O Renan Calheiros (PMDB-AL) que tenta pela terceira vez a Presidência do Senado é diferente daquele eleito dois anos atrás. Se fisicamente a diferença óbvia está no implante de cabelos, no lado parlamentar ele busca uma imagem de lisura que deixe para trás as denúncias dos últimos anos.
Alagoano, de 59 anos, Renan assumiu o comando da Casa em 2013 e logo pôs em prática um discurso de transparência e eficiência nos gastos públicos.
A postura não o imunizou completamente e Renan se viu obrigado, após denúncias publicadas na imprensa por duas vezes, a devolver dinheiro aos cofres públicos por utilizar indevidamente aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) para compromissos particulares --um deles, casamento da filha de um correligionário, no outro, para se submeter ao implante capilar.
Não foram as primeiras vezes que o sobrevivente político enfrentou problemas dessa ordem. Em 2007, viu-se obrigado a renunciar à presidência do Senado após uma crise instalada por denúncias de quebra de decoro parlamentar, mesmo tendo sobrevivido a vários processos de cassação de mandato no Conselho de Ética da Casa e a duas votações de processos que chegaram ao plenário.
O senador deu a volta por cima e elegeu-se novamente presidente do Senado em 2013, após um período de ostracismo, o que não o impediu de articular nos bastidores.
Nem mesmo novos reveses ao longo deste último mandato parecem ter surtido impacto suficiente para abalar sua influência. Mais recentemente, Renan teve seu nome citado durante as investigações de um dos maiores escândalos de corrupção envolvendo a Petrobras. Em nota, no entanto, o presidente do Senado negou e repudiou as "especulações" do ex-diretor.
Antes disso, nas manifestações em junho de 2013 que levaram milhares de brasileiros às ruas, Renan foi um dos alvos da insatisfação popular e não faltaram faixas de "Fora, Renan" nos protestos.
"O Renan é um líder. Demonstrou isso todas as vezes que já foi eleito tanto para o Senado, como para a Presidência do Senado, como para a liderança da bancada de senadores, e agora elegendo o filho em primeiro turno para governador lá em Alagoas, no seu Estado", disse à Reuters o vice-presidente nacional do PMDB, senador Valdir Raupp (RO).
Ao que tudo indica, o político natural de Murici (AL) que iniciou sua atividade política no movimento estudantil --quando cultivou ligações com o então clandestino PCdoB-- deve colecionar mais um triunfo ao eleger-se novamente presidente do Senado e consequentemente do Congresso Nacional.
INDEPENDÊNCIA
Descrito por colegas como um "hábil" e "articulado" negociador, o parlamentar que caminha para o quarto mandato como senador já foi presidente de diretório acadêmico, deputado estadual e deputado federal constituinte.
"Nesses anos conduzindo a presidência ele fez um bom trabalho. Ouviu muito os líderes de bancada, a gente construiu a pauta em conjunto, teve uma postura mais independente", disse o líder da bancada do PT no Senado, Humberto Costa (PT-PE).
Tal independência, aliás, já rendeu dor de cabeça ao Planalto, como na ocasião em que o senador ameaçou colocar em pauta projeto que conferia autonomia formal ao Banco Central. A proposta nunca chegou a ser votada, mas os movimentos de Renan foram interpretados como um recado de insatisfação enderaçado ao governo.
Mais discreto, o senador recentemente manifestou "preocupação" ao governo, no início deste ano, com movimentos que poderiam ser interpretadas como tentativas de enfraquecer o PMDB.
Visto ainda como um político que age de maneira “pragmática”, que não trabalha em “projeto vazio”, o parlamentar consolidou sua carreira transitando livremente entre diferentes grupos políticos, quando instalados no poder.
Apoiou a candidatura de Fernando Collor à Presidência da República em 1989, sendo líder do governo no Congresso quando era filiado ao PRN, mas rompeu com o presidente antes do impeachment que o tirou do Planalto. No governo seguinte, de Itamar Franco, foi executivo de uma subsidiária da Petrobras.
Já como senador pelo PMDB, apoiou o governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), de quem foi ministro da Justiça, mas passou a apoiar o governo Luiz Inácio Lula da Silva após a vitória do petista.
A aproximação maior com o governo Lula se deu no início do primeiro mandato, quando foi relator, em 2003, do projeto que instituiu o programa Bolsa Família.
Sua atuação para estancar a crise do mensalão, esquema de compra de apoio político deflagrado em 2005, ano em que se elegeu presidente do Senado pela primeira vez, o aproximou ainda mais da gestão petista.