Após a gafe da semana passada, na qual chamou nordestinos de "pau de arara" e errou a origem de Padre Cícero, o presidente Jair Bolsonaro (PL) começa nesta terça-feira, 8, uma viagem pelo Nordeste, região que concentra a maior rejeição ao governo e seu pior desempenho nas pesquisas de intenção de voto.
Acompanhado do ministro Rogério Marinho, do Desenvolvimento Regional, o chefe do Executivo cumprirá agenda em Pernambuco, Ceará e Rio Grande do Norte, com foco na tentativa de ampliar a "paternidade" de sua gestão às obras de transposição do São Francisco.
A influência e "paternidade" da megaobra é considerada um ativo eleitoral e, por isso, é disputada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), por Bolsonaro e pelo ex-ministro da Integração Nacional Ciro Gomes (PDT), outro pré-candidato ao Palácio do Planalto. Os três tentam manter as digitais na "chegada das águas ao sertão" - que, porém, só deve ser concluída integralmente em 2024. Ou seja, será uma herança para o próximo presidente.
O ponto alto da agenda de Bolsonaro no Nordeste será a chegada das águas do Rio São Francisco ao Rio Grande do Norte, marcada para esta quarta-feira, 9, às 13h. Os três Estados incluídos na visita (PE, CE e RN) são governados por partidos de esquerda.
Nesta terça-feira, o chefe do Planalto participa do acionamento das bombas da estação do Eixo 3 Norte da transposição do rio na cidade de Salgueiro, localizada no sertão de Pernambuco, às 10h30. Em seguida, às 12h, o mandatário visita a barragem de Jati, no Ceará, para a retomada da liberação das águas para o cinturão do Estado. Evento, aliás, que ocorrerá na rodovia Padre Cícero, figura religiosa de grande devoção no Nordeste, que se destacou no Ceará, no início do século 20, e não em Pernambuco, como afirmou Bolsonaro em live da última quinta-feira.
Na quarta-feira, 9, às 9h30, o presidente estará em Jucurutu, no Rio Grande do Norte, para visitar a barragem de Oiticica e participar da assinatura para a realização da segunda etapa de pavimentação no município. Por fim, também no RN, Bolsonaro verá a chegada das águas do São Francisco ao Estado, em Jardim de Piranhas. O mandatário comentou em entrevista que será recepcionado no município por uma "jeguiata" — semelhante às "motociatas", mas realizada com jegues e outras montarias, em vez de motocicletas.
Aposta
Os bolsonaristas apostam na entrega — ainda que parcial — da transposição para catapultar a imagem do governo. Além do Auxílio Brasil de R$ 400, o governo vê na transposição, que tem forte apelo social, um possível "ponto de virada" para a popularidade de Jair Bolsonaro no Nordeste, principal reduto eleitoral de Lula. Não à toa, o governo colocou a máquina pública para acelerar as construções desde o ano passado. Em meados de outubro passado, por exemplo, o governo criou a Jornada das Águas, roteiro de dez dias de inaugurações e anúncios envolvendo mananciais e cursos d'água, principalmente na bacia do São Francisco.
O remanejamento de águas do São Francisco para áreas de seca no Nordeste foi pensado por Dom Pedro II, mas as obras só começaram efetivamente em 2007, com Lula presidente e Ciro ministro. O projeto de 477 quilômetros está orçado em R$ 12 bilhões.