Araújo diz não ver razões políticas para atraso de insumos

Os atrasos coincidem com ataques do presidente Jair Bolsonaro, ou pessoas próximas do Planalto, a China

18 mai 2021 - 13h17
(atualizado às 13h26)

O ex-chanceler Ernesto Araújo descartou que os atrasos para importação ao Brasil de insumos vindos da China aconteçam por razões políticas. Apesar de o país asiático e aliado na produção de vacinas no Brasil não apontar que essa seja a causa para a demora na remessa de ingredientes necessários para a produção de imunizantes, os atrasos coincidem com ataques do presidente Jair Bolsonaro, ou pessoas próximas do Planalto, ao país.

Ex-chanceler Ernesto Araújo antes de depor na CPI da Covid-19 no Senado, em Brasília 
18/05/2021 REUTERS/Adriano Machado
Ex-chanceler Ernesto Araújo antes de depor na CPI da Covid-19 no Senado, em Brasília 18/05/2021 REUTERS/Adriano Machado
Foto: Reuters

"As alegações de que haveria uma negativa do governo chinês de permitir o fornecimento de vacinas ou insumos por razões políticas pressupõe algo que eu acredito que o governo chinês não é capaz: de negar vacinas que podem salvar vidas por causa de uma interferência política", afirmou Araújo durante depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid no Senado. "Isso pressupõe uma imagem ruim da China com a qual eu não concordo e não temos indício nenhum de que tenha havido essa interferência política".

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O ex-chanceler alegou também desconhecimento sobre outros pontos que podem ter atrasado o início e continuidade da vacinação no País. Araújo afirmou não saber de "nenhuma interferência" dos Estados Unidos para que o Brasil não fizesse a importação de doses da vacina Sputnik V, de origem russa, e disse não ter recebido nenhuma orientação para que rejeitasse parcerias sobre vacinas.

Sobre as revelações feitas pelo ex-secretário de Comunicação do Planalto e empresário Fábio Wajngarten, Araújo disse que teve ciência da oferta de 70 milhões de vacinas por intermédio do embaixador brasileiro em Washington. Segundo o ex-chanceler, além da representação, nenhum membro do governo o procurou para tratar do comunicado.

Queda de patentes

Ernesto Araújo também disse na CPI que, durante sua gestão no Ministério das Relações Exteriores, sua posição com relação à quebra de patentes de vacinas contra covid-19 sempre foi favorável ao consenso da Organização Mundial do Comércio (OMC). O ex-ministro destacou que outras economias emergentes também tiveram a mesma posição.

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Segundo o Araújo, no ano passado havia o entendimento que a proposta da Índia sobre a quebra de patentes das vacinas não avançaria devido à resistência dos Estados Unidos. Questionado, Araújo negou que essa falta de posicionamento teria atrapalhado a relação do País com a Índia na obtenção de vacinas contra covid-19.

O relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL), também questionou Araújo sobre o papel do Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), presidente da Comissão de Relações Exteriores, e do assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Filipe Martins, na condução da política internacional brasileira. Segundo Araújo, os dois atuaram dentro das atribuições de suas funções. Araújo também afirmou que é possível que em alguma reunião sobre vacinas Felipe tenha dado opinião sobre o tema, mas voltou a destacar que o fez dentro de suas atribuições.

Viagem a Israel

A comitiva chefiada por Araújo a Israel também entrou na pauta dos questionamentos dos senadores. Segundo o ex-chanceler, a missão surgiu de uma conversa entre o presidente Bolsonaro e o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu.

Na avaliação de Araújo sobre a missão, os dois medicamentos que motivaram a viagem a Índia tiveram testes promissores, afirmando que o governo brasileiro procurou se antecipar na formação de cooperações que permitam o acesso a medicamentos para possível tratamento contra a covid-19.

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