Após o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) rejeitar ação que contestava sua derrota eleitoral no segundo turno, o presidente Jair Bolsonaro convocou uma reunião com os comandantes das Forças Armadas no Palácio da Alvorada, na manhã desta quinta-feira, dia 24. Estiveram presentes também ministros e o candidato a vice-presidente, general Braga Netto.
A reunião não constava da agenda de compromissos de Bolsonaro, que vem se mantendo no Alvorada a maior parte do tempo desde a derrota para o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, em 30 de outubro.
A avaliação de generais do Exército ouvidos pela reportagem é de que o caminho do presidente para contestar a decisão de Moraes, que multou o PL e bloqueou o fundo partidário da sigla e dos aliados Progressistas e Republicanos, é interpor recursos no próprio TSE ou no Supremo Tribunal Federal.
No meio militar, a ação do PL foi vista como uma forma de elevar a temperatura dos atos de viés intervencionista que se acumulam no entorno de quartéis pelo País. Os oficiais militares já esperavam que ela não prosperaria, pois entendem que o argumento principal, a impossibilidade de identificação das urnas, não se sustentava nos fatos.
No entanto, os oficiais-generais mantêm críticas à atuação da Justiça e, sobretudo, de Moraes. Eles entendem que deveria haver uma esforço de comunicação do TSE, para que fosse explicado à população de forma clara e simples, as razões para rejeição da ação e que há segurança no sistema eletrônico de votação.
Integrantes do generalato da ativa afirmam que, em vez de apenas publicar a decisão judicial, as justificativas que a embasaram deveriam ter sido amplamente publicizadas pela equipe técnica da Corte, de forma a dirimir dúvidas e questionamentos.
Na caserna, é majoritário o entendimento de que os manifestantes bolsonaristas não confiam no TSE e consideram a eleição viciada, por atuação que julgam te sido parcial das instâncias superiores do poder Judiciário. Por causa da pecha de golpistas eles passaram a reforçar outras pautas nas manifestações em que ameaçam impedir a posse de Lula e pedem socorro às Forças Armadas. São elas: censura e a ditadura da toga.
Conforme um quatro-estrelas da Força Terrestre, as explicações ajudariam que os manifestantes compreendessem que está tudo certo nas eleições. Segundo ele, "uma coisa é a decisão judicial, e outra, convencer as pessoas".
Desde o resultado das urnas, os comandantes não haviam participado das reuniões no Alvorada. Também não assinaram notas nem o resultado da fiscalização realizada por militares sob a chefia do ministro da Defesa, Paulo Sergio Nogueira de Oliveira. O ministro destacou que não se poderia atestar a segurança das urnas. Seria uma forma de se distanciar e delimitar a ação política.
Por outro lado, generais da ativa disseram, sob reserva, que o sistema se mostrou consistente, e ressaltaram que nenhuma evidência de fraude foi encontrada, nem sequer provada.
Quando assinaram nota a respeito das manifestações, em defesa de que ocorressem dentro da legalidade e com críticas ao que consideram exageros do Judiciário e omissão do Legislativo, os comandantes não citaram o resultado das eleições, porque, segundo oficiais que elaboraram o texto, consideram o processo eleitoral e a transição de governo dentro da normalidade.