Autor de plano golpista esteve no mesmo local que Bolsonaro em duas ocasiões, aponta PF

Mario Fernandes foi preso nesta terça-feira, 19, na Operação Contragolpe

20 nov 2024 - 10h24
(atualizado às 10h42)
General da reserva Mario Fernandes
General da reserva Mario Fernandes
Foto: Reprodução/Youtube

Apontado como o autor do plano terrorista, o general da reserva Mario Fernandes esteve no mesmo local que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por duas vezes. É o que indica a investigação da Polícia Federal que culminou na Operação Contragolpe, deflagrada nesta terça-feira, 19. 

Fernandes foi um dos presos, pois teria elaborado o documento central intitulado "Punhal Verde Amarelo", que apresenta detalhes de um "planejamento operacional" que visava a execução do então presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, e seu vice, Geraldo Alckmin.

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O relatório da PF aponta que o general, que também atuou no cargo de secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência durante o governo Bolsonaro, esteve pela primeira vez no mesmo local no dia 6 de novembro de 2022, data em teria imprimido o documento “Plj.docx”, às 18h09, possivelmente relacionado ao planejamento de prender e executar Moraes, Lula e Alckmin. 

Para confirmar a localização de Bolsonaro, a investigação usou um grupo chamado “Acompanhamento”, no qual eram repassadas informações sobre a rotina do presidente. Ele foi encontrado no celular de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência. Nesta data, às 17h56, o ajudante de ordens Diniz Coelho relata “PR no Planalto”, sigla usada para identificar o presidente da república. Às 18h31, no mesmo aplicativo de mensagens, foi informado que o ‘PR’ já estava na Alvorada. 

A rede de rádio do Planalto colocou Cid e Rafael Oliveira na mesma localização. “Conforme evidenciado na presente investigação, exatamente no referido período em que MARIO FERNANDES imprime do planejamento operacional, verificou-se que os aparelhos telefônicos dos investigados RAFAEL MARTINS DE OLIVEIRA (JOE) e MAURO CESAR CID estavam conectados a ERBS que cobrem o Palácio do Planalto. Nesse mesmo horário, o então presidente da República, JAIR BOLSONARO também estava no Palácio do Planalto”, destaca a PF. 

Fernandes esteve também no Palácio da Alvorada no dia 8 de dezembro de 2022, chegando às 17h e saindo 40 minutos depois. Nesta data, em conversas interceptadas pela PF, o general indica à Cid ter conversado pessoalmente com Bolsonaro, demonstrando preocupação com os movimentos antidemocráticos que estavam nas ruas, sobretudo com a possibilidade de “perder o controle” das pessoas envolvidas nas manifestações. 

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“Durante a conversa que eu tive com o presidente, ele citou que o dia 12, pela diplomação do vagabundo, não seria uma restrição, que isso pode, que qualquer ação nossa pode acontecer até 31 de dezembro e tudo”, diz em mensagem enviada às 22h56. Neste caso, quando diz vagabundo, refere-se a Lula. 

Em seguida, ele diz que está “tentando agir diretamente junto às forças” e pede para que ele converse com o presidente para que seu gabinete aja.

“Pô, a gente tem procurado orientar tanto o pessoal do agro como os caminhoneiros que estão lá em frente ao QG. E hoje chegou para a gente que parece que existe um mandato de busca e apreensão do TSE, não, do Supremo, em relação aos caminhões que estão lá. Os caras não podem agir, é área militar, mas já andou havendo prisão realizada ali pela Polícia Federal. Então isso seria importante, se o presidente pudesse dar um input ali para o Ministério da Justiça para segurar a PF ou para a Defesa alertar o CMP, e, p*rra, não deixa. Pô, os caminhões estão dentro de área militar, os caras vieram aí, p*rra, estão há 30 dias aí deixando de produzir pelo Brasil e agora vão ter os caminhões apreendidos. Cara, isso é um absurdo. Então, atento a isso, conversa com o presidente, cara”. 

Poucos minutos depois, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro diz que iria conversar com o presidente sobre o assunto.

“O negócio é que ele [Bolsonaro] tem essa personalidade às vezes. Ele espera, espera, espera, espera pra ver até onde vai, ver os apoios que tem. Só que às vezes o tempo tá curto, não dá pra esperar muito mais passar. Dia 12 seria... Teria que ser antes do dia 12, mas com certeza não vai acontecer nada. E sobre os caminhões, pode deixar que eu vou comentar com ele, porque o exército não pode papar mosca de novo, né. É área militar, ninguém vai se meter. Até porque a manifestação é pacífica. Ninguém tá fazendo nada ali”, diz Cid. 

General afirma que Bolsonaro autorizou golpe de Estado, aponta PF
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Já no dia 9, Fernandes envia um áudio para o ex-ajudante de ordens, comemorando que o Bolsonaro aceitou o “nosso assessoramento”, e foi até a frente da Alvorada falar com manifestantes. “Meu amigo, muito bacana o presidente ter ido lá à frente ali do Alvorada e ter se pronunciado, cara. Que bacana que ele aceitou aí o nosso assessoramento. P*rra, deu a cara pro público dele, pra galera que confia, acredita nele até a morte”, afirma. 

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O documento do planejamento do sequestro/morte de Lula, Moraes e Alckmin foi criado no dia 9 de novembro, com o nome “Fox_2017.docx”, às 09h23. Segundo a PF, ele foi modificado às 17h05 daquele dia. Quatro minutos depois da modificação, ou seja, às 17h09, foi impresso o arquivo “Microsoft Word - Plj.docx”, que continha três páginas, exatamente a mesma quantidade do “Fox_2017”, na impressora localizada no gabinete da Secretaria-geral. 

“Sendo assim, pelo brevíssimo decurso de tempo entre a modificação de um arquivo e a impressão de outro (quatro minutos), bem como pela nomenclatura do arquivo impresso fazer referência a uma palavra que define o que seria o conteúdo do arquivo “Fox_2017” (planejamento), possivelmente, o planejamento da operação “Punhal Verde Amarelo” foi impresso no palácio do Planalto”, aponta a PF. 

Quem são os presos

A operação prendeu o general de brigada da reserva Mario Fernandes, e três militares com formação em Forças Especiais (FE), os chamados "kids pretos": o tenente-coronel Helio Ferreira Lima, o major Rodrigo Bezerra Azevedo e o major Rafael Martins de Oliveira.

Na foto: Hélio Ferreira Lima, Mário Fernandes, Rafael Martins de Oliveira e Rodrigo Bezerra de Azevedo
Foto: Reprodução/Polícia Federal

Entre eles, Mario Fernandes é um dos nomes mais conhecidos. Ele ocupou o cargo de secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência durante o governo Jair Bolsonaro e também foi assessor do deputado federal Eduardo Pazuello (PL-RJ), sendo afastado dessa função por ordem do STF.

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O quinto preso foi o policial federal Wladimir Matos Soares. Segundo as investigações da PF, ele passava informações sobre o cotidiano de Lula para pessoas próximas e para Bolsonaro. Como agente da PF em Brasília, Wladirmir tinha acesso fácil a Lula e Alckmin, incluindo detalhes sobre o esquema de segurança que garante a integridade física das autoridades.

PF aponta que plano para matar Lula, Alckmin e Moraes foi impresso no Palácio do Planalto
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Fonte: Redação Terra
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