual governo", prometeu. A meta de inflação é de 4,5 por cento ao ano, com uma margem de tolerância de 2 pontos percentuais.
Desde o início do governo Dilma, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) gira em torno de 6 por cento. A alta dos preços será um dos trunfos eleitorais de Aécio contra o governo.
Ele admitiu também que as previsões econômicas para 2015 demonstram que "será um ano difícil", mas apostou que uma vitória da oposição dará uma sinalização positiva ao mercado e pode melhorar as expectativas em relação à economia.
"Nosso governo criará um clima mais sereno e adequado no mercado, que será importante para recuperar investimentos e crescer", afirmou Aécio, que confirmou que será necessário fazer um ajuste fiscal no início do governo.
"Ajuste (fiscal) será feito, mas não será feito do dia para a noite e o tamanho dele dependerá do tamanho do atual desmonte que o atual governo vem fazendo", disse.
"Teremos uma política fiscal mais austera que hoje e mais transparente do que é hoje. As pessoas querem voltar a confiar nos números do governo, na política fiscal, nas metas de inflação", argumentou.
Sem se comprometer com valores ou detalhar onde seriam feitos cortes, o senador se comprometeu a manter os programas sociais do governo petista.
Questionado sobre como fará esses ajustes mantendo as políticas sociais, o tucano disse que a chave está no crescimento econômico.
"Nós vamos crescer esse ano 1,8 por cento, isso não é racional. Vamos fazer o país retomar ciclo do crescimento... e é isso que nos permitirá ter uma política fiscal austera", explicou.
Em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto para a corrida presidencial, Aécio disse que ao longo do tempo também pretende limitar o crescimento dos gastos públicos para que eles caibam dentro do crescimento do PIB.
ENERGIA
O pré-candidato tucano afirmou que o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso errou na condução da área energética, quando o país enfrentou um apagão de energia.
"A grande verdade é que naquele tempo nós tínhamos um objetivo que se sobrepunha a todos os outros que era o controle inflacionário. Como fazer planejamento de médio e longo prazo com os índices inflacionários (altos)", argumentou.
"Acho que ficou a marca sim do segundo mandato, do apagão. Foi um momento difícil do governo Fernando Henrique... pode ter errado ali", disse Aécio ao analisar porque a lembrança dos eleitores da gestão tucana é tão ruim nas pesquisas.
Apesar de admitir o erro do PSDB na área energética, Aécio disse que o atual governo teve um período de estabilidade com muitas chuvas e "não houve planejamento". E atacou as medidas adotadas pela presidente Dilma Rousseff para reduzir as tarifas de energia no momento de escassez de chuvas.
Ele disse que a decisão de antecipar a renovação dos contratos de geração de energia já custou "30 bilhões de reais" aos contribuintes e também enviou um sinal errado aos investidores.
Segundo ele, a presidente tomou uma medida que "afugentou os investidores" porque o governo interveio de forma "autoritária" no setor.
O senador mineiro disse que as denúncias de um suposto cartel nas concorrências do sistema de trens e metrôs de São Paulo, que teria envolvido expoentes do seu partido, o incomoda.
"Precisa que sejam comprovadas (as denúncias). Isso nos incomoda? Claro que nos incomoda", afirmou. Esse suposto esquema já está sendo investigado pelos órgãos de controle e estão sob análise do Supremo Tribunal Federal (STF). No Congresso, também foi criada uma CPI para investigar o caso.
MAU HUMOR
Aécio aproveitou o clima de mau humor reinante para dar mais uma estocada na presidente Dilma.
"O Brasil está carrancudo e o Brasil está triste", disse. "O presidencialismo brasileiro é tão imperial, tão forte, que até o mau humor da presidente da República de alguma forma é transmitido para a sociedade."
"Ela está recebendo de volta esse mau humor."
(Reportagem de Jeferson Ribeiro)