Depois das desistências de cinco pré-candidatos nos últimos dois dias, o PT escolhe nesta sexta-feira, 15, e neste sábado, 16, quem vai representar o partido na disputa pela prefeitura de São Paulo deste ano. A escolha está entre o deputado Alexandre Padilha e o ex-secretário municipal de Transportes Jilmar Tatto. Petistas avaliam que qualquer que seja o escolhido, o partido terá um desempenho inferior ao dos últimos 32 anos, quando sempre chegou em primeiro ou segundo lugar nas eleições paulistanas, e que a forma de escolha põe em risco a unidade do PT.
Em conversas reservadas nas últimas semanas, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu que o partido tem poucas chances de chegar ao segundo turno com qualquer um dos dois pré-candidatos e corre o risco de perder a hegemonia entre o eleitorado de esquerda na maior cidade do país, o que deve ter repercussão nacional.
Segundo interlocutores de Lula, o ex-presidente avalia que o único nome do partido que teria condições de chegar ao segundo turno é o do ex-prefeito Fernando Haddad - de preferência com a também ex-prefeita Marta Suplicy (Solidariedade) como vice.
Como Haddad se negou a disputar a terceira eleição para a prefeitura de São Paulo, Lula decidiu não interferir na disputa interna pois, segundo auxiliares do ex-presidente, considera que nenhum dos demais pré-candidatos tem chance de vitória.
Na quarta-feira, 13, o vereador Eduardo Suplicy, o deputado Paulo Teixeira e o ex-vereador Nabil Bondouki abriram mão de suas pré-candidaturas em apoio a Padilha. A militante Kika Silva abandonou a disputa em nome de Tatto, e o deputado Carlos Zarattini desistiu com duras críticas ao processo de escolha do candidato.
Segundo Zarattini, sem a realização de prévias o processo -- que chamou de "colégio eleitoral" em alusão à eleição indireta de Tancredo Neves em 1985, boicotada pelo PT -- é um "jogo de cartas marcadas" e coloca em risco a unidade do partido.
"A corrente majoritária do partido (Construindo um Novo Brasil, CNB), expressa em sua direção municipal tem um candidato, mas nem por isso dispõe de legitimidade para contrariar o estatuto do partido e impor a sua preferência por meio de um colégio eleitoral (...) se outros pré-candidatos se apresentaram é porque o caminho da unidade precisa ser construído", disse Zarattini, em nota à militância.
A direção municipal do PT decidiu cancelar as prévias para a escolha do candidato por causa da pandemia do novo coronavírus. Em um primeiro momento a escolha seria feita apenas pelos 46 integrantes do diretório municipal, amplamente controlado por Tatto. Diante das reclamações, foram incluídos dirigentes zonais e setoriais aumentando o eleitorado para 615 pessoas.
Segundo o presidente municipal do PT de São Paulo, Laércio Ribeiro, ligado a Tatto, a realização de prévias eletrônicas, como queriam os outros pré-candidatos, é impossível não só por questões tecnológicas (a estimativa é de que mais de 20 mil petistas poderiam votar) quanto pela desatualização do cadastro de filiados.
"Sou completamente favorável à ampla consulta para a escolha do candidato mas neste momento a gente não tem condições de realizar prévias", justificou o dirigente.
Tatto tem a maioria absoluta do PT na capital, mas a escolha de seu nome isolaria o PT na Capital. Padilha tem como trunfo a possibilidade de expandir as alianças do partido. Marta, vista como a vice perfeita, já disse que não aceita ser vice de Tatto, mas sinalizou que poderia conversar com Padilha. Como o voto é secreto, ninguém arrisca prever o resultado.
Lideranças do PT paulistano avaliam que a ausência de prévias enfraquece uma possível candidatura de Tatto. Alguns preveem que o ex-secretário pode ser "cristianizado" (abandonado pelos correligionários) no meio da disputa. Em reuniões, Lula tem dito que sem Haddad o PT pode ser "esmagado" à esquerda pela chapa Guilherme Boulos/Luiza Erundina (PSOL) e ao centro por Márcio França (PSB), que também conversa com Marta. O resultado sai no sábado.