Cerca de 40 manifestantes contrários ao projeto que modifica a meta de superávit foram barrados na manhã desta quarta-feira em um dos acessos principais do Congresso Nacional, em Brasília. O grupo reivindica o direito de entrar nas dependências da casa para acompanhar a sessão, que havia sido marcado para começar às 10h, mas que já estava atrasada.
Na chegada do vice-presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), os manifestantes lançaram gritos de “ditadura! Ditadura”. O petista respondeu: “quanto vocês estão recebendo para estar aqui?”.
Os manifestantes chegaram a conversar com o líder do DEM, Mendonça Filho (PE), que tentou negociar com policiais legislativos. O grupo, porém, foi mantido do lado de fora do Congresso.
Ainda pela manhã, líderes partidários devem se reunir com o presidente do Congresso, Renan Calheiros (PMDB-AL), para definir como será feita a votação dos vetos.
Confusão generalizada
A proibição da entrada dos manifestantes ocorre um dia após uma confusão generalizada nas galerias do Congresso ter interrompido a votação dos vetos. A confusão começou quando Calheiros mandou a polícia do Senado esvaziar as galerias do plenário, e deputados da oposição subiram para dar apoio aos manifestantes.
A decisão de esvaziar as galerias ocorreu quando a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) discursava no plenário da Congresso quando a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) disse ter ouvido os manifestantes chamar a colega de partido de “vagabunda”. Segundo manifestantes, o grito era, na verdade, “vai pra Cuba”.
Deputados da oposição subiram às galerias, espaço destinado para a população acompanhar as sessões, e tentaram evitar a retirada dos manifestantes. Os deputados Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP) e Onyx Lorenzoni (DEM-RS) chegaram a empurrar seguranças na confusão. O parlamentar gaúcho disse ter visto um dos seguranças dar "uma gravata" em uma idosa.
Ruth Gomes de Sá, 79 anos, relatou ter sido arrastada por um dos policiais legislativos. "Eu coloquei o dedo na cara dele, aí eu tomei uma grava e ele me segurou pela cintura e saiu arrastando", contou. Resistente a deixar as galerias do plenário, o professor Alexandre Ângelo Seltz, 27 anos, recebeu um choque na não de um dos policiais enquanto estava sentado em uma das cadeiras.
Enquanto a briga prosseguia nas galerias, deputados discutiam no plenário. "Seu m****", gritou o deputado Amaury Teixeira (PT-BA) para o líder da minoria na Câmara, Domingos Sávio (PSDB-MG).
Chamado de "ditador" pelos manifestantes, Renan deu cinco minutos para os policiais legislativos retirarem as pessoas, mas a confusão durou cerca de uma hora. Com a resistência apoiada por oposicionistas, a sessão ficou suspensa. "Essa obstrução é única no Parlamento. Vinte e seis pessoas presumidamente assalariadas impedindo os trabalhos do Congresso Nacional", disse Renan.