Aliados do presidente Jair Bolsonaro admitem que a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não tem apoio na Câmara para ser instaurada. "Abri a CPI, mas não consegui as 171 assinaturas necessárias. Eu não elejo todos os deputados do Congresso", afirmou no Instagram o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) ao responder a mensagem de uma internauta que cobrou a abertura da comissão.
O deputado Paulo Eduardo Martins (PSC-PR), que presidiu a comissão especial encarregada de analisar o voto impresso, também admitiu a dificuldade em abrir a CPI. "Imagino que muitos (deputados) tenham medo do TSE ou mesmo que não queiram se meter em um assunto que se tornou tão tenso neste momento", disse ao Estadão o deputado bolsonarista.
A tentativa de articular a CPI era um instrumento usado por Bolsonaro contra o presidente do TSE, Luís Roberto Barroso. Em entrevista à rádio Jovem Pan, no último dia 4, o presidente disse que queria a abertura da "CPI das Fake News do Barroso".
Em uma série de declarações contra o TSE e o Supremo Tribunal Federal (STF), Bolsonaro tem afirmado que não haverá eleições em 2022 sem uma mudança que possibilite a impressão do voto. A proposta de emenda à Constituição (PEC) do voto impresso foi rejeitada pela comissão especial e pelo plenário da Câmara. O presidente também acusa Barroso, sem provas nem indícios, de favorecer o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), líder das pesquisas de intenção de voto, na disputa ao Palácio do Planalto.
Em mensagem publicada no Twitter no último dia 5, data em que protocolou o requerimento de criação da CPI, Eduardo Bolsonaro afirmou que fez a solicitação "com base nas graves denúncias de invasão do sistema eleitoral do TSE, escondidas do povo e cujos registros (LOGs) do rastro por onde o hacker passou foram propositalmente deletados". Não há, no entanto, qualquer comprovação de que as urnas tenham sido fraudadas.
Em outro ataque ao STF, Jair Bolsonaro divulgou nas redes sociais no sábado, 14, que vai pedir o impeachment de Barroso e de Alexandre de Moraes, relator do inquérito das fake news, que determinou a prisão do presidente do PTB, Roberto Jefferson, acusado de participar de uma milícia digital que atuava contra as instituições e a democracia. Jefferson é aliado do governo.
Nesta segunda-feira, 16, o presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas), fez críticas indiretas ao comportamento de Bolsonaro. "O Brasil sempre terá no presidente da Câmara dos Deputados um ferrenho defensor constitucional da harmonia e independência entre os Poderes", disse Lira, por meio do Twitter.
O Brasil sempre terá no presidente da Câmara dos Deputados um ferrenho defensor constitucional da harmonia e independência entre os Poderes.
— Arthur Lira (@ArthurLira_) August 16, 2021