BRASÍLIA - Ao entregar para o Centrão uma diretoria do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), órgão com orçamento previsto para este ano de R$ 29,4 bilhões, o presidente Jair Bolsonaro deu sinal claro do enfraquecimento do ministro da Educação, Abraham Weintraub, um dos pilares da chamada ala ideológica do seu governo. A avaliação foi feita por aliados do próprio ministro, que o veem no momento mais frágil desde que assumiu o posto, em abril do ano passado, mesmo tendo o apoio dos filhos do presidente.
Desta vez, porém, Weintraub bateu de frente com Bolsonaro ao questionar a nomeação de indicados pela "velha política". Contrariado, o ministro da Educação, segundo interlocutores, foi reclamar com o presidente por retomar a prática do "toma lá, dá cá", no qual o governo distribui cargos em troca de votos no Congresso. Mas teve que "engolir seco". O presidente se irritou com o subordinado, inclusive o acusando de ter vazado informações sobre a negociação.
Sob pressão de aliados e após sofrer sucessivas derrotas políticas, Bolsonaro passou nas últimas semanas a distribuir cargos a políticos do Centrão para evitar um possível processo de impeachment. Progressistas e Republicanos já haviam sido contemplados com cargos.
Weintraub delegou ao seu secretário executivo, Antonio Vogel, assinar o ato de nomeação no Diário Oficial da União. Procurado, o MEC não esclareceu o motivo. A expectativa é de que nos próximos dias a presidência do FNDE seja entregue a um nome indicado pelo Progressistas, do senador Ciro Nogueira (PI). Há ainda promessa de uma chefia no órgão ao Republicanos, do deputado Marcos Pereira (SP). Os dois políticos são alvo da Lava Jato e já ganharam cargos no governo.
Militares
Mas a fragilidade do ministro não está relacionada apenas à recusa em lotear seu ministério. As falas de Weintraub contra integrantes do Supremo Tribunal Federal (STF) na reunião do dia 22 de abril, a última com o ex-ministro Sérgio Moro, e o impasse sobre o adiamento do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) contribuem para o desgaste.
A interlocutores, o ministro da Educação confidencia estar na mira dos militares do governo, com quem sempre travou disputas e a quem atribuiu a aproximação de Bolsonaro com o Centrão. O entorno do presidente, porém, não enxerga a possibilidade de uma troca no ministério ocorrer em meio à pandemia do coronavírus.
Para pessoas próximas a Weintraub, o grupo ligado às Forças Armadas e o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, teriam convencido Bolsonaro a entregar os cargos no FNDE ao Centrão. A justificativa seria que eles estavam com o DEM, legenda do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ), até dezembro passado. Portanto, não faria diferença entregá-los a outras siglas.
Redes
Em outro revés, o ministro vem sendo pressionado nas redes sociais pelo adiamento do Enem por causa da pandemia do coronavírus.
O argumento é de que a suspensão das aulas prejudica parcela dos alunos mais pobres, que não tem acesso à internet e, com isso, não poderão fazer as provas - marcadas para novembro - nas mesmas condições de estudantes que estão fazendo aulas online. Ontem, a Defensoria Pública da União (DPU) entrou com recurso no Tribunal Regional Federal da 3.ª Região pedindo que a decisão de manter o calendário do exame seja revista.
Monitoramento feito pela AP Exata, empresa que analisa o comportamento de internautas nas redes sociais, indica um desgaste do ministro nas últimas semanas. Inicialmente, a perda de apoio se deu pela pressão para o adiamento do Enem. Na semana passada, uma desastrosa entrevista para a CNN Brasil, na qual destratou a âncora do telejornal, contribuiu para menções negativas. Ontem, as críticas cresceram pelo fato de não ter impedido o governo de entregar cargo no FNDE ao
Centrão. Perfis mais alinhados ao bolsonarismo deixaram de defendê-lo. Na internet, a avaliação é que o ministro não aceitará o acordo com o bloco e deixará o governo.