"Bolsonaro cria espetáculo público para repreender vice"

Cientista político avalia primeiros meses do governo Bolsonaro e influência dos filhos do presidente no governo

27 abr 2019 - 11h16
(atualizado às 12h01)

A interferência do vereador carioca Carlos Bolsonaro (PSC) em questões do governo federal não se trata de uma casualidade. O presidente Jair Bolsonaro se utiliza do filho para “repreender” o vice-presidente Hamilton Mourão, fazendo com que Carlos torne-se um “porta-voz informal” do governo. A análise é do cientista político e professor do Insper Fernando Schüler. Entretanto, o especialista avalia que os demais filhos de Bolsonaro, Eduardo e Flávio, “necessariamente” teriam influência no governo, por serem deputado federal e senador, respectivamente.

Flavio e Carlos Bolsonaro
Flavio e Carlos Bolsonaro
Foto: Adriano Machado / Reuters

Em relação ao desempenho de Bolsonaro nos primeiros meses de governo, o cientista político afirma que o Brasil se tornou um “país autofágico” que prioriza disputas políticas. Para ele, parte da dificuldade do presidente da República em estabelecer articulação com o Congresso se deve pelo fato de que a negociação com a apelidada “velha política” não seria bem recebida pelos eleitores de um candidato que foi escolhido por rechaçar tal prática. Abaixo, leia os principais trechos da entrevista.

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O envolvimento dos filhos do presidente em questões federais voltou à tona com as críticas ao vice Hamilton Mourão por Carlos Bolsonaro. Políticos e especialistas já criticaram tal atuação. Isso tem sido prejudicial?

Os filhos de Bolsonaro são agentes políticos. Um deles é senador (Flávio), outro é o deputado federal mais votado do País (Eduardo). Eles são líderes do partido do governo e da coalizão que está no governo. Logo, eles necessariamente terão influência no governo, goste-se ou não. Caso Ciro Gomes tivesse sido eleito, é presumível que Cid Gomes seria um ator político influente no governo. O caso de Carlos Bolsonaro é diferente.

Parece claro que, tanto no caso da demissão do ministro Bebianno, como agora, no ataque ao general Mourão, ele cumpre o papel de porta-voz informal do presidente. Como o comportamento se repete, é claro que não se trata de uma casualidade, mas de um método. Bolsonaro opta por criar uma espécie de espetáculo público para repreender seu vice-presidente e resolver assuntos que deveriam ser tratados a portas fechadas.

Como avalia a postura do vice-presidente nesse episódio?

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Em relação a Mourão, o erro vem da montagem do governo. O vice deveria ter uma função definida e não ficar vagando por aí, claramente insatisfeito com o tratamento que recebe no governo, buscando alguma mídia e a imagem de "contraponto razoável" ao presidente. Há, na minha visão, um grande erro estratégico aí.

Qual é a sua avaliação a respeito dos primeiros cem dias?

Bolsonaro representa um governo de ruptura, como foram Collor, em 1990, e Lula, em 2003.

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