Bolsonaro deve manter assessores do 'gabinete do ódio'

Grupo comandado pelo vereador do Rio Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) estaria por trás de ataques a adversários nas redes sociais

13 jul 2020 - 05h11
(atualizado às 07h38)

Mesmo após ofensiva do Facebook e o avanço das investigações do Supremo Tribunal Federal (STF) no inquérito das fake news, o presidente Jair Bolsonaro pretende manter em seus postos os principais integrantes do "gabinete do ódio" - como ficou conhecido o grupo de assessores do Palácio do Planalto, comandado pelo vereador do Rio Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), que estaria por trás de ataques a adversários nas redes sociais.

O vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) durante cerimônia de posse do então ministro da Saúde, o oncologista Nelson Teich
O vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) durante cerimônia de posse do então ministro da Saúde, o oncologista Nelson Teich
Foto: Dida Sampaio / Estadão Conteúdo

Na quarta-feira passada, o Facebook derrubou uma rede de 73 contas e perfis ligados a integrantes do gabinete do presidente, a seus filhos, ao PSL e a aliados, por "comportamento inautêntico coordenado". A rede social define regras de conduta que devem ser seguidas pelos usuários, como não usar contas falsas, encobrir a finalidade de uma página, falsificar identidade e aumentar artificialmente a popularidade do conteúdo.

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Bolsonaro se sentiu pessoalmente atingido pela ação, já que a plataforma identificou ao menos cinco funcionários e ex-auxiliares que disseminavam ataques a adversários políticos, além de conteúdo com desinformação. O relatório do Facebook indicou Tercio Arnaud Thomaz, nome de confiança de Carlos Bolsonaro, como um dos responsáveis por movimentar perfis falsos. Tercio é assessor especial do presidente e integra o "gabinete do ódio" ao lado de José Matheus Salles Gomes e Mateus Matos Diniz - a existência do "gabinete do ódio" foi revelada pelo Estadão em setembro passado.

Na live semanal da última quinta-feira, um dia depois da ação do Facebook, Bolsonaro saiu em defesa dos auxiliares e criticou a derrubada de páginas e perfis de aliados, sem se referir diretamente à empresa. "A onda agora é para dizer que as páginas da família Bolsonaro e de assessores, que ganham dinheiro público para isso, promovem o ódio. Eu desafio a imprensa a apontar um texto meu de ódio ou dessas pessoas que estão do meu lado", disse.

Após aliados bolsonaristas serem alvo de mandados de busca e apreensão no inquérito que apura atos antidemocráticos, assessores do presidente foram orientados a moderar suas intervenções nas redes sociais. A avaliação no Planalto é que o presidente vem perdendo seguidores nas redes com o crescimento de seu discurso radical. Segundo interlocutores, o próprio Bolsonaro teria admitido, em conversa com ministros e auxiliares diretos, que essa guerra digital desgastou o governo. No Planalto, a avaliação é a de que o ambiente precisa estar mais sereno.

Chapa

O PT deve solicitar ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), nesta semana, que as informações coletadas pelo Facebook sejam usadas nas ações da Corte, que investigam a campanha de Bolsonaro à Presidência em 2018, e pedem a cassação da chapa.

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Além das ações no TSE, o Planalto enxerga com preocupação a possibilidade de a ofensiva do Facebook reforçar as provas colhidas no inquérito que apura ameaças, ofensas e fake news disparadas contra integrantes do Supremo. Na semana passada, o PSOL pediu ao relator do inquérito, ministro Alexandre de Moraes, que as contas falsas derrubadas sejam investigadas pela Corte.

Em maio, Moraes apontou indícios de que um grupo de empresários atua de maneira velada, financiando a disseminação de fake news e conteúdo de ódio contra integrantes do Supremo e outras instituições. Na ocasião, o magistrado definiu o gabinete do ódio como "associação criminosa". / COLABOROU Rafael Moraes Moura

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