Após desgastes, Moro e Bolsonaro trocam elogios em evento

Presidente afirmou mais de uma vez que ministros têm liberdade de buscar soluções e disse que ex-juiz da Lava Jato é "patrimônio nacional"

29 ago 2019 - 15h56
(atualizado às 17h11)

Numa espécie de ato público de desagravo após desentendimentos recentes, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) e o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, participaram nesta quinta-feira, lado a lado, de evento no Palácio do Planalto para lançar uma série de medidas na área de segurança. Em seu discurso, o presidente tratou o auxiliar ­- que chegou a ter o status de "superministro" - como "patrimônio nacional".

O primeiro sinal de reaproximação ocorreu logo no começo do evento. Anunciado pelo cerimonialista, Moro atrasou a sua descida pela rampa do Planalto que leva ao salão do evento para acompanhar Bolsonaro. Na rampa, os dois se abraçaram e foram aplaudidos. Depois, sentaram um ao lado do outro. Os demais ministros desceram separadamente.

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O presidente Jair Bolsonaro ao lado do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro
O presidente Jair Bolsonaro ao lado do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro
Foto: Valter Campanato/Agência Brasil (17/6/2019) / Estadão Conteúdo

"Obrigado, Sérgio Moro. Vossa Senhoria abriu mão de 22 anos de magistratura para não entrar em uma aventura, mas para entrar na certeza de que todos nós juntos podemos, sim, fazer melhor pela nossa pátria", disse Bolsonaro no discurso. O presidente afirmou mais de uma vez que os ministros têm "liberdade". "Eles devem satisfação a vocês, povo brasileiro. Eles têm uma coisa importante: iniciativa. Têm essa liberdade de buscar soluções ao nosso Brasil", disse.

A declaração destoa do tom adotado pelo presidente nos últimos dias ao se referir a Moro. A relação ficou estremecida após Bolsonaro anunciar, em entrevista a jornalistas no dia 15, a troca do superintendente da Polícia Federal no Rio de Janeiro por "questão de produtividade". A declaração surpreendeu a cúpula da PF que, horas depois, em nota, contradisse o presidente ao afirmar que a substituição já estava planejada e não tem "qualquer relação com desempenho".

Nos dias seguintes, Bolsonaro subiu o tom. Declarou que "quem manda é ele" e, se quisesse, poderia trocar o diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, nome de confiança de Moro. Internamente, as "ameaças" do presidente foram vistas como uma tentativa de interferência política no órgão responsável por investigações.

Na semana passada, o presidente chegou a responder irritado a um comentário de internauta de que ele não poderia abandonar Moro. A mensagem dizia: "Jair Bolsonaro, cuide bem do ministro Moro. Você sabe que votamos em um governo composto por você, ele e o Paulo Guedes". Em resposta, escreveu: "Todo respeito a ele, mas o mesmo não esteve comigo durante a campanha, até que, como juiz, não poderia".

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Numa tentativa de contornar a situação, Bolsonaro e Moro se reuniram na terça-feira, fora da agenda. Conforme revelou o Estado, no encontro, falou-se em uma "rede de intrigas" que teria como objetivo desgastar a relação entre os dois. Horas depois, o ministro abriu evento da PF no qual reiterou compromisso com o combate à corrupção e elogiou o diretor-geral, Maurício Valeixo, ameaçado de demissão por Bolsonaro. Mais tarde, também trocaram afagos pelas redes sociais. Moro tuitou que Bolsonaro tem compromisso com o combate à corrupção. O presidente respondeu: "Vamos, Moro!".

As críticas sobre ameaças de interferência de Bolsonaro na polícia eram pontos de desgaste e incômodo do presidente, de acordo com interlocutores. Fontes próximas a Bolsonaro disseram que, antes da reaproximação, ele havia se incomodado com a resistência do ministro a atender algumas das sugestões dele. Os dois lados sempre negaram, contudo, que a relação estivesse próxima de uma ruptura. Bolsonaro e o ministro admitem ainda a pessoas próximas que a saída do titular do Ministério da Justiça e Segurança Pública seria ruim para o governo e o próprio Moro.

Durante o evento desta quinta-feira, o ministro da Justiça também fez acenos ao presidente. Afirmou que o programa para combater a segurança foi desenvolvido com orientações de Bolsonaro. "É certo que não devemos ignorar esforços que governadores e prefeitos estão fazendo, mas é inegável mérito do governo federal e do presidente Jair Bolsonaro", disse.

Programa

O programa lançado hoje por Moro e Bolsonaro, batizado de "Em frente Brasil" prevê a união das forças de segurança municipal, estadual e federal para atacar o problema de violência urbana.

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O projeto-piloto será feito em cinco cidades, uma em cada região do País: Ananindeua (PA), Paulista (PE), Cariacica (ES), São José dos Pinhais (PR) e Goiânia (GO). A ideia é aliar medidas de segurança pública e ações sociais e econômicas.

Moro disse que a concepção do projeto é, além de reduzir crimes violentos, trabalhar de forma preventiva ao melhorar políticas públicas nas cidades. "Também temos de enfrentar causas da criminalidade, eventualmente relacionadas a degradação urbana e abandono", disse.

Moro afirmou que a criminalidade tem caído em ritmo mais rápido no governo Bolsonaro, o que, segundo ele, não tem sido corretamente observado pela imprensa. "Não me lembro de outro período com redução de 20% dos homicídios nos quatro primeiros meses de governo", afirmou.

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