Aposta de Bolsonaro, Tarcísio admite disputar o Senado

Ministro, que nunca concorreu, cogita uma candidatura por um Estado com forte presença do agronegócio

11 set 2021 - 05h11
(atualizado às 08h16)

Citado pelo presidente Jair Bolsonaro como uma possível opção para o governo de São Paulo em 2022, o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, admitiu pela primeira vez, em entrevista ao Estadão/Broadcast, que pode sim entrar na disputa eleitoral, mas não necessariamente para ocupar o Palácio dos Bandeirantes. "Vou caminhar junto com o presidente. Não sei se exatamente num governo de Estado, não sei se exatamente em São Paulo. De repente no Parlamento, de repente em Goiás. Por exemplo, por que não o Senado em Goiás?", afirmou ele, que também mencionou a possibilidade de concorrer por Mato Grosso, dois Estados com os quais o carioca radicado em Brasília não tem qualquer ligação.

O ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas
O ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas
Foto: Fábrio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil / Estadão Conteúdo

O ministro tem marcado presença nas viagens de Bolsonaro pelo País. Nos atos de 7 de Setembro, em quais o presidente ameaçou o Supremo Tribunal Federal e fez discursos com conotação golpista, subiu no carro de som ao lado do chefe tanto em São Paulo quanto em Brasília. Depois do discurso para apoiadores na Avenida Paulista, o presidente passou o microfone diretamente ao auxiliar. "Depois de ouvir o presidente, não tem nem mais o que dizer. Vamos lutar pela nossa liberdade, pela liberdade de empreender, prosperar, de vencer", declarou Tarcísio na capital paulista, aguçando quem aposta na sua candidatura ao governo local.

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Popular nas redes sociais e prestigiado pelo presidente e aliados, Tarcísio se tornou um ativo importante para Bolsonaro, que viu sua aprovação chegar ao patamar mais baixo nos últimos meses. Formado pela Academia Militar das Agulhas Negras, o ministro é responsável por comandar a pasta que entregou algumas das promessas da área de infraestrutura e promoveu uma série de leilões nos últimos anos, acumulando capital político.

Questionado se a radicalização do discurso de Bolsonaro não prejudica a pauta econômica e põe a lista de "realizações" em segundo plano, Tarcísio discordou e colocou o que classifica como avanços na conta do presidente. "Tudo o que aconteceu foi na batuta do presidente. O presidente também vai mostrar isso, saber mostrar isso, e a gente vai caminhar bem", afirmou.

Há meses, Bolsonaro trabalha com a ideia de que Tarcísio pode ser opção para derrotar um candidato lançado por João Doria (PSDB) para a sucessão ao Palácio dos Bandeirantes - o mais cotado hoje é o vice-governador, Rodrigo Garcia (PSDB). À reportagem, no entanto, Tarcísio sinalizou que considera a vaga no Senado um caminho mais interessante.

Goiás e Mato Grosso são citados como opção por serem fortes no agronegócio, umas das bases do bolsonarismo, além de destinos de obras 'cartão de visita' do ministério comandado por Tarcísio, o que poderia ajudá-lo politicamente. Em Goiás, o governo inaugurou novo trecho da Ferrovia Norte-Sul neste ano, e dá o "start" na Ferrovia de Integração Centro-Oeste (Fico), que ligará por trilhos ao Mato Grosso. A pasta também tocou as obras de pavimentação da BR-163, importante para o escoamento de grãos do MT, e tenta tirar do papel a Ferrogrão, outro pleito dos mato-grossenses.

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Segundo o ministro, no entanto, sua eventual candidatura será decidida de acordo com o que "ajudar mais o presidente". "Se ele resolver vir candidato a qualquer local, a decisão é dele, né. Eu gostaria muito que ele viesse. Mas pode ter certeza que se ele vier candidato por São Paulo, ele nem precisa fazer campanha porque, afinal de contas, vão ser os velhos políticos contra o Tarcísio", disse Bolsonaro no fim de julho a um grupo de apoiadores no Palácio da Alvorada.

Tarcísio afirma que quer "continuidade" e, portanto, tem como projeto a reeleição de Bolsonaro. Se concorrer a uma cadeira no Parlamento e vencer, poderia se licenciar para voltar a ser ministro em 2023. Já um eventual governo estadual o afastaria desse cenário.

"É uma possibilidade (se licenciar de um eventual mandato de senador para voltar como ministro). Adoraria ver isso tudo ser concretizado lá na frente. Então me parece ser uma alternativa interessante. Mas sempre na lógica: o que ajuda mais o presidente, onde a gente tem que estar para caminhar junto do presidente? Quais são as melhores combinações de palanque em cada um dos Estados? É essa a melhor combinação que nós temos que buscar", diz o ministro, que foi presidente do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) na gestão de Dilma Rousseff (PT) e atuou na Secretaria Especial do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) durante o governo Michel Temer.

Diferentemente da Câmara, onde tem uma base mais segura, no Senado o governo tem sofrido sucessivas derrotas nos últimos meses, como a derrubada da Medida Provisório que flexibilizava regras trabalhistas. Caso concorra à vaga de senador por Goiás, Tarcísio tentará entrar na vaga hoje ocupada por Luiz do Carmo (MDB-GO), que ganhou o cargo após a eleição de Ronaldo Caiado (DEM) ao governo goiano. Se for por Mato Grosso, o ministro entraria no lugar de Wellington Fagundes (PL-MT), que já declarou a intenção de disputar o Executivo estadual em 2022.

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