Após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva exigir maior participação dos ministros na articulação política, membros do alto escalão do governo e líderes aliados manifestaram descontentamento com a ausência do presidente nas negociações com o Congresso durante este mandato. As informações são do jornalista Gerson Camarotti, da GloboNews.
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Diferentemente dos dois primeiros governos, entre 2003 e 2010, nos quais Lula mantinha uma comunicação constante com deputados, senadores e ministros, agora há uma percepção de que ele tenha perdido parte do entusiasmo que demonstrava há duas décadas. Até o momento, houve poucas conversas com líderes, e mesmo com os presidentes da Câmara e do Senado, as interações têm sido esporádicas.
A percepção é que há uma diferença entre o empenho de um ministro em aprovar uma matéria ou uma pauta e a abordagem de Lula, que, segundo aliados, tem sido mais distante. Os aliados afirmam que é completamente diferente quando Lula faz ligações ou recebe deputados e senadores para conversas.
Em seus mandatos anteriores, Lula também costumava organizar churrascos na residência oficial da Granja do Torto, reunindo aliados e ministros. O presidente mantinha ainda uma agenda parlamentar praticamente diária com líderes do Congresso.
"Isso fazia toda a diferença", disse um antigo ministro do segundo governo Lula.
No ano passado, há o reconhecimento de que o ministro Fernando Haddad (Fazenda) obteve sucesso ao articular pessoalmente a aprovação não apenas do arcabouço fiscal e da reforma tributária, mas também de outras medidas para aumentar a arrecadação.
Cobranças públicas
Lula mostrou insatisfação com os ministros de seu governo nesta segunda-feira, 22. Durante uma cerimônia de abertura do 'Acredita', um novo programa de renegociação de dívidas, o chefe do executivo cobrou articulação de sua equipe com o Congresso Nacional. Com um tom mais duro, Lula exigiu agilidade do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e chegou até a pedir que Fernando Haddad converse com o Senado e com a Câmara "ao invés de ler um livro".
O presidente ressaltou descontentamento com os ministros e sugeriu mudança de comportamento e prioridades durante o discurso. No entanto, os nomes de Haddad e Alckmin não foram os únicos levantados. Ele também chegou a citar Rui Costa, ministro da Casa Civil, e Wellington Dias, responsável pela pasta de Desenvolvimento e Assistência Social.
"O Alckmin tem que ser mais ágil, tem que conversar mais. O Haddad tem que, ao invés de ler um livro, perder algumas horas conversando no Senado e na Câmara. O Wellington, o Rui Costa, passar maior parte do tempo conversando com bancada A, com bancada B", enfatizou Lula.
A cobrança pública do presidente à equipe vem em um momento em que a articulação política é alvo de críticas no Congresso Nacional. Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara dos Deputados, já chegou a chamar o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, de "incompetente" e disse que ele era seu "desafeto pessoal".
Por conta dos embates com Lira e das críticas ao modo de articulação do governo, Lula organizou uma reunião de emergência com os ministros na última sexta-feira, 19. Agora, o presidente deve se reunir também com o próprio Arthur Lira e com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).