App do PSDB foi feito por universidade gaúcha após recusas

Consultadas, as universidades responderam ao PSDB que não conseguiriam entregar um aplicativo tão complexo dentro do prazo estabelecido

22 nov 2021 - 16h27
(atualizado às 16h34)
Aplicativo foi criado para filiados votarem remotamente nas prévias do partido
Aplicativo foi criado para filiados votarem remotamente nas prévias do partido
Foto: PSDB / Divulgação

Quando o PSDB decidiu, em maio, que investiria na criação de um aplicativo para que todos os seus filiados pudessem votar remotamente nas prévias presidenciais da legenda, a ideia causou o primeiro grande atrito interno entre as pré-campanhas dos governadores Eduardo Leite (RS) e João Doria (SP).

Com um histórico de três prévias no maior colégio eleitoral do País, os paulistas viam a proposta com desconfiança, enquanto os gaúchos apostaram que o aparato poderia zerar o jogo.

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Apesar das resistências, o time de Doria, pressionado pela narrativa de que o "voto impresso", uma bandeira bolsonarista, seria um retrocesso, aceitou a criação do modelo inédito na política brasileira. O PSDB, então, abriu um chamamento público e acionou todas as universidades públicas brasileiras.

A USP, a UNICAMP e a UFMG responderam logo que não conseguiriam fazer um aplicativo tão complexo dentro do prazo estabelecido. Apenas a Fundação de Apoio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (FAURGS) aceitou o desafio de criar o app, ao custo de cerca de R$ 1,5 milhão.

A principal preocupação naquele momento não era com a operacionalidade do sistema, mas com a segurança. Por isso, a sigla contratou uma empresa de auditoria, a Kryptus, para detectar eventuais falhas. E ela detectou várias ao longo do processo, o que despertou a desconfiança dos dois lados.

Foi então que o partido criou (mais) uma comissão interna nas prévias com representantes dos pré-candidatos para acompanhar o desenvolvimento do aplicativo. No ambiente interno, além da tensão entre as equipes de Leite e Doria, outro foco se estabeleceu: os técnicos da Kryptus X Faurgs, que atuaram o tempo todo em uma sala lacrada dentro da sede nacional do PSDB, em Brasília.

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Para mediar os conflitos, o presidente do PSDB, Bruno Araújo, contratou um terceiro técnico como consultor para que ele tomasse as decisões finais, como se fosse um VAR no processo. "Foi uma tragédia anunciada. Esse App era temeridade. Virou um mico", disse o tesoureiro nacional do PSDB, César Gontijo, ligado a Doria.

Conforme o Estadão mostrou, desde que a plataforma foi lançada surgiram reclamações relacionadas ao seu funcionamento. Muitos filiados não estavam conseguindo baixar o aplicativo por terem celulares antigos e outros não conseguiam passar do cadastramento.

Na data de votação, 21, a tentativa de mitigar o problema falhou. O processo de votação em aplicativo foi pausado por questões técnicas, porque a plataforma não teria comportado a demanda desde o início do dia e os eleitores não conseguiam acessar a tela de votação dada a lentidão do sistema.

"Não consigo sair da fase de autenticação. Aparece que não estou conectado à internet, sendo que estou", relata o filiado Ícaro Vieira, de 25 anos. "Eu tenho que colocar meu título, tirar uma selfie e validar. Essa validação demora muitos minutos. Depois, o aplicativo me redireciona para a tela em que tenho de colocar o título de eleitor novamente. E assim eu fico várias horas."

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Em nota, a FAURGS afirmou que investiga as causas da instabilidade do aplicativo e que levará o resultado a público. "Ao contrário do que foi especulado, os problemas não têm qualquer relação com a compra de licenças para suportar o reconhecimento facial dos filiados", disse ao pontuar que o número de certificados disponíveis permitiu o cadastramento de 44 mil eleitores.

A Fundação também informou que a segurança do sistema não foi violada e que os votos registrados poderão ser mantidos na retomada da votação.

A data de retomada ainda não foi definida. A decisão sobre o encaminhamento das prévias - quando e como serão finalizadas - é aguardada ainda para esta segunda-feira. As equipes de Doria, com apoio de Virgílio, e Leite divergem sobre esse encaminhamento e estão reunidas com o comando da legenda, a FAERGS e demais empresas envolvidas na votação por meio do app.

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