BRASÍLIA - O bloco de apoio à candidatura de Rogério Marinho (PL-RN) ao comando do Senado, formado por PL, PP e Republicanos, quer colar no atual presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), o carimbo de omissão, na tentativa de mostrar que aliados do governo Lula teriam "contribuído" com a depredação do Congresso, no último dia 8, durante atos golpistas em Brasília.
No anúncio da aliança entre os três partidos do Centrão, neste sábado, 28, Marinho defendeu a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar "falhas e omissões" que levaram à destruição dos prédios públicos.
Ex-ministro de Desenvolvimento Regional do governo de Jair Bolsonaro, Marinho disse que não poderia fazer "julgamento prévio" quanto à responsabilidade de Pacheco, mas tentou jogar para o lado do adversário a pecha de não defender as instituições. Candidato à reeleição, Pacheco é favorito na disputa.
Embora Marinho e seus aliados tentem colar nos atuais presidentes de Poderes a responsabilidade pelos atos de vandalismo, foi Bolsonaro quem insuflou setores extremistas durante sua gestão. Como mostrou o Estadão, os radicais que invadiram os prédios do Planalto, Congresso e Supremo Tribunal Federal (STF) reproduziram frases literais ditas pelo ex-presidente. A ofensiva estimulou a base bolsonarista a intensificar investidas contra as instituições e a contestar a vitória de Lula.
Pacheco tem enfrentado intensos ataques de aliados de Bolsonaro nas redes sociais. Desde a tentativa de golpe do último dia 8, porém, seus apoiadores passaram a associar Marinho - que conta com o aval do ex-presidente - à defesa da ruptura.
Temos que defender um legado que não pertence ao governo que se encerrou, mas ao povo brasileiro. Um legado que permitiu que o Brasil terminasse o ano em uma posição melhor que de outros países. Segue
— Rogério Marinho (@rogeriosmarinho) January 28, 2023
Presente à reunião de apoio a Marinho, o senador Flávio Bolsonaro (PL) classificou os acampamentos em frente aos quartéis como "pacíficos" e disse que a atuação dos chefes de Poderes, como Pacheco, colaborou para a crise política.
"Um lado que anuncia uma pacificação e faz outra coisa exclui o outro lado. Rogério Marinho tem o perfil para fazer a pacificação neste País", disse Flávio, pregando que os votos das bancadas do PL, PP e Republicanos, na eleição do próximo dia 1.°, sejam abertos. Atualmente, a votação é secreta.O bloco que sustenta Marinho estima contar hoje com 35 votos e avalia haver 11 senadores em disputa para definir a eleição. Para sair vitorioso, o candidato precisa ter o apoio de 41 dos 81 senadores.
Hoje anunciamos a criação de um bloco no Senado em parceria com o PL e o Republicanos para apoiar a candidatura do senador @rogeriosmarinho à presidência da Casa. Essa não é uma união contra ninguém, mas, sim, a favor do Senado, do Brasil e dos cidadãos de bem do nosso país. pic.twitter.com/MNJGMvAVuX
— Ciro Nogueira (@ciro_nogueira) January 28, 2023
Ex-líder do governo Bolsonaro (PL) no Senado, Carlos Portinho (PL) argumentou que os ataques às sedes dos três Poderes, no dia 8, ocorreram porque "todas as lideranças falharam". Portinho responsabilizou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Pacheco e integrantes do Judiciário por não terem pacificado o País. Além dele, ex-ministros do governo Bolsonaro, como Ciro Nogueira, que foi titular da Casa Civil, e Tereza Cristina, que comandou a Agricultura, estavam no encontro deste sábado para manifestar apoio a Marinho.
A estratégia do bloco de oposição a Pacheco adota o discurso de que é necessário conter o que chama de "excessos" do governo Lula e de setores do Judiciário. Os apoiadores de Marinho também criticam o apoio que o presidente do Senado recebeu de Lula. "Estamos vivendo no Brasil a transição entre dois governos, que poderia ter ares de normalidade, mas, pelos acontecimentos que todos nós assistimos, não é isso que acontece", disse o candidato do PL.
"(A nossa) causa é o resgate da normalidade democrática, do restabelecimento das garantias individuais da sociedade brasileira. O Senado não pode nem deve se omitir. Nós não podemos aceitar a censura prévia por se tornar um valor conquistado na redemocratização do nosso País", emendou Marinho, numa referência às medidas do governo Lula e do Supremo contra a desinformação.
Em nota, Pacheco disse que as declarações do bloco de apoio a Marinho "demonstram afastamento da realidade e desconhecimento do cotidiano da Presidência do Senado, que nunca abriu mão do equilíbrio e da busca pelo diálogo". Pacheco afirmou, ainda, que os atos de vandalismo não ficarão impunes. "Vamos tomar as medidas necessárias contra os golpistas criminosos e aguardar que a Justiça brasileira decida quem são realmente os culpados", destacou.
'Legado'
Ainda neste sábado, 28, Marinho defendeu diversas vezes os "legados" das gestões de Bolsonaro e do ex-presidente Michel Temer (MDB), sobretudo na área econômica. Ele prometeu construir uma agenda liberal e de defesa da liberdade de expressão, caso vença Pacheco na disputa pelo comando do Senado. O senador eleito condenou declarações do petista dizendo que Temer aplicou um "golpe" durante o processo de impeachment que afastou a ex-presidente Dilma Rousseff (PT).
"Uma boa parte desse legado (de Bolsonaro e Temer) está em risco. Nós precisamos fazer o contraponto. Precisamos moderar a avidez e os excessos que nós estamos assistindo daqueles que estão chegando ao governo e no afã de impor a sua agenda estão destruindo as conquistas deste país", afirmou o candidato do PL. "As pessoas querem ter de novo o direito de se expressar, de falar o que pensam, as pessoas estão com medo neste País."
Apesar dos ataques à atuação de Lula e do Judiciário, Marinho disse que a abertura de processos de impeachment contra ministros do Supremo, em especial os endereçados a Alexandre de Moraes, não devem prosperar de imediato se ele vencer a eleição.
O afastamento de Moraes é uma das principais pautas defendidas pelos bolsonaristas, que enxergam no magistrado uma ameaça à liberdade de expressão e aos direitos individuais.