Atos de 7 de Setembro viram aposta de alto risco

Sob pressão de crises econômica e política, Bolsonaro convoca apoiadores contra o STF

7 set 2021 - 17h06
(atualizado às 17h28)
Jair Bolsonaro durante atos de 7 de Setembro
Jair Bolsonaro durante atos de 7 de Setembro
Foto: Marcos Corrêa / PR

O feriado de 7 de Setembro se tornou a mais elevada aposta política de Jair Bolsonaro desde que assumiu o Palácio do Planalto. Em um momento de isolamento, o presidente acirrou as tensões institucionais ao convocar manifestações de apoio a seu governo e ataques a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Essa é a opinião majoritária de analistas e políticos ouvidos pelo Estadão.

Bolsonaro participou e discursou nos eventos em São Paulo e Brasília. No sentido oposto, grupos de esquerda também programam atos em quase 200 municípios contra o governo, o que motivou autoridades da segurança pública a criarem esquemas inéditos de policiamento para evitar embates entre os manifestantes, especialmente no transporte público.

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Bolsonaro e apoiadores intensificaram a convocação para os atos nos últimos 30 dias após a rejeição da PEC do voto impresso na Câmara dos Deputados. O STF decretou a prisão de bolsonaristas que ameaçaram ministros da Corte. A Procuradoria-Geral da República viu 'levante' em atos convocados por apoiadores de Bolsonaro, que chegou a comparar as manifestações a um 'ultimato' contra os ministros Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso.

O movimento ocorre em um cenário de inflação próxima dos dois dígitos, crise hídrica e risco de racionamento energético, avanço de investigações contra filhos do presidente na Justiça Federal e no Rio, e o Brasil perto da marca de 600 mil mortos pela covid-19.

"Numa dinâmica de apostas, o presidente tem poucas opções no campo da institucionalidade. A não ser que tenha ases nas mangas, que não conseguimos enxergar, sua estratégia é ameaçar virar a mesa. A sociedade parece disposta a pagar para ver", disse o cientista político Carlos Melo.

Em São Paulo, na Avenida Paulista, caravanas de apoiadores vindas do interior e de outros Estados marcaram presença. Tornar o ato 'gigantesco', como foi convocado pelos aliados do presidente, é o ponto central na estratégia de confronto adotada por Bolsonaro. O real impacto da convocação nas ruas em todo o País ainda é incerto. Dados de monitoramento das redes sociais indicam que o assunto está concentrado em determinados perfis, com baixo engajamento fora do campo bolsonarista mais fiel.

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Cientistas políticos veem os atos como parte de uma estratégia de sobrevivência de Bolsonaro, diante da falta de agenda e de propostas para reverter o contexto negativo. "Sem poder agir da maneira que ele gostaria, ele radicaliza", avalia Carolina Botelho, pesquisadora do Laboratório de Neurociência Cognitiva e Social/Mackenzie. José Alvaro Moisés, da USP, afirmou que não foram episódios, como a prisão do ex-deputado Roberto Jefferson e a rejeição do impeachment do ministro Alexandre de Moraes que construíram o contexto dos atos, mas sim, uma forma de fazer política que combina atos, gestos e proclamações públicas que "corroem a democracia por dentro".

"Ao mesmo tempo, em que mobiliza segmentos da sociedade a favor de suas posições para pressionar as instituições democráticas legais e constitucionais, ele pressiona as Forças Armadas para, eventualmente, terem um tipo de participação que extrapole as suas funções constitucionais."

Dirigentes partidários de centro-direita ouvidos pelo Estadão relativizam eventuais ganhos eleitorais do presidente com a aposta no 7 de Setembro. "Não muda nada. Existe uma diferença entre torcedor e eleitor. Quem vai para a rua entrar em uma linha de discurso igual é torcedor", afirmou o presidente do DEM, ACM Neto.

"A população não quer saber quem coloca mais gente na rua. Ela quer saber quem vai resolver o problema do preço do arroz, feijão, da luz, quem vai resolver a vacina, quem vai apresentar as políticas públicas", disse Gilberto Kassab, presidente do PSD.

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