ONG de direitos humanos critica falta de conclusões dos órgãos de segurança do Rio de Janeiro após quase quatro meses de investigações e defende especialistas e peritos que não façam parte do aparato estatal. Quase quatro meses após o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do seu motorista Anderson Gomes, há mais dúvidas do que conclusões por parte da Polícia Civil do Rio de Janeiro, que ainda não concluiu o inquérito sobre o caso que chocou o país. Esse cenário de incertezas levou a Anistia Internacional a pedir por uma comissão externa e independente para acompanhar as investigações do assassinato.
A ONG internacional de direitos humanos questiona a falta de conclusões da investigação, mesmo com indícios graves sendo revelados pela imprensa nesse período, como o uso de munição de um lote roubado da Polícia Federal e que o modelo de submetralhadora utilizado na execução seria idêntico ao de um arsenal da própria Polícia Civil do Rio.
Nesse período, a Polícia Civil apenas divulgou que considera que o crime foi doloso, quando há a intenção de matar, descartando a possibilidade de tentativa de assalto.
"Após quatro meses sem solução, a credibilidade do sistema de justiça criminal está em xeque. Está claro que as instituições não têm credibilidade, eficácia, competência ou vontade de resolver o caso", afirmou a diretora de pesquisa da Anistia Internacional, Renata Neder, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo.
Uma comissão externa da Câmara dos Deputados foi criada na época dos assassinatos. O presidente da comissão, deputado Glauber Braga (PSOL-RJ), em nota publicada na quarta-feira (11/07) no portal da Câmara, reforçou as críticas da Anistia Internacional. Ele disse que vários ofícios encaminhados pela comissão aos órgãos de segurança que investigam o duplo homicídio continuam sem respostas.
Renata Neder elogiou a existência de uma comissão da Câmara para acompanhar o caso, mas explicou que a proposta da Anistia é que um grupo de especialistas e peritos que não façam parte do aparato estatal acompanhem as investigações, nos moldes de comissões criadas para investigar execuções na Nicarágua e para acompanhar a apuração do assassinato da líder indigenista Berta Cáceres, em Honduras.
O caso Marielle
Na noite de 14 de março deste ano, o carro onde estava Marielle, Anderson e mais uma assessora sofreu uma emboscada no Centro do Rio de Janeiro, após a vereadora sair de uma reunião de mulheres negras.
Marielle levou quatro tiros na cabeça, e Anderson três balas nas costas. Os dois morreram no local. A assessora foi atingida por estilhaços e teve ferimentos leves. A execução da vereadora, que era uma liderança de comunidades carentes do Rio e voz crítica aos excessos da Polícia, teve repercussão internacional.
O inquérito sobre a morte de Marielle e Anderson segue sob sigilo, e a Secretaria de Estado de Segurança e o Gabinete da Intervenção Federal no Rio não comentaram as declarações, segundo a reportagem do Estado de S. Paulo.