'Bater só em Bolsonaro foi um erro', diz presidente do PSDB após mau desempenho tucano nas eleições

16 partidos ocupam 'espólio' da sigla, que passou de 523 prefeituras conquistadas em 2020 para 272 neste ano

30 out 2024 - 09h40

Decisões erradas do PSDB nos últimos anos ajudam a entender a expressiva queda que o partido sofreu nas eleições de 2024 na avaliação do presidente tucano, Marconi Perillo. O partido ocupava o quarto lugar no ranking dos que mais elegeram prefeitos há quatro anos, com 532, e em 2024 fez apenas 272, quase a metade. No contexto de polarização entre lulopetismo e bolsonarismo, o ex-governador de Goiás avalia como um dos principais erros a artilharia mirada em Jair Bolsonaro (PL), sobretudo em São Paulo.

"A gente começou a bater só em Bolsonaro e deixamos de bater no PT, que é nosso adversário histórico. Isso incomodou muito nosso eleitor, que então migrou para o bolsonarismo de vez, achando que estávamos fazendo o jogo do PT", disse Perillo ao Estadão. "Bater só em Bolsonaro foi um erro. Acabamos perdendo nosso eleitor mais conservador."

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O dirigente também citou a escolha de não lançar candidatura própria em 2022 como crucial para o declínio da sigla em representação no Congresso Nacional. Os tucanos viveram momento de crise interna depois das prévias em que o ex-governador de São Paulo João Doria (sem partido), à época no PSDB, foi escolhido para disputar a Presidência. Doria venceu, mas desistiu da candidatura tempos depois. Os tucanos, então, decidiram apoiar Simone Tebet (MDB) para a Presidência. "Fomos reduzidos a 13 deputados federais e um senador por conta dos ataques que sofremos em São Paulo. Tem sido uma luta árdua, mas fértil. É hora de recomeçar, percebo um ânimo novo", disse Perillo.

O desempenho do PSDB em 2024 tem sido avaliado a partir dos fracassos em São Paulo: na capital, a candidatura a prefeito de José Luiz Datena ficou mais marcada por uma cadeirada do que pela competitividade ou pela votação obtida no primeiro turno (111.733 votos, 1,84% do total); na Grande São Paulo, a sigla comandará apenas um dos 39 municípios. Por outro lado, o partido comemora vitórias em Pernambuco, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul.

De acordo com Perillo, a ressaca das eleições tem sido um retorno ao planejamento no diretório nacional tucano. Além de avaliar caminhos para atrair novas lideranças competitivas para 2026, o partido terá reuniões para discutir a possibilidade de fusão com outras siglas ou para, ao menos, tentar aumentar a federação hoje formada com o Cidadania.

"Vamos avaliar o que é melhor para o conjunto de partidos menores. Buscaremos, em decisão com o Cidadania, aumentar nossa federação, vamos avaliar se dá para fazer fusão ou se não dá. Isso tudo está no radar", disse o presidente. Possibilidades de fusão vêm sendo discutidas com siglas da centro-esquerda à centro-direita, como o Solidariedade, o PDT e o Podemos.

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Líder do partido na Câmara, o deputado Adolfo Viana (PSDB-BA) afirmou estar confiante de que o aumento do número de siglas dentro da federação com o Cidadania acontecerá em breve. "É um dos caminhos para o desafio do partido de se fortalecer para 2026."

'Espólio' do PSDB se divide entre 16 siglas

Os votos que fizeram o PSDB eleger 523 prefeitos em 2020 se dissolveram neste ano por candidaturas de 16 siglas. Nesses municípios, os tucanos conseguiram manter apenas 24% das prefeituras conquistadas em 2020. Quem mais se beneficiou foi o PSD, que comandará 94 prefeituras onde os tucanos venceram quatro anos atrás. PL, com 59, e União Brasil, com 58, vêm na sequência.

Antes mesmo da eleição deste ano, o número de prefeituras tucanas já era bem menor do que o conquistado em 2020: durante os quatro anos de mandato, sobraram apenas 296 prefeitos do PSDB, debandada tratada como "vendaval" pela direção tucana.

Para o ex-governador de Minas Gerais e deputado federal Aécio Neves (PSDB), a sigla precisa agora manter-se distante da extrema direita e da extrema esquerda. "Temos a oportunidade de reconstruir nossa narrativa, nosso discurso, liderando ou participando de um projeto ao centro, que fuja do radicalismo e dos extremos", afirmou.

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O cientista político Creomar de Souza, da Dharma Politics, vê a sigla em risco de cair em um "ostracismo político" diante da queda de representatividade no País. "O declínio do PSDB tem um componente geracional. A geração que veio depois da geração de fundadores não conseguiu manter os rumos do partido. Em comparação com o que já foi, o PSDB ruma para uma situação de ostracismo político. A saída está em avaliar a perda de lideranças e rever processos de renovação interna."

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