"Alguém de dentro do Palácio abriu a porta para eles", diz Lula sobre atos golpistas no DF

Em entrevista, Lula declarou também que ficou com "a impressão de que era o começo de um golpe de Estado"

18 jan 2023 - 18h37
(atualizado às 20h18)
"Alguém de dentro do Palácio abriu a porta para eles", diz Lula sobre atos golpistas no DF
"Alguém de dentro do Palácio abriu a porta para eles", diz Lula sobre atos golpistas no DF
Foto: Foto: TV GLOBO

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou, nesta quarta-feira, 18, que houve conivência por parte de autoridades públicas durante os atos golpistas no último dia 8, em Brasília. Lula declarou também que ficou com "a impressão de que era o começo de um golpe de Estado". As declarações foram dadas durante uma entrevista para a GloboNews.

“Eles entraram porque a porta estava aberta. Alguém de dentro do palácio abriu a porta para eles, só pode ter sido. Houve conivência de alguém que estava aqui dentro."

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Quando ficou sabendo da invasão, Lula disse que ligou para o chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), General Gonçalves Dias, perguntando onde estavam os soldados.

“Eu não via soldado. Eu só via gente entrando. Eu não via soldado reagindo, não via soldado reagindo. Sabe? E ele dizia que tinha chamado soldado, que tinha chamado soldado. Ou seja, e esses soldados não apareciam. Eu fui ficando irritado porque não era possível a facilidade com que as pessoas invadiram o palácio do presidente da República."

Após o início dos atos, o presidente contou que conversou com o ministro da Justiça, Flávio Dino. Lula explicou porque recusou a sugestão de auxiliares para adotar a Garantia da Lei e da Ordem (GLO). As operações de GLO são adotadas em situações graves de perturbação da ordem em que se esgotam as possibilidades de ação das forças de segurança pública dos Estados. Essas ações são executadas pelas Forças Armadas.

"Quando fizeram GLO no Rio de Janeiro, o Pezão virou 'Rainha da Inglaterra'. Eu tinha acabado de ser eleito Presidente da República. Eu não ia abrir mão de cumprir minhas funções e exercer o poder na sua plenitude. Por isso, decidimos a intervenção na polícia de Brasília, que tinha sido conivente com o caso. Tinha uma visão minha e de todas as pessoas que houve uma negligência da Polícia Militar de Brasília."

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Críticas a Bolsonaro 

Em outro trecho da entrevista, o presidente falou sobre como o comportamento do ex-presidente Jair Bolsonaro influenciou os atos em Brasília. Lula declarou também que ficou com "a impressão de que era o começo de um golpe de Estado".

“Eu acho que a decisão dele de ficar quieto depois de perder as eleições, semanas e semanas sem falar nada. A decisão dele de tomar a decisão de não passar a faixa para mim, de ir embora para Miami como se estivesse fugindo com medo de alguma coisa e o silêncio dele mesmo depois do acontecimento daqui, me dava a impressão que ele sabia de tudo o que estava acontecendo, que ele tinha muito a ver com aquilo que estava acontecendo."

“Obviamente que quem vai provar isso são as investigações. Mas a impressão que me deixava era essa. Possivelmente esse Bolsonaro estivesse esperando voltar para o Brasil na glória de um golpe. Sabe? E eu, então, não podia permitir GLO. Eu tinha que tomar a decisão política e tomamos a decisão certa”, continuou.

Atos terroristas premeditados e falha na segurança

Ainda de acordo com o presidente, os atos estavam sendo convocados "há mais de uma semana" pelas redes sociais e, por isso, houve uma falha de inteligência para prevenir a invasão.

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"Não foi nenhum analfabeto político que invadiu isso aqui. Era gente que preparou isso durante muito tempo. Eles não tiveram coragem de fazer nada durante a posse. Na verdade, nós cometemos um erro, eu diria elementar: a minha inteligência não existiu. Eu saí daqui na sexta-feira com a informação que tinham 150 pessoas no acampamento, que tava tudo tranquilo, que não iriam permitir que entrasse mais ônibus, que não iriam permitir que juntasse mais ninguém. Eu viajei para São Paulo na maior tranquilidade. E aconteceu o que aconteceu", afirmou.

Apesar das falhas de segurança apontadas, Lula acredita que os envolvidos com os ataques terroristas na capital federal eram pessoas profissionais e preparadas. 

“O dado concreto é que, segundo todo depoimento, as pessoas que vieram aqui eram profissionais. As pessoas que vieram aqui conheciam o Planalto, conheciam a Câmara, conheciam o Judiciário.”

CPI contra golpistas

Lula se mostrou contrário à criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar os atos de vandalismo em Brasília. Segundo o presidente, a CPI poderia causar uma “confusão tremenda”.

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“O que você pensa que a gente vai ganhar com uma CPI? Eu, sinceramente. É uma decisão do Congresso Nacional, não é minha. Portanto, os partidos políticos, na Câmara e no Senado é que vão decidir”, afirmou.

Investigações contra Anderson Torres 

Para Lula, Anderson Torres, ex-ministro da Justiça de Bolsonaro e ex-secretário de Segurança Pública do DF, "sabia o que ia acontecer". Em seguida, o presidente reforçou que Torres será investigado. 

“[Ele] sabia o que ia acontecer, foi embora e quando voltou deixou o celular lá. Pra gente não fazer as investigações. Mas nós vamos fazer as investigações.”

O petista defendeu ainda que todos os envolvidos nos ataques sejam condenados. No entanto, Lula pregou que o inquérito seja conduzido com “muita tranquilidade” para que seja “o mais correta possível”. 

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“Nós vamos apurar com muita paciência. Eu não quero ser precipitado, eu não quero cometer o erro que foi cometido na década de 70 contra a esquerda, que você prendia, torturava, e não nós não vamos fazer nada disso. As pessoas que foram presas vão ser ouvidas, sabe? As pessoas vão ter direito à defesa, sabe? As pessoas vão ser punidas se a gente provar que eles foram culpados”, pontuou.

Forças Armadas

O presidente afirmou que quer se encontrar novamente com os comandantes das Forças Armadas para debater a não politização nas instituições. 

“É preciso que os comandantes assumam a responsabilidade de dizer: o soldado, o coronel, o sargento, o tenente, o general, ele tem direito de voto, ele tem direito de escolher quem ele quiser para votar. Agora, como ele é um cargo de carreira, ele defende o Estado Brasileiro.”

Fonte: Redação Terra
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