Autor de tuítes contra Lula, general Villas Bôas vai a todas as posses dos novos comandantes

Ex-comandante do Exército atuou a favor de Bolsonaro e, por diversas vezes, teve atuação política

5 jan 2023 - 17h32
(atualizado às 19h44)
Ministro José Múcio e general Eduardo Villas Bôas na posse da Marinha.
Ministro José Múcio e general Eduardo Villas Bôas na posse da Marinha.
Foto: Reprodução/Twitter/@ECantanhede / Estadão

Autor de postagens do Twitter contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-comandante do Exército Eduardo Villas Bôas completou nesta quinta-feira, dia 5, o circuito beija-mão dos novos comandantes-gerais das Forças Armadas. Eles foram indicados pelo petista. O antigo comandante do Exército compareceu a todas as cerimônias, a despeito de parte de seus seguidores não reconhecer a eleição de Lula e clamar por uma intervenção militar.

Em cadeira de rodas e com aparelhos que facilitam sua respiração, Villas Bôas circulou ao lado da esposa, Cida, no Clube Naval. Ele foi tietado por militares e trocou cumprimentos com autoridades, como o novo comandante da Marinha, almirante Marcos Sampaio Olsen, e o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro.

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Na última terça-feira, dia 2, Villas Bôas foi à Base Aérea de Brasília, assistir à passagem de comando do brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Junior para o atual comandante, brigadeiro Marcelo Kanitz Damasceno.

A primeira aparição foi na passagem de comando do Exército, em 31 de dezembro. Na ocasião, o general Julio César de Arruda recebeu o comando do general Marco Antônio Freire Gomes.

Tradicionalmente ex-comandantes das Forças Armadas e ex-ministros da Defesa são homenageados com posição de destaque, ao lado das autoridades e dos oficiais-generais de quatro-estrelas.

No Quartel-General (QG) do Exército, Villas Bôas ficou posicionado ao lado de Edson Leal Pujol, que o sucedeu nos primeiros anos do governo Jair Bolsonaro e seria demitido pelo ex-presidente, na maior crise militar do governo passado. Após entregar o Comando, em 2019, Villas Bôas ganhou um cargo de assessor especial no Gabinete de Segurança Institucional. Ele foi remunerado até 2022, quando caiu após a imprensa questionar Palácio do Planalto sobre as funções que o general desempenhava.

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Villas Bôas foi comandante-geral do Exército de 2015 a 2019, tendo sido escolhido pela ex-presidente Dilma Rousseff e mantido por Michel Temer.

Em 2018, o comandante-geral usou o Twitter para publicar uma mensagem de cobrança de resposta à impunidade, às vésperas de o Supremo Tribunal Federal julgar um recurso de defesa de Lula e que acabou sendo negado. Dias depois, o petista seria preso na Operação Lava Jato, acusado de corrupção, e impedido de disputar as eleições. Os processos seriam anulados posteriormente.

"Nessa situação que vive o Brasil, resta perguntar às instituições e ao povo quem realmente está pensando no bem do País e das gerações futuras e quem está preocupado apenas com interesses pessoais?", dizia o então comandante, após discussão prévia com integrantes de seu gabinete e do Alto Comando. "Asseguro à nação que o Exército Brasileiro julga compartilhar o anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade e de respeito à Constituição, à paz social e à democracia, bem como se mantém atento às suas missões institucionais."

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Villas Bôas foi diagnosticado em 2016 com ELA (Esclerose Lateral Amiotrófica), uma doença degenerativa. Ele atualmente se comunica por meio de aparelhos e através do olhar. Militares e políticos que convivem com o general dizem que, por causa das limitações da doença, ele tem sido cada vez mais influenciado pela esposa, inclusive nas recentes manifestações por escrito nas redes sociais.

Outrora muito prestigiado, o comandante continua popular nas três Forças Armadas. Suas manifestações alcançam ampla repercussão na direita brasileira. Ele abriu um instituto com seu nome para divulgar ideias conservadoras.

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Às vésperas do segundo turno entre Lula e o ex-presidente Jair Bolsonaro, então candidato à reeleição, o general publicou uma previsão de viés negativo sobre o que esperar de um "governo da oposição". O texto de 29 de outubro, com conjecturas catastróficas, previa: "desmontagem de estruturas produtivas", "aumento do desemprego, compensado por programas sociais demagógicos", "submissão ao globalismo com a consequente perda da identidade nacional", "contaminação ideológica do ensino, impondo verdadeiras perversões às crianças", "relativização da soberania da Amazônia", "natureza acima das pessoas", entre outras.

Após a derrota do aliado Bolsonaro, em 15 de novembro, Villas Bôas endossou "dúvidas" sobre o resultado das eleições, sem qualquer indício de fraude, e elogiou os acampamentos de bolsonaristas, frequentados por extremistas que tentariam um atentado a bomba para impedir a posse de Lula e sitiar a capital federal com ataques a ônibus, carros e à sede da Polícia Federal. Apesar do clamor por um golpe, ostensivo naquela data, Villas Bôas dizia que os atos tinham "ânimo absolutamente pacífico" e pediam "socorro às Forças Armadas". O pedido por si só é amplamente interpretado por juristas como ilegal, por incitar animosidade das Forças Armadas e os poderes.

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"Com incrível persistência, pessoas de de todas as idades, identificadas com o verde e o amarelo que orgulhosamente ostentam, protestam contra os atentados à democracia, à independência dos poderes, ameaças à liberdade e as dúvidas sobre o processo eleitoral", publicou no Twitter. A van que Villas Bôas e sua família usa para deslocamentos passou pelo acampamento no QG e sua mulher acenou aos manifestantes.

Ele veio a público em defesa de generais do Alto Comando, parte deles na lista tríplice sugerida a Lula, que eram atacados pelos bolsonaristas, em ato visto na caserna como operação de uma das alas mais ligadas a generais alinhados a Bolsonaro. Afirmou, então, que o País atravessava um "momento extremo" e que a Força Terrestre poderia "ser instada a agir".

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