Autor de postagens do Twitter contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-comandante do Exército Eduardo Villas Bôas completou nesta quinta-feira, dia 5, o circuito beija-mão dos novos comandantes-gerais das Forças Armadas. Eles foram indicados pelo petista. O antigo comandante do Exército compareceu a todas as cerimônias, a despeito de parte de seus seguidores não reconhecer a eleição de Lula e clamar por uma intervenção militar.
Em cadeira de rodas e com aparelhos que facilitam sua respiração, Villas Bôas circulou ao lado da esposa, Cida, no Clube Naval. Ele foi tietado por militares e trocou cumprimentos com autoridades, como o novo comandante da Marinha, almirante Marcos Sampaio Olsen, e o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro.
Na última terça-feira, dia 2, Villas Bôas foi à Base Aérea de Brasília, assistir à passagem de comando do brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Junior para o atual comandante, brigadeiro Marcelo Kanitz Damasceno.
A primeira aparição foi na passagem de comando do Exército, em 31 de dezembro. Na ocasião, o general Julio César de Arruda recebeu o comando do general Marco Antônio Freire Gomes.
Tradicionalmente ex-comandantes das Forças Armadas e ex-ministros da Defesa são homenageados com posição de destaque, ao lado das autoridades e dos oficiais-generais de quatro-estrelas.
Ministro José Mucio cumprimenta general Eduardo Villas Boas na posse da Marinha. pic.twitter.com/kIunyJHElL
— Eliane Cantanhêde (@ECantanhede) January 5, 2023
No Quartel-General (QG) do Exército, Villas Bôas ficou posicionado ao lado de Edson Leal Pujol, que o sucedeu nos primeiros anos do governo Jair Bolsonaro e seria demitido pelo ex-presidente, na maior crise militar do governo passado. Após entregar o Comando, em 2019, Villas Bôas ganhou um cargo de assessor especial no Gabinete de Segurança Institucional. Ele foi remunerado até 2022, quando caiu após a imprensa questionar Palácio do Planalto sobre as funções que o general desempenhava.
Villas Bôas foi comandante-geral do Exército de 2015 a 2019, tendo sido escolhido pela ex-presidente Dilma Rousseff e mantido por Michel Temer.
Em 2018, o comandante-geral usou o Twitter para publicar uma mensagem de cobrança de resposta à impunidade, às vésperas de o Supremo Tribunal Federal julgar um recurso de defesa de Lula e que acabou sendo negado. Dias depois, o petista seria preso na Operação Lava Jato, acusado de corrupção, e impedido de disputar as eleições. Os processos seriam anulados posteriormente.
"Nessa situação que vive o Brasil, resta perguntar às instituições e ao povo quem realmente está pensando no bem do País e das gerações futuras e quem está preocupado apenas com interesses pessoais?", dizia o então comandante, após discussão prévia com integrantes de seu gabinete e do Alto Comando. "Asseguro à nação que o Exército Brasileiro julga compartilhar o anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade e de respeito à Constituição, à paz social e à democracia, bem como se mantém atento às suas missões institucionais."
Villas Bôas foi diagnosticado em 2016 com ELA (Esclerose Lateral Amiotrófica), uma doença degenerativa. Ele atualmente se comunica por meio de aparelhos e através do olhar. Militares e políticos que convivem com o general dizem que, por causa das limitações da doença, ele tem sido cada vez mais influenciado pela esposa, inclusive nas recentes manifestações por escrito nas redes sociais.
Outrora muito prestigiado, o comandante continua popular nas três Forças Armadas. Suas manifestações alcançam ampla repercussão na direita brasileira. Ele abriu um instituto com seu nome para divulgar ideias conservadoras.
Às vésperas do segundo turno entre Lula e o ex-presidente Jair Bolsonaro, então candidato à reeleição, o general publicou uma previsão de viés negativo sobre o que esperar de um "governo da oposição". O texto de 29 de outubro, com conjecturas catastróficas, previa: "desmontagem de estruturas produtivas", "aumento do desemprego, compensado por programas sociais demagógicos", "submissão ao globalismo com a consequente perda da identidade nacional", "contaminação ideológica do ensino, impondo verdadeiras perversões às crianças", "relativização da soberania da Amazônia", "natureza acima das pessoas", entre outras.
Após a derrota do aliado Bolsonaro, em 15 de novembro, Villas Bôas endossou "dúvidas" sobre o resultado das eleições, sem qualquer indício de fraude, e elogiou os acampamentos de bolsonaristas, frequentados por extremistas que tentariam um atentado a bomba para impedir a posse de Lula e sitiar a capital federal com ataques a ônibus, carros e à sede da Polícia Federal. Apesar do clamor por um golpe, ostensivo naquela data, Villas Bôas dizia que os atos tinham "ânimo absolutamente pacífico" e pediam "socorro às Forças Armadas". O pedido por si só é amplamente interpretado por juristas como ilegal, por incitar animosidade das Forças Armadas e os poderes.
"Com incrível persistência, pessoas de de todas as idades, identificadas com o verde e o amarelo que orgulhosamente ostentam, protestam contra os atentados à democracia, à independência dos poderes, ameaças à liberdade e as dúvidas sobre o processo eleitoral", publicou no Twitter. A van que Villas Bôas e sua família usa para deslocamentos passou pelo acampamento no QG e sua mulher acenou aos manifestantes.
Ele veio a público em defesa de generais do Alto Comando, parte deles na lista tríplice sugerida a Lula, que eram atacados pelos bolsonaristas, em ato visto na caserna como operação de uma das alas mais ligadas a generais alinhados a Bolsonaro. Afirmou, então, que o País atravessava um "momento extremo" e que a Força Terrestre poderia "ser instada a agir".